Quanto mais a apuração avança, mais macabros ficam os momentos reconstituídos pela Polícia Civil sobre a rotina do Asilo Acolhendo Vidas, em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.

A unidade que deveria proporcionar qualidade de vida a hóspedes da terceira idade era um verdadeiro porão de agressões, maus-tratos e tortura de acordo com relatos obtidos no inquérito que já coleciona 31 depoimentos. Cinco pessoas estão presas, sendo quatro da mesma família, e os levantamentos que já foram feitos apontam que todas elas participaram pelo menos do crime de tortura. Sete mortes podem ter relação com essas agressões.

A Polícia Civil já tem fortes indícios de que pelo menos uma, de um idoso no mês de julho, foi causada por um quadro de desnutrição e desidratação compatível com uma semana sem água e sem comida. Esse tipo de privação acontecia com frequência como castigo para os idosos, segundo a delegada Bianca Prado, que preside o inquérito. A situação forçou a prefeitura local a fechar permanentemente a clínica, que já estava interditada, mas ainda abrigava internos.

A investigação começou na semana passada, quando três mortes ocorridas apenas no mês de julho levaram cuidadores de idosos a denunciar para o Hospital Municipal de Santa Luzia o caso. Segundo a delegada, a unidade de saúde repassou as denúncias à polícia, que abriu inquérito e prendeu a dona do abrigo. Elizabeth Lopes Ferreira, de 47 anos, é considerada a mais agressiva no trato com os idosos, segundo depoimentos já obtidos.

Ela foi presa com a filha Poliana Lopes Ferreira, de 27 anos. “Os internos relatam que eles tinham como castigo a privação de alimentação, desde 24 horas e com relatos de até três dias, banho frio e baldes de água fria retirada da piscina como castigo. Na hora das refeições, a gente tem relato de que a Elizabeth passava com uma bengala na mão e se alguém derramasse comida ou fizesse alguma coisa, ela realmente dava bengaladas nos idosos, em braços, pernas, cabeça. As feridas não cessavam”, afirma a delegada.

(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A PRESS)

‘Os internos relatam que tinham como castigo privação de alimentos, banho frio e com baldes de água retirada da piscina. Na hora das refeições, se alguém derramasse comida levava bengaladas’

Bianca Prado, delegada do caso

O castigo com privação de água e comida é o que pode ter levado à morte um idoso com quadro grave de desidratação, desnutrição e hematomas pelo corpo, que faleceu mês passado. Os investigadores já localizaram o prontuário do paciente e conversaram com um médico, que disse que a situação do paciente era compatível com privação de comida e água por uma semana. A polícia, agora, corre atrás dos demais prontuários relacionados a pelo menos sete mortes de idosos que viviam no Asilo Acolhendo Vidas. Se ficar comprovado que as torturas levaram alguém à morte, a pena pode chegar a 16 anos.

 

Fonte: Estado de Minas||https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2019/08/02/interna_gerais,1074258/codigo-de-disciplina-em-asilo-fechado-incluia-fome-sede-e-agressoes.shtml

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