Um metro é a distância entre a porta da casa da vendedora ambulante Cristiane Cardoso de Souza, 35, e a pista da BR-381, na altura do bairro Bom Destino, em Santa Luzia (região metropolitana de BH). A família da vendedora, que tem três filhos, personifica o maior nó rodoviário mineiro que o governo federal tenta desatar.
A duplicação da BR-381, conhecida como “Rodovia da Morte”, é uma promessa do governo federal que se arrasta há 35 anos. Mas para que a obra aconteça, Cristiane e outras 1.749 pessoas têm que ser indenizadas e removidas de imóveis erguidos à beira da estrada. Elas residem no trecho de 40 km que se estende entre Belo Horizonte e Caeté, e que não foi concedido pela União à iniciativa privada.
Ao todo, 300 imóveis devem ser desapropriados. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), responsável pela gestão do trecho, não informa quando as negociações com os moradores vão começar nem a data provável para que as desapropriações sejam concluídas. Em 6 de fevereiro, a União anunciou o início das obras para duplicação no trecho já concedido, que vai de Caeté a Governador Valadares. O percurso entre BH e Caeté foi retirado do leilão justamente por causa do número de desapropriações. Somado, o custo das obras e da remoção de moradores é estimado em R$ 1,3 bilhão.
No início deste mês, durante visita a BH, o ministro dos Transportes, Renan Filho, anunciou o início das negociações para obras nos 40 km da BR-381 que ficarão a cargo do governo federal. Porém, não há qualquer sinal de avanço nas articulações para as realocações, sem as quais, em grande parte do trecho, as obras não podem começar.
Cristiane diz que representantes do Dnit estiveram no Bom Destino e disseram apenas que a família terá que sair de casa. “Não é a primeira vez que vêm aqui, falam que teremos que sair e, depois, nada acontece”, afirma Cristiane, que vive no bairro há 30 anos.
Em Belo Horizonte, moradores da Vila da Luz, na região Nordeste da capital, também aguardam uma definição sobre as desapropriações e indenizações para quem vive às margens da rodovia. As construções da comunidade foram erguidas sobre a área interna de um trevo que fica na junção entre o Anel Rodoviário da capital e a BR-381.
Assim como no trecho de Santa Luzia, as construções precárias foram erguidas sobre área de domínio da rodovia. A dona de casa Imaculada Conceição da Silva, 55, foi uma das primeiras a construir uma casa na vila, que se formou há 20 anos. “Várias vezes, falaram que sairíamos daqui, mas nada aconteceu até agora”, relata a moradora, que criou quatro filhos no local.
Moradores cobram agilidade do governo nas negociações
As últimas informações sobre indenizações e reassentamento da comunidade da Vila da Luz têm chegado via comissão de moradores. A representante do grupo, Viviane Gonçalves de Almeida, dona de um salão de beleza na região, explica que um processo judicial está em curso para intermediar com o governo federal o pagamento de indenizações e os reassentamentos.
Viviane, que mora na vila com o marido e o filho, cobra agilidade nas negociações. “Já perdemos parentes aqui”, diz. “Passamos a vida tendo que atravessar a rodovia”, acrescenta.
Os moradores da comunidade, para frequentar escolas e fazer compras em supermercados e sacolões, por exemplo, têm que atravessar a estrada. Uma passarela, sustentada por andaimes, o que dá à estrutura a impressão de ainda estar em construção, liga a comunidade ao bairro Goiânia, localizado à direita da estrada, no sentido BH/Caeté. Outra passarela liga a vila ao outro lado, onde está o bairro Nazaré. Para acessarem essa estrutura especificamente, os moradores da vila têm que caminhar por até 15 minutos, dependendo do ponto da comunidade onde vivem.
Tanto na Vila da Luz como no bairro Bom Destino, em Santa Luzia, a maior parte das ligações de água e energia elétrica é clandestina. Além disso, há dificuldades em relação à correspondência. Na Vila da Luz, muitos precisam utilizar o endereço de um amigo ou parente para que possam manter, por exemplo, contato com bancos e outras instituições.
Fonte: O Tempo/Por Leonardo Augusto