O cinegrafista da TV Bandeirantes Gelson Domingos, morto na madrugada deste domingo (6) durante uma operação contra o tráfico de drogas no Rio de Janeiro, chegou a alertar que ele e policiais militares haviam sido vistos pelos bandidos. O anúncio feito pelo jornalista ocorreu pouco antes de ele ser atingido por um tiro na Favela de Antares, na Zona Oeste.
Gelson fazia parte de um grupo de jornalistas que acompanhou a Polícia Militar pela Avenida Brasil, rumo à Zona Oeste do Rio. O destino era a Favela de Antares, onde, segundo informações recebidas pela polícia, chefes do tráfico estavam reunidos.
Na chegada à favela, a polícia foi recebida a tiros. O repórter cinematográfico da TV Bandeirantes se posicionou próximo aos PMs, como já havia feito dezenas de outras vezes em mais de vinte anos de profissão.
Os jornalistas e cinegrafistas só entraram na favela depois que policiais do Choque informaram ter recebido a informação do Bope de que a comunidade havia sido tomada e a situação estaria sob controle. E mesmo com a informação de que a favela estava tomada, as precauções continuaram: orientados pelos policiais, o repórter e o cinegrafista da Band e o cinegrafista da Globo seguiram juntos. Em seguida, o cinegrafista da Record se juntou ao grupo.
Em pouco tempo, a informação de que o Bope havia tomado a área se revelou errada. Logo se ouviram novos tiros.
Os policiais decidiram então seguir com os cinegrafistas, sem saber, direto para o ponto onde os bandidos estavam encurralados por homens do Bope. No final da rua, a tensão aumentou. Os policiais perceberam o perigo e os tiros recomeçaram.
Nas imagens gravadas por Alex não é possível ver, mas Gelson está filmando do outro lado da rua e acaba atingido.
Com o cinegrafista da Bandeirantes caído, o tiroteio continuou. O jornalista usava um colete à prova de balas, que não foi suficiente para protegê-lo do disparo.
Em nota, a Bandeirantes disse que toma todas as precauções para garantir a segurança de seus jornalistas nas coberturas diárias no estado do Rio.. Segundo a empresa, o colete usado por Gelson era do modelo permitido pelas Forças Armadas. Mas, segue a nota, o jornalista foi atingido por um tiro de fuzil, provavelmente disparado por um traficante. A bala atravessou o colete.
Os policiais conseguiram retirar Gelson da linha de tiro, mas não conseguiram sair do local. O cinegrafista chegou a ser socorrido em um carro da PM e foi levado para uma UPA, mas não resistiu e morreu.
O repórter cinematográfico deu entrada na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Santa Cruz às 7h40 já com parada cardíaca.
Segundo o secretário estadual de Saúde, Sérgio Côrtes, foram tentadas as manobras de ressucitação. ?Mas ele, infelizmente, já deu entrada em óbito?, disse.
O corpo do cinegrafista foi levado para o IML no começo da tarde deste domingo. Colegas muito emocionados foram ao local. O corpo do cinegrafista está sendo velado no cemitério Memorial do Carmo, no Caju, Zona Portuária do Rio, e será enterrado nesta segunda-feira (7).
20 anos de profissão
Gelson tinha mais de 20 anos de profissão e trabalhou em algumas das principais emissoras de TV. Recebeu importantes prêmios por coberturas jornalistas de casos policiais.
Ele foi um dos cinco mortos na operação. Os outros quatro corpos, que segundo as investigações, são de traficantes, foram levados para um hospital na Zona Oeste.
Até o começo da noite nove pessoas já tinham sido presas, entre elas o chefe do tráfico local. As operações da PM continuarão por tempo indeterminado.
A Divisão de Homicídios investiga a morte do cinegrafista e de tarde peritos estiveram na área do tiroteio.
Repercussão
A morte de Gelson repercutiu entre associações e entidades de classe. Em nota a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República afirmou que o episódio reforça em toda a sociedade o sentimento de gratidão e de solidariedade a todos os profissionais de todas as categorias que, como Gelson, arriscam-se em suas tarefas diárias em prol dos brasileiros.
A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão lamentou a morte do cinegrafista e manifestou solidariedade aos familiares, colegas e amigos.
A Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do Rio de Janeiro (Arfoc-Rio) afirmou que os jornalistas precisam se capacitar para esse tipo de cobertura e, quando julgar necessário, se recusar a arriscar a vida em situações como essa. A Arfoc também exigiu do governo do estado a prisão do autor do disparo.
O Instituto Internacional de Segurança da Imprensa também espera que os bandidos que assassinaram o jornalista sejam presos, julgados e que recebam as penalidades cabíveis na legislação brasileira.
O presidente da Associação Brasileira de Impresa (ABI), Maurício Azedo, disse que é obrigação de toda empresa avaliar os riscos a que seus profissionais estão submetidos. Mas lembrou que o jornalista não deve abdicar jamais do seu dever de informar.
?O papel do jornalista é buscar a informação. Evidentemente que ele tem que buscar a informação em condições que representem a sobrevivência dele e a obtenção, com eficácia, daquilo que é seu objetivo: a busca da notícia. Mas abrir mão dessa possibilidade, isso representaria uma capitulação e uma negação do jornalismo?, disse Azedo.
Segundo o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, a cobertura da violência só fica mais perigosa com a política de enfrentamento do Estado e a utilização de armas cada vez mais poderosas. A entidade criticou as empresas jornalísticas por, no entender do sindicato, não adotar medidas concretaspara proteger seus profissionais.

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