Da redação

Em poucas linhas, apresentamos a seguir dados que comprovam que, com alguns anos de antecedência já estávamos sintonizados com o tema da atual Campanha da Fraternidade.

Isto porque o Nova Imprensa, desde a primeira edição que circulou em 28 de fevereiro de 1997, já dava mostras da opção pela escolha de dentre as suas linhas editoriais, dar preferência às matérias relacionadas com a defesa do meio ambiente.

Essa semana, o jornal completou 20 anos de publicações (1046 edições), o que permite a equipe de redação do semanário mencionar, ainda que resumidamente, temas de reportagens/denúncias que certamente contribuíram para o encaminhamento de soluções que de alguma forma cooperaram para o efetivo exercício da defesa ambiental.

Algumas, reconhecemos, só trouxeram resultados mais efetivos a médio e longo prazos, mas, muitas outras, também é verdade, provocaram a intervenção imediata  de agentes ou de órgãos ambientais (Ministério Público, Polícia Ambiental,  Supram, Feam  e outros  órgãos fiscalizadores), fazendo com que as recomendações do Papa Francisco referente à Campanha da Fraternidade 2017 fossem aplicadas desde então.

Comprovando:

Em fevereiro de 1997, na edição número 1, o Nova Imprensa denunciou os problemas ambientais que o município enfrentava, com a baixa violenta do nível da represa de Furnas e que causava a morte prematura de centenas de espécies vivas que dependiam diretamente do lago.

Em novembro de 1998, algumas matérias mostravam que a incipiente indústria turística que começava a se instalar no entorno do Lago de Furnas, já sofria enormes prejuízos com a oscilação violenta da cota. Junto com os graves problemas sócio-econômicos,  era denunciada a mortandade da fauna e da flora que o lago abrigava. Bivalvias e quelônios eram encontrados aos milhares ao longo das margens do lago.

Em agosto de 1999, na edição 130, o jornal entrou firmemente em defesa da não privatização de Furnas, proposta pelo governo Fernando Henrique Cardoso (FHC), somando fileiras com grande parte da imprensa mineira que neste quesito apoiava as atitudes do governador Itamar Franco.

Em setembro de 1999, a capa da edição 134 do jornal, foi reproduzida por órgãos de imprensa de grande circulação no país (Folha de São Paulo e outros) que também denunciavam o crime perpetrado contra Minas Gerais, com o esvaziamento de Furnas, que atendia interesses políticos. A montagem de capa do jornal, anunciando que “Se sertão vira mar, mar também vira sertão”, rodou o mundo.

“Se sertão vira mar, mar também vira sertão”

 

(Imagem Arquivo NI)

Em outubro daquele mesmo ano, o Nova Imprensa cobriu por alguns dias as manobras militares que por ordem do governador Itamar Franco, ocorreram na região de Capitólio, com o objetivo de mostrar ao presidente FHC que Minas não concordava com o que ele pretendia fazer com relação à privatização de Furnas.

Em dezembro de 2000, por três semanas, o jornal fez uma ampla cobertura sobre o ocorrido  no “Encontro Mundial de Barragens”. Nele, o editor responsável, Paulo Coelho, àquela altura atuando também como presidente do Codema local, levou ao conhecimento da importante comissão, dados por ele levantados e que melhor explicavam as intenções do governo federal com relação ao futuro de Furnas. Aspectos sócio-econômicos e o grave crime ambiental em marcha embasaram a denúncia. Assim sendo,  a tese defendida pelo jornal, obteve o apoio de diversos participantes do evento internacional, dentre estes o do  Professor Luiz Pinguelli Rosa, vice-diretor da Coordenação de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da UFRJ. Em determinado trecho da fala dele, o professor disse: “(…) outra observação importante é sobre a narrativa do companheiro da cidade de Formiga, que mostrou a situação na região, pois isto reflete uma má operação dos reservatórios. Todos os reservatórios do nosso sistema integrado aqui no Sudeste e Centro-Oeste são mal operados porque não há equipamentos. Não é possível, infelizmente, substituir as turbinas por outras menores para gerar mais energia. A água que está lá é aquela que vai gerar energia. Não dependerá do calibre da turbina. O problema é que não há água. E o companheiro tem toda razão, não há água só porque não chove, não há, porque o reservatório foi mal operado. Por que foi mal operado? Porque está desotimizado todo o sistema, por falta de novos equipamentos. As termoelétricas estão extremamente atrasadas, e adotou-se portanto, nitidamente, uma tática de esvaziar-se os reservatórios”.

É claro que dali em diante, o jornal não se cansou de denunciar e se movimentar neste mesmo sentido.

Em 2001, com auxilio do Ministério Público e do Codema, conseguiu um laudo assinado pelo biólogo consultor, Manoel Pereira de Godoy, professor de história natural da cidade de Pirassununga/SP, que demonstrou em minucioso trabalho por ele realizado que cerca de 20 espécies de peixes de escamas; de couro e/ou de placas, desapareceram uns, e se tornaram raros, outros, na bacia do Rio Grande, a partir da criação do Lago de Furnas. À época, o jornal questionou se teria ou não ocorrido um crime ambiental, sob o patrocínio do próprio governo?

Ainda em  março de 2001, na edição 1011, em face do esvaziamento vertiginoso do lago, o jornal denunciou e disto resultou uma ação dos municípios lindeiros contra Furnas, a formação de milhares de pequenas poças d’água e de extensa área em brejos, facilitando a proliferação de mosquitos o que poderia ter dado causa ao maior surgimento da dengue na região.

E hoje?

Bem, como a história se repete, embora 20 anos tenham se passado, o Nova Imprensa constata que hoje a situação do Lago de Furnas, infelizmente, não está muito diferente.

Segundo informações do portal de notícias G1, obtidas em 6 de fevereiro de 2017, o Reservatório de Furnas, conhecido como o “Mar de Minas”, principal reservatório do Sudeste, fechava o mês com apenas 47,26% de seu volume útil. De lá para cá, a coisa piorou, pois na quinta-feira (2), a medição feita no balneário Escarpas do Lago, a atingiu a marcação da cota 760,54.

Com esse resultado, o jornal pergunta repetindo Luiz Pinguelli Rosa: Faltou chuva ou houve má gestão na operação do sistema?

Relembrando:

O jornal registrou que Formiga assistiu em fevereiro de 2014, a  uma movimentação apoiada por vários políticos (tradicionais), garantindo que em breve, a cidade teria  aqui implantado no lago, um novo modal de transporte – hidroviário – ligando Formiga a Alfenas (250 km). Muito discurso, muitas palmas e… Só se esqueceram de combinar com Furnas, pois, hidrovia sem água, não funciona em lugar nenhum do mundo. E uma das razões do esvaziamento constante desta nossa caixa d’água, é exatamente em função de se permitir que a hidrovia do Tietê, se mantenha em operação por mais tempo, na época da seca.

Diversificando as denúncias:

É claro que crime ambiental, degradação da natureza, etc e tal, não ocorre só em relação a Furnas.

Ainda em julho de 1999, na edição 128, o jornal denunciou um dos maiores crimes ambientais aqui existentes, perpetrado exatamente por uma multinacional, a montadora Fiat, que àquela altura era a primeira do ramo automotivo, a receber a certificação ISO 14001, atestando ser a  empresa possuidora de “padrão internacional de Proteção ao Meio Ambiente, obedecendo a todas as normas Proconve e ao Padrão Europeu.

De lá para cá, o jornal denunciou dezenas de outros crimes ambientais aqui ocorridos por ação nefasta de empresas de padrões internacionais como: fabricantes de pneus, gigantes internacionais do ramo de alumínio (Alcan), produtores de peças automotivas (Interni, Formitap, Borcol e inúmeras outras) que por aqui desovavam lixo industrial para ser consumido nos fornos de barranco, da incipiente indústria de transformação de cal que aqui se instalava. Esta prática foi atacada e  a partir  de denúncias veiculadas pela imprensa – inclusive pelo Nova Imprensa  – que sempre contou com o acolhimento das rápido e eficiente do Ministério Público no tocante as denuncias formuladas .

E foram incontáveis as ações havidas em favor do meio ambiente que, afinal, resultaram na implantação de equipamentos públicos nessa cidade como o Aterro Sanitário, a construção ainda em andamento de uma Estação de Tratamento de Esgotos (ETE), a construção de alguns quilômetros de rede de captação de esgoto, a criação de parques ecológicos, a implantação da mentalidade da coleta seletiva, e outras inciativas que nos levam a acreditar que: a opinião pública nesta cidade é sim favorável àquilo que hoje, o Papa Francisco recomenda que façamos.

Neste tocante, o  terreno por aqui é fértil para se desenvolver ações nesta mesma direção. Cabe aos nossos governantes, embarcarem na canoa do Papa. Quem sabe, agora chegaremos lá?

Atualizando dados:

I – Saae coloca em funcionamento elevatória do Nova Conquista

(Fotos: Priscila Rocha)

O córrego do Quilombo, que há anos sofre de forma violenta com a descarga de esgoto em natura que nele é despejado pela Penitenciária Regional de Formiga, a partir desta sexta-feira (2) com a entrada em funcionamento dos novos equipamentos que compõem a elevatória do esgoto produzido pela população do bairro Nova Conquista, receberá menor volume de poluentes.

A direção do Saae, dando seguimento à política traçada pela autarquia no governo anterior, em atendimento a determinações do Ministério Público, conseguiu finalmente, colocar em operação a nova elevatória.

Esta, com capacidade maior de bombeamento que a originalmente ali instalada, evitará o “desastre” que diariamente, por transbordamento, ocorria deixando vazar para o leito do córrego, boa parte do esgoto produzido diariamente naquele bairro.

II –  Lagoa do Petito

Também a Lagoa do Petito, no bairro Vargem Grande, recebeu neste ano, equipamento do mesmo porte que, segundo o jornal constatou, resolveu de vez o problema que há décadas ali havia. Em pouco tempo de uso já se nota que o corpo hídrico já apresenta sinais de revitalização.

III – Cidade Nova:

Urge que o Saae tome com a requerida urgência as mesmas providências, no bairro Cidade Nova. As bombas já adquiridas, pagas e lá estocadas, com pouco investimento na construção de um novo tanque de armazenamento (obra orçada em algo em torno de R$8 mil) poderão entrar em funcionamento e evitar que o estampado na foto, não mais ocorra.

O problema ali é igualmente sério e como dito, com  poucos recursos, o projeto já desenvolvido pela equipe da própria autarquia poderá solucionar o problema que, é sim, um  grave crime ambiental, que precisa ser debelado.

Capacidade de 30m³/H que atendia a demanda em 2001 (foto: Priscila Rocha)

IV – Tratamento do lodo:

Com projeto concluído, pago e com boa parte do material necessário para a construção, já adquirido, espera-se que a Estação de Tratamento do Lodo produzido pela ETA do Saae, tenha também, um destino adequado.

 V – O que diz o diretor

Ouvido, o diretor do Saae, Capitão Souza, garantiu que as obras acima relacionadas, em breve estarão em andamento. “Isto ainda não ocorreu em razão da série de problemas mais urgentes que somos obrigados a enfrentar diariamente. O pessoal disponível é reduzido e estou atento a tudo isto. Em breve a população pode conferir, estaremos atuando em todos estes projetos”, explicou.

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