A ocupação dos leitos clínicos e de UTI para casos não relacionados à Covid-19 ultrapassa a dos leitos exclusivos para a doença em Belo Horizonte. Enquanto na rede SUS, 63,2% dos leitos de enfermaria estão ocupados por pacientes com coronavírus, a ocupação dos leitos não Covid está em 83,9%, segundo o boletim da prefeitura. Na rede privada, 54,4% dos leitos de enfermaria estão ocupados para Covid, contra 76,2% de ocupação das enfermarias comuns. 

Nos leitos de UTI exclusivos para Covid no SUS, a ocupação está em 88,9%, enquanto os não Covid estão em 92,5%. Na rede suplementar, são 70,4% para Covid e 87,3% nos leitos para pacientes sem coronavírus.

A mudança no perfil dos pacientes, segundo os especialistas, está ligada a diversos fatores, até mesmo pela própria reabertura da cidade. Mas o principal motivo pode estar relacionado ao fato de muitos pacientes terem se descuidado de doenças crônicas e, agora, estarem ‘pagando a conta’.

“Em muitos momentos isso aconteceu, quando houve tendência de queda dos casos de Covid, a demanda não Covid suplantava a demanda de Covid. Mas uma boa explicação é que no início da pandemia as pessoas não estavam sofrendo as consequências de um descontrole de suas doenças crônicas. Com o passar da pandemia, o não controle de doenças como hipertensão e diabetes sofreram as complicações, impactando em internações. Esse é um outro problema da pandemia, o medo faz com que as pessoas que realmente devam se mobilizar fiquem mais quietas”, avalia o infectologista membro do Comitê de Enfrentamento à Covid na capital Estevão Urbano.

No caso das UTIs, os leitos para doenças em geral tiveram ocupação maior em várias ocasiões em abril. Já no caso das enfermarias, esse quadro tem se mantido desde o dia 9.

Causas

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, os principais motivos de internação nas enfermarias não Covid na rede SUS estão relacionadas a intercorrências oncológicas, tratamentos de pneumonia e influenza, além do tratamento de doenças bacterianas, insuficiência cardíaca e acidente vascular cerebral.

De acordo com a diretora da Sociedade Brasileira de Oncologia Clinica (SBOC), Angélica Nogueira, por exemplo, houve redução de 50% nas mamografia na pandemia. O diagnóstico tardio, segundo ela, tem levado cada vez mais pacientes oncológicos a tratamentos mais agressivos.  

“Isso, infelizmente, era previsto. Chamamos de quarta onda relacionada à Covid. As pessoas não estão fazendo os exames de prevenção e o câncer é uma doença de evolução rápida”, explica a professora da UFMG.

A epidemiologista e pesquisadora da UFMG Déborah Malta participou de um estudo que concluiu que com a queda da atividade física, as mortes por doenças cardiovasculares cresceram 132% no Brasil. “Tivemos uma redução de 12 milhões de internações na pandemia. Consequentemente, o que vemos agora é esperado. Tivemos muitos pacientes de doenças crônicas que precisavam de cuidados e adiaram suas consultas. Foram doenças que não foram monitoradas”, pontuou.

Tendência

Segundo Déborah, a tendência nos próximos meses é que a alta na ocupação dos leitos para casos não relacionados à Covid-19 continue. “Estamos entrando em um momento de mudança de clima, muitas doenças respiratórias, além disso, à medida em que se abre a cidade você começa a ter mais carros circulando, aumenta até mesmo a transmissão de outras viroses”, explica. 

Estevão Urbano ainda acrescenta: “O aumento da mobilidade interfere também em um aumento de acidentes, de agressões e de todas as fatalidades que estão relacionadas à circulação das pessoas”. 

A prefeitura informou que avalia diariamente o cenário para fazer remanejamentos necessários e destacou que as cirurgias eletivas estão suspensas desde novembro passado para aliviar a demanda.

Fonte: O Tempo

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