Objeto vindo de fora do Sistema Solar apresenta coma dominada por dióxido de carbono, em contraste com cometas conhecidos; pesquisadores correm contra o tempo antes de sua passagem pelo Sol.

Desde que foi descoberto em 1º de julho de 2025, o cometa interestelar 3I/ATLAS tem despertado a curiosidade da comunidade científica e do público em geral. Vindo de uma região extrassolar, ele é apenas o terceiro objeto já registrado com essa origem, depois de ‘Oumuamua e do 2I/Borisov. O caráter raro e o mistério sobre sua composição levaram pesquisadores a intensificarem os estudos antes de sua passagem pelo Sol, prevista para outubro deste ano.

Uma das observações mais importantes veio do Telescópio Espacial James Webb (JWST), que identificou uma anomalia na composição do cometa. De acordo com os dados coletados pelo espectrômetro NIRSpec, a coma — a nuvem de gás e poeira que se forma ao redor do núcleo — é dominada por dióxido de carbono (CO₂), com uma proporção de cerca de oito vezes mais CO₂ do que água (H₂O). Trata-se de uma concentração inédita, que supera em mais de seis vezes a variação normalmente observada em cometas do Sistema Solar.

O estudo, ainda não revisado por pares, foi publicado no repositório científico Zenodo. Ele sugere que o 3I/ATLAS pode ter se formado próximo à chamada “linha de gelo de CO₂” em seu sistema de origem — uma região do disco protoplanetário onde o calor da estrela central é baixo o suficiente para permitir a condensação do dióxido de carbono como gelo. Isso indicaria condições de formação planetária muito diferentes das que conhecemos.

Segundo os autores: “Nossas observações são compatíveis com um núcleo intrinsecamente rico em CO₂, o que pode indicar que o 3I/ATLAS contém gelos expostos a níveis mais altos de radiação do que os cometas do Sistema Solar, ou que se formou perto da linha de gelo de CO₂ em seu disco protoplanetário de origem.”

Além da alta concentração de CO₂, o JWST também estimou que o núcleo do 3I/ATLAS mede entre 320 metros e 5,6 quilômetros de diâmetro, com emissão de água (detectada como OH) a distâncias superiores a 450 milhões de quilômetros do Sol. Essas características sugerem que o cometa pode ser um dos mais antigos já observados, com uma possível idade superior a sete bilhões de anos — ou seja, anterior à formação do Sistema Solar.

A descoberta gerou repercussão até mesmo fora da esfera científica. Um artigo não revisado chegou a especular que o 3I/ATLAS poderia ser um artefato alienígena disfarçado de cometa e com intenções hostis. A hipótese foi amplamente rejeitada por especialistas, que a consideraram um desrespeito ao método científico.

Enquanto o cometa viaja a mais de 210 mil km/h, os cientistas correm contra o tempo para realizar mais observações. Uma nova janela para estudos com o James Webb está prevista para dezembro, quando o objeto reaparecerá após sua passagem pelo lado oposto do Sol. As próximas análises devem esclarecer pontos sobre sua formação, composição e trajetória.

As anomalias químicas do 3I/ATLAS reforçam o quanto ainda há por descobrir sobre a diversidade de corpos celestes que circulam no universo — e oferecem uma rara oportunidade de estudar, de perto, os processos de formação de outros sistemas planetários.

Com informações da CNN Brasil

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