Nesta quinta- feira (3), foi promovido um debate sobre o regime militar, intitulado Experiências Vividas, período de construção da cidadania. O evento ocorreu no plenário da Câmera Municipal, às 10h.
Os alunos da Escola Estadual Professor Joaquim Rodarte, responsáveis por desempenharem um projeto que envolve o tema abordado, Anos de Chumbo e anos rebeldes: a ditadura militar, estiveram na sede do Legislativo para ouvirem convidados que tiveram algum tipo de experiência naquela época do regime militar, para, assim, aprofundarem um pouco mais seus conhecimentos.
A solenidade teve início com a fala da vice-diretora da Escola Estadual Professor Joaquim Rodarte, Dea Carvalho. O coordenador do projeto e professor de história, Luciano Costa da Silveira, agradeceu a oportunidade do encontro e presença dos convidados para que pudessem transmitir um pouco de conhecimento aos alunos.
Perguntado sobre a importância do projeto desenvolvido pelos alunos do 9º ano, além do2º e 3º ano do ensino médio, ele disse que esta atividade pedagógica proporciona aos alunos uma melhor interação da história, por meio dos depoimentos divulgados pelos convidados.
As experiências
Após os agradecimentos, o hino Nacional e de Formiga foram executados. O professor José Ivo da Silva relatou sobre suas experiências vividas na época do regime militar. Naquela época, nós não tínhamos informações sobre o que estava acontecendo na ditadura. As notícias eram simplesmente censuradas ao público em geral. O comunismo era tratado como algo prejudicial pelo governo, afirmou.
A professora de biblioteconomia e história, Maria Ilza, também discursou a respeito do regime militar enfrentado naquela época. Eu vivenciei este fato na minha infância, com 11 anos precisamente. De forma alguma eu não percebia o que estava se passando naquele momento. Em 1972, fui passar férias em Uberlândia. Meus amigos escutavam em um quarto fechado a música Porque não falei das flores, de Geraldo Vandré. Eu não sabia o motivo, só depois descobri que a música tinha sido censurada, comenta.
Outro a relatar seu depoimento foi o advogado José Afonso Alencar que entre os convidados foi o que mais sofreu com o regime militar, porque na época cursava a faculdade de direito. Quando houve o golpe militar de 1964, eu havia passado para o 2º período de direito. Segundo ele, a Constituição é a Lei Magra do País. O golpe militar fez com que acabassem com a liberdade de expressão do povo brasileiro. O Congresso Nacional foi violentado, deputados eram cassados, pessoas eram perseguidas, imprensa foi totalmente amordaçada , comentou.
De acordo com José Afonso, o movimento estudantil perdeu suas forças em manifestos, por ser massacrado pelos militares. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) desempenhou um papel fundamental contra a ditadura. Com relação à anistia, ela foi fundamental, mas foi um problema para a sociedade. Para mim, a história não foi contada precisamente, muita coisa ainda vai vir à tona , argumentou.
O vereador Gonçalo Faria/PSB enfatizou que a sociedade defendia seus próprios interesses. Naquela época, a polícia agia com bastante rigor, principalmente nas proximidades dos sindicatos. Os jornais veiculados naquele ano eram o Pasquin, do jornalista Cony e o Binômio. As pessoas tinham que ler escondido , comentou.
Já o presidente do PSB, Elton Costa, disse que acompanhou o final da ditadura na cidade de Pains. A política da cidade era muito restrita. Existiam o partido União Democrática Nacional (UDN) e o Partido Socialista Brasileiro (PSB). O regime militar nasceu com a Proclamação da República, com a reunião dos militares , ressaltou.
De acordo com o subtenente da reserva da Polícia Militar de Minas Gerais, Paulo Maria Alexandre, os comunistas eram tratados como mal feitores. Em 1970, eu entrei na Polícia Militar, no 2º Batalhão, em Passos. Os manifestantes pichavam os muros das residências, de locais públicos em geral, no fim da noite. O caos instaurado naquela época era evidente. As pessoas tinham o direito de manifestar suas opiniões, mas eram repreendidas da mesma forma , comenta.
Ao final da apresentação, a vice-diretora da escola comentou sobre as experiências ali relatadas. Foi um momento importante para todos os presentes, pois eles tiveram a oportunidade de reviver a nossa história. É conhecendo a nossa história que podemos refazer a nossa história. Com relação aos alunos, eles podem fazer um paralelo entre o regime militar e assim se manifestarem sobre a falta de democracia no país , concluiu.
Outras atividades
Os alunos da Escola Estadual Professor Joaquim Rodarte já haviam realizado nos dias 18 e 19 de novembro um trabalho sobre o regime militar, intitulado Brasil Nunca Mais. Os alunos dos nonos anos representaram estudantes, repórteres, grevistas, artistas, cantores e agentes repressores da época. Na segunda-feira (30), os alunos também estiveram na Câmara Municipal, durante a reunião ordinária, em uma aula expositiva sobre o regime democrático de direito.

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