Ativistas de um coletivo do movimento negro de Alfenas fizeram um protesto nesta quinta-feira (26) após casos de injúria racial envolvendo um padre da cidade. Na última semana, o sacerdote Riva Rodrigues de Paula denunciou ataques que tem sofrido na paróquia onde é vigário paroquial, o que levou a diocese de Guaxupé a emitir nota de repúdio.

O ato do Coletivo Negros e Negras atravessou o Centro da cidade, em uma passeata, e foi acompanhado pelo padre Riva. O grupo foi até a Igreja Matriz, com cartazes e gritos de protesto.

“Quando nós então ficamos sabendo desse crime que aconteceu com o padre Riva não tinha outra solução, então nós sugerimos que toda a negritude viesse encaminhada em prol da saúde do padre Riva. Eu digo saúde porque as pessoas adoecem com o racismo”, explicou o ativista Rodrigo Mikelino.

Ao chegar à Matriz, o padre Riva agradeceu o apoio. “Esta manifestação de pessoas da cidade traz ao meu coração conforto, apoio, proximidade, acolhida, amizade, amor e sobretudo, o carinho no olhar, no sorriso, neste amor que une a todos nós”.

O padre Weberton dos Reis Magno, pároco da Igreja Matriz, reforçou em um discurso o repúdio aos ataques. “Como pároco dessa Matriz, eu quero dizer a todos que não há espaço para preconceito nessa Igreja Católica”.

Ativistas protestaram após casos de injúria racial contra padre de Alfenas (MG) — Foto: Reprodução/EPTV

Injúria

No último fim de semana, o padre Riva Rodrigues de Paula denunciou casos de injúria racial que tem sofrido. Riva tem 42 anos, sendo oito de sacerdócio, e é vigário paroquial na Igreja Matriz de Alfenas. As injúrias começaram há dois meses, quando ele chegou à cidade. Ele é o primeiro vigário paroquial negro em Alfenas.

O primeiro caso foi de telefonemas à secretaria paroquial, com ofensas. Há três semanas, segundo Riva, um casal cometeu injúria racial pessoalmente, dentro da igreja.

“Via telefone, eles falaram muitas coisas, que era para serem avisados quando o padre preto fosse celebrar a Santa Missa, que eles não gostam de preto, para eles não poderem vir à missa. E o casal chegando para a celebração, disse ‘esse preto fedido aqui de novo?’”, relatou.

Apesar do crime, o padre não registrou boletim de ocorrência. No entanto, ele conversou com um delegado da cidade. Por enquanto, o sacerdote disse que prefere expor o que aconteceu e tentar conscientizar os fiéis.

“Eu acredito na força do amor. E optei pela conscientização. Em um primeiro momento, as palavras têm um impacto, uma força muito grande sobre a gente. Mas rezando, eu optei pelo desabafo, pela denúncia e levar o nosso povo a conscientizar que nenhum tipo de preconceito é bem-vindo hoje em nossa sociedade. E que nós devemos denunciar, trabalhar isso, porque nossa sociedade não comporta mais esse tipo de atitude”.

Matéria do G1

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