O Papa Francisco emitiu, no último 3 de outubro, a Carta Encíclica “Fratelli Tutti, Sobre A Fraternidade E A Amizade Social”. O papa franciscano, na véspera do dia do santo, lembrou a saudação usual “Fratelli Tutti”, como escrevia São Francisco de Assis quando se dirigia a seus irmãos e irmãs para lhes propor uma forma de vida com sabor a Evangelho.

Dos muitos conselhos do Santo, o Papa quer destacar o convite a um amor que ultrapassa as barreiras da geografia e do espaço, uma fraternidade que permite reconhecer, valorizar e amar todas as pessoas independentemente de onde nasceu ou habita (1).

O Papa foi inspirado por um episódio que mostra o coração sem fronteiras de São Francisco, acontecido há oitocentos anos, a sua visita ao Sultão Malik-al-Kamil, no Egito. Apesar de sua pobreza, da distância e das diferenças de língua, cultura e religião. Em um momento histórico marcado pelas Cruzadas, teve a mesma atitude que pedia aos seus discípulos: sem negar a própria identidade, quando estiverdes entre sarracenos e outros infiéis, não façais litígios nem contendas, mas sede submissos a toda a criatura humana por amor de Deus (3).  Em um mundo cheio de torreões de vigia e muralhas defensivas, em que as cidades viviam guerras sangrentas entre famílias poderosas, ao mesmo tempo que cresciam as áreas miseráveis das periferias excluídas (4).

Se Bartolomeu, o Patriarca ortodoxo que propunha com grande vigor o cuidado da criação, inspirou o Papa na redação da Laudato si, para esta Encíclica, foi o Grande Imã Ahmad Al-Tayyeb, que o Papa encontrou em Abu Dhabi. Esta encíclica reúne e desenvolve grandes temas expostos no documento que assinaram juntos. E também as muitas cartas e documentos com reflexões que o Papa recebeu de tantas pessoas e grupos de todo o mundo (5).

O Papa não pretende resumir a doutrina sobre o amor fraterno nesta Encíclica, mas detêm-se na sua dimensão universal, na sua abertura a todos. Antes, considera esta encíclica social como uma humilde contribuição para a reflexão, a fim de que, perante as várias formas atuais de eliminar ou ignorar os outros, sejamos capazes de reagir com um novo sonho de fraternidade e amizade social que não se limite a palavras, de tal maneira que a reflexão se abra ao diálogo com todas as pessoas de boa vontade (6).

Quando estava a redigir esta carta, irrompeu de forma inesperada a pandemia da Covid-19 que deixou a descoberto as nossas falsas seguranças. Por cima das várias respostas que deram os diferentes países, ficou evidente a incapacidade de agir em conjunto. Apesar de estarmos superconectados, verificou-se uma fragmentação que tornou mais difícil resolver os problemas que afetam a todos. Se alguém pensa que se tratava apenas de fazer funcionar melhor o que já fazíamos, ou que a única lição a tirar é que devemos melhorar os sistemas e regras já existentes, está a negar a realidade (7).

Diz o Papa: Desejo ardentemente que, neste tempo que nos cabe viver, reconhecendo a dignidade de cada pessoa humana, possamos fazer renascer, entre todos, um anseio mundial de fraternidade.

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