Um guarda municipal de Belo Horizonte, de 47 anos, foi preso por suspeita de matar a esposa, de 50, e forjar uma cena de suicídio. O suspeito alegou que a mulher tinha tirado a própria vida com a arma dele. Os detalhes do caso foram divulgados nessa quarta-feira (17) pela Polícia Civil.
O crime aconteceu na casa do casal no bairro Flamengo, na região de Venda Nova, no dia 4 de abril, mas o suspeito só foi preso na última sexta-feira (12). O delegado Marcos Rios, da delegacia de homicídio de Ribeirão das Neves, responsável pelo caso, explica que a corporação desconfiou de imediato da história contada pelo guarda, mas que inicialmente não tinha provas para prendê-lo. Apenas após o fim das investigações, a corporação encontrou vestígios para indiciá-lo.
“Desde o dia do fato, ao comparecermos no local e a partir das análises iniciais da perícia criminal, percebeu-se que a história narrada pelo esposo da vítima não encontrava amparo na cena do crime. Naquele momento não tínhamos nenhum elemento para poder realizar uma prisão em flagrante, mas investigamos esse caso com muito cuidado. O que nós conseguimos perceber durante a investigação foi que realmente a narrativa não encontrou nenhum amparo no inquérito policial, de maneira que ficou bastante demonstrado para nós que se tratava ali na verdade de um crime de feminicídio”, detalhou.
O que o suspeito contou x o que a investigação descobriu
Segundo o delegado, o suspeito contou que, na noite anterior ao crime, ele teria chegado em casa do trabalho e tomado um refrigerante. O guarda afirmou que a bebida tinha um gosto estranho, e após tomá-la, ele se sentiu tonto e se deitou para dormir.
“Ele conta que apagou por conta desse suposto medicamento que a mulher teria colocado no refrigerante, e que só acordou no outro dia por volta das 14h. Foi quando ele teria encontrado a esposa morta no sofá da sala, com um disparo de arma de fogo na cabeça. O tiro teria sido dado com a arma de fogo dele. Aí ele teria entendido o que aconteceu: ‘Ela me drogou para poder suicidar com a minha arma de fogo’. Essa foi a narrativa dele”, relatou Rios.
Porém, o delegado explica que, apesar do refrigerante realmente estar drogado, com um medicamento controlado, o exame toxicológico do suspeito mostrou que o guarda não estava sobre efeito do remédio. Além disso, outros elementos como a posição da arma de fogo, a posição do disparo e do corpo da vítima também não batiam com a narrativa contada pelo suspeito.
“Esses elementos nos demonstraram que o investigado praticou o crime de feminicídio. O crime teria acontecido por volta das 9h, mas ele disse que tinha acordado por volta das 14h. Ele disse que só depois entrou em contato com parentes, com um advogado, e só acionou a polícia cerca de 40 minutos depois. Então, nós entendemos que, das 9h até às 14h40, ele imaginou que conseguiria criar uma cena, simular um contexto de suicídio. Mas ela não encontrou amparo nenhum nos elementos analisados. Ele acreditou que o mero fato da vítima ter um histórico de depressão seria o suficiente para poder enganar a polícia”, comenta.
Relacionamento era marcado por violências, diz PC
Ainda segundo a Polícia Civil, o relacionamento do casal era marcado por violências. A mulher era vítima de violência psicológica e até física. No ano passado, ela chegou a relatar agressões em um boletim de ocorrência aberto em uma Delegacia de Mulheres.
Além do histórico, na noite anterior ao crime, o casal discutiu. A polícia teve acesso a trechos da briga que aconteceu pelo WhatsApp, mesmo morando juntos. Nas mensagens, o suspeito ordenava que a esposa saísse de casa. Porém, apesar dos elementos, a polícia ainda não afirma ser capaz de determinar se o crime foi premeditado.
Suspeito tentou forjar histórico de pesquisas da esposa
Ainda de acordo com a corporação, na tentativa de simular o auto extermínio da esposa, ele pesquisou no celular dela como manusear uma arma de fogo. Porém, a polícia acredita que tudo foi feito após a mulher já estar morta, apenas com objetivo de enganar os investigadores.
“A vítima não tinha acesso a arma de fogo, nem tinha habilidade com arma de fogo. Então, como que ela se apoderou de uma arma, que no relato dele estava escondida e descarregada? Como que ela conseguiu? No dia dos fatos, ele narrou que tinha encontrado no celular dela um histórico de pesquisa de como mexer naquela arma específica, do modelo e marca iguais a dele. Essa pesquisa teria sido feita naquela manhã, o que nos pareceu muito estranho”, afirma o delegado.
De acordo com Rios, o guarda municipal vai responder por homicídio qualificado, com a qualificadora de feminicídio, em que a pena é de 12 a 30 anos de prisão. Será avaliado ainda se ele responderá pelo crime de fraude processual.
Fonte: Itatiaia