Pesquisadores da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) desenvolveram uma tecnologia inovadora para identificar a presença de metanol em bebidas alcoólicas, utilizando dois métodos promissores: luz infravermelha e canudos que mudam de cor. O avanço ocorre em um momento crítico, com o Brasil enfrentando uma crescente preocupação com a intoxicação por metanol, substância frequentemente usada em adulterações de bebidas alcoólicas.

Métodos rápidos e eficientes

A principal inovação do estudo é um equipamento que utiliza luz infravermelha para detectar metanol em garrafas lacradas, sem a necessidade de abrir o recipiente. Quando a luz é emitida sobre a garrafa, ela provoca a agitação das moléculas presentes no líquido, e um software especializado interpreta esses dados para identificar substâncias fora da composição original da bebida. Isso inclui o metanol e até a adição de água, usada para diluir o produto e aumentar seu rendimento.

De acordo com o professor David Douglas Fernandes, coordenador da pesquisa, o método já demonstrou uma taxa de acerto de 97% em testes realizados com amostras de cachaça, bebida tradicionalmente consumida na Paraíba. O estudo iniciou em 2023 e já foi publicado em dois artigos na revista Food Chemistry, uma das mais relevantes nas áreas de química e bioquímica dos alimentos.

Usamos 464 amostras de cachaça, as analisamos e depois fizemos a contaminação deliberada com metanol, água e etanol veicular para testar a eficácia do modelo“, explica o professor Félix Brito, outro responsável pela pesquisa. A tecnologia permite identificar adulterações rapidamente, sem a necessidade de produtos químicos, e pode ser aplicada em larga escala para monitorar a qualidade das bebidas alcoólicas.

Canudo colorido e de baixo custo

Além do método baseado em luz infravermelha, os pesquisadores da UEPB também estão desenvolvendo um canudo inovador que muda de cor ao entrar em contato com o metanol. A ideia é simples e de baixo custo: o canudo possui um chumaço de algodão que, ao ser umedecido pelo líquido, reage com um agente indicador presente em sua composição. Se a bebida contiver metanol, o canudo se tornará rosa, permitindo uma identificação instantânea, semelhante ao funcionamento de um teste de gravidez.

Embora esse método requeira que a garrafa seja aberta, o custo reduzido torna-o uma opção viável para consumidores e até para linhas de produção. O canudo também utiliza espectroscopia NIR (Near Infrared) e imagens digitais, tornando o processo ainda mais acessível.

Queremos desenvolver uma versão do canudo para ser usada diretamente pelo consumidor, possibilitando uma análise simples e rápida em qualquer momento. Com isso, a pessoa poderá verificar a qualidade da bebida antes de consumir“, afirma Brito.

Expansão e apoio do governo

A pesquisa é apoiada pela Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba (Fapesq) e envolve a colaboração com a Universidade Federal da Paraíba (UFPB). A criação da tecnologia, além de ter grande potencial no mercado consumidor, também poderia ser utilizada em atividades de vigilância sanitária e fiscalização em grande escala.

Recentemente, os pesquisadores se reuniram com o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, para discutir a possibilidade de expandir a aplicação dessa tecnologia pelo Brasil. Um projeto foi enviado ao Ministério da Saúde, que manifestou apoio ao desenvolvimento do método.

Com o crescente número de casos de intoxicação por metanol no país, como os 200 casos investigados até a primeira semana de outubro, e a já registrada morte de duas pessoas, os pesquisadores esperam que a tecnologia seja adotada em breve para garantir a segurança das bebidas consumidas pela população.

A ideia é distribuir esses equipamentos em todo o Brasil para que, a curto prazo, possamos ajudar a reduzir os casos de intoxicação e prevenir mortes“, conclui o professor Félix Brito.

O avanço dos métodos de detecção de metanol, especialmente com o uso de luz infravermelha e canudos coloridos, representa uma importante inovação na área da segurança alimentar. Com a possibilidade de identificar adulterações em poucos minutos e sem a necessidade de produtos químicos, essas tecnologias podem transformar a forma como as bebidas alcoólicas são monitoradas, oferecendo maior proteção para os consumidores e apoio para as autoridades de fiscalização.

Com informações do jornal O Tempo

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