Em 28 de janeiro de 1986, o mundo presen ciou uma das maiores tragédias da explora ção espacial. O ônibus espacial Challenger, orgulho do programa norte-americano, explo diu 73 segundos após o lançamento, matando os sete tripulantes — entre eles a professora Christa McAuliffe, que seria a primeira civil a viajar ao espaço. O de sastre, transmitido ao vivo, comoveu milhões e levantou questiona mentos sobre as falhas da missão. Para inves tigar as causas, foi cria da uma comissão oficial que contava com o físico Richard Feynman, ga nhador do Prêmio Nobel e conhecido por sua cla reza científica.

Feynman, famoso por transformar concei tos complexos em ex plicações simples, logo identificou inconsistên cias nos relatórios técni cos da NASA. Enquanto autoridades tentavam justificar o acidente, o físico concentrou-se em um componente peque no, mas crucial: o anel de vedação, ou O-ring, usado nos foguetes au xiliares para evitar vaza mentos de combustível.

Na manhã do lança mento, fazia cerca de -1°C na Flórida — uma temperatura anormal mente baixa. Feynman suspeitou que o frio tivesse comprometido a borracha dos anéis, reduzindo sua flexibi lidade e, consequente mente, sua capacidade de vedação. Para provar isso, ele fez um experi mento simples e memo rável durante uma au diência pública. Diante de engenheiros, políti cos e jornalistas, mer gulhou um pedaço de borracha semelhante ao O-ring em um copo com água gelada. Em poucos segundos, demonstrou que o material enrijecia e perdia a elasticidade. “Quando está frio, não volta à forma origi nal”, explicou.

NASA

O gesto, direto e ir refutável, mostrou que a tragédia resultara de uma falha técnica pre visível. Mais grave ain da, revelou um proble ma de gestão dentro da NASA: relatórios posteriores indicaram que alguns engenheiros haviam alertado sobre o risco de lançar o ôni bus em temperaturas tão baixas, mas foram ignorados por pressão política e pelo desejo de cumprir o cronograma. Com sua postura ética e rigor científico, Ri chard Feynman ajudou a esclarecer as causas da explosão e expôs as con sequências de decisões tomadas com base em imagem e prazos, e não em fatos.

Seu experimento simples com um copo d’água gelada tornou-se símbolo da força da ciên cia diante da burocracia. Ao final da investiga ção, Feynman resumiu sua lição com uma frase que ecoa até hoje entre cientistas e gestores: “Para uma tecnologia bem-sucedida, a reali dade deve prevalecer sobre as relações públi cas, pois a natureza não é enganada.”

 

 

COMPARTILHAR: