O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), órgão ligado à ONU, divulgou nesta quarta-feira (25) um novo relatório que analisa e compila as descobertas científicas mais recentes sobre a mudança climática, o oceano e a criosfera – água em estado sólido, como geleiras.

O documento do IPCC foi organizado para apresentar cenários sobre como o aquecimento global pode afetar o oceano, as calotas polares e as áreas congeladas em montanhas. O relatório contou com a coordenação de mais de 100 especialistas de 30 países, sendo a maioria de países em desenvolvimento.

O texto trata de quatro temas principais ligados ao aquecimento global e o degelo: aumento no nível do mar, mudança dos ecossistemas marítimos, redução do permafrost – o solo que passa todo o ano congelado, na Rússia, Canadá e Alasca – e ondas de calor no mar.

O documento analisa uma série de estudos científicos publicados até maio de 2019, que comprovam que os níveis do mar estão subindo.

Destaques do relatório do IPCC:

  • Até o ano 2100, se nada for feito, o aumento do nível do mar pode alcançar até um metro de altura; isso pode acarretar a retirada de milhões de moradores de áreas costeiras e ilhas.
  • Com o aquecimento da água, oceanos se tornarão mais ácidos, alterando a vida marinha; ainda que se limite o aquecimento a 1,5°C, os recifes de coral já estão quase todos condenados.
  • O degelo do permafrost vai liberar mais de 1,5 mil gigatoneladas de gases de efeito estufa – isso é quase o dobro do carbono que atualmente está na atmosfera.
  • Até o final deste século, a frequência de ondas de calor marinhas pode aumentar em 50 vezes, chegando a uma variação de 3℃ ou 4℃.

Aumento do nível do mar

O nível do mar deve aumentar em até um metro nos próximos 80 anos, caso nada seja feito, alerta o IPCC. De acordo com esses especialistas, há uma tendência de elevação do nível do mar que não era observada em séculos passados. Atualmente, diz o relatório, há variação nos níveis em uma taxa anual.

Esse aumento poderá causar estragos, segundo o painel, em áreas mais expostas, como as regiões costeiras e as ilhas. Isso por conta do derretimento da calota polar ártica. Há também a previsão de aumento nas incidências de ciclones e tempestades em zonas tropicais.

Os cientistas também projetam uma mudança nas marés que podem ampliar os efeitos dessa mudança nos níveis do mar. Há mais risco para os moradores de áreas costeiras já a partir de 2050, caso não haja atitude de governos para conter o aquecimento global.

De acordo com Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA), dos EUA, o nível do mar está hoje 8 centímetros acima da média observada em 1993. Segundo essa agência, desde 2011 se observou um aumento consecutivo nos níveis registrados.

Impactos nos ecossistemas

A mudança na criosfera impacta a vida de espécies que dependem da água doce, diz o relatório. O derretimento de coberturas de gelo alterou a dinâmica e o funcionamento de ecossistemas em algumas regiões do mundo.

Área em que houve derretimento da camada de permafrost, na península de Yamal, Rússia — Foto: Steve Morgan/Greenpeace/Divulgação

Os cientistas apontaram para um aumento nas taxas de queimadas em zonas que antes eram ocupadas pelo permafrost, assim como notaram uma transformação na vida do ártico, com momentos mais quentes. Tudo isso altera a dinâmica natural da vegetação.

O aquecimento global também mudou os ecossistemas costeiros, alerta o estudo. Com a variação climática, há maior acidificação da água (diminuição do pH), há menos oxigênio disponível e aumento da salinidade das águas.

Os impactos já podem ser observados nos habitats marinhos, como é o caso dos recifes de coral. Segundo o estudo, ainda que se mantenha controlado o aquecimento global para baixo de 1,5°C, 90% das espécies já estão condenadas.

Por que cuidar da criosfera?

O relatório destaca a importância do oceano e da criosfera para a vida na Terra. Juntas, elas cobrem quase 80% da superfície do planeta. De acordo com os especialistas, elas exercem funções fundamentais para o controle das emissões na atmosfera. Mas, por conta dos efeitos do aquecimento global, chegarão a limites sem volta.

Nas últimas décadas, o aquecimento global reduziu a criosfera e, com a diminuição da cobertura congelada do solo, houve um aumento da temperatura do solo. Isso impede a renovação dessa cobertura.

De acordo com imagens de satélite estudadas pelos cientistas do painel, a cobertura de gelo no ártico atingiu níveis históricos de redução, chegando a cobrir 2,1 milhões de km².

Próximo relatório e reuniões

Esse é o segundo relatório do IPCC neste ano. Em agosto, o painel publicou uma análise sobre como o aquecimento global pode reduzir safras e lançou um alerta para a conservação de florestas tropicais.

Em novembro, acontece no Chile a 25ª Conferência das Partes da Convenção do Clima das Nações Unidas. O Brasil havia sido cotado para sediar o evento, mas o governo brasileiro desistiu.

 

Fonte: G1 ||
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