Com 8,5 milhões de vítimas no Brasil, a fome é a principal preocupação da população. Pelo menos essa foi a resposta de 63% dos entrevistados no estudo “A comida que jogamos fora”, feita pela empresa MindMiners. A insegurança alimentar tira o sono de mais pessoas do que o crescimento da violência, por exemplo, conforme o levantamento.

O pensamento, no entanto, não condiz com as ações em um país onde, a cada ano, 55,4 milhões de toneladas de alimentos são jogados fora, segundo o Pacto contra a Fome, instituição não governamental que busca soluções para reduzir a insegurança alimentar. O Brasil, conforme a Organização das Nações Unidas (ONU), é o décimo país que mais desperdiça alimentos no mundo – mais um contraste no país, reconhecido mundialmente por sua vasta produção agrícola, ao mesmo tempo que desperdiça 30% dela, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O quadro de desperdício de alimentos é tão comum pelo mundo que a ONU estabeleceu o dia 29 deste mês como o Dia Internacional da Conscientização sobre Perda e Desperdício Alimentar.

As perdas são diluídas nas diferentes fases da cadeia produtiva. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), na parte da produção, elas ocorrem por colheitas inapropriadas, ataque de pragas, doenças e desastres naturais. “O desperdício está enraizado em toda a cadeia alimentar. No Brasil, um desafio é o transporte de alimentos. Produtos agrícolas precisam de circuitos curtos para evitar perdas, mas as grandes indústrias e supermercados seguem uma suposta rede inteligente que iguala industrializados a alimentos in natura. Assim, o desperdício é nacionalizado”, avalia a especialista em sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (FGV), Jéssica Chryssafidis.

Ainda segundo a Embrapa, quando chega ao consumidor, o alimento também pode ser desperdiçado. Uma das explicações é cultural, devido ao hábito de servir grandes quantidades à mesa. Representante do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas no Brasil, Daniel Balaban explica que há cobrança até por determinada estética do que é consumido. “O supermercado quer alimentos bonitos, então a cenoura deformada, que tem o mesmo sabor, é jogada fora”, explica.

Para evitar o desperdício desses alimentos “rejeitados”, a CeasaMinas (Centrais de Abastecimento de Minas Gerais) gerencia um projeto de um banco de alimentos, o Prodal, que seleciona frutas, verduras e legumes que seriam descartados por questões estéticas. Esses produtos são selecionados, higienizados e distribuídos a instituições que apoiam pessoas em situação de vulnerabilidade econômica.

São doadas 27 toneladas de alimentos por mês para 125 instituições, beneficiando mais de 20 mil pessoas. “É uma ferramenta para atender à população carente, reduzir a perda de alimentos e reduzir o custo de operação”, diz Wilson Guide, economista e gestor do departamento técnico da Ceasa.

Fonte: O Tempo

COMPARTILHAR: