O procurador-geral do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), Felipe Bevilacqua, e o promotor Rodrigo Terra vão apresentar nesta segunda-feira (10) o pedido de interdição do estádio São Januário, no Rio de Janeiro, onde cenas de selvageria foram registradas nas arquibancadas, na noite de sábado (8), após a derrota de 1 a 0 do Vasco para o Flamengo, pela 12ª rodada do Campeonato Brasileiro. O confronto terminou com a morte do torcedor vascaíno Davi Rocha Lopes, 27, morador de Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, que foi atingido por um tiro do lado de fora do estádio e não resistiu aos ferimentos.

Enquanto isso, as polícias Militar e Civil do Rio de Janeiro começaram a investigar a possível participação de funcionários do clube vascaíno na entrada de bombas e outros objetos proibidos ao interior do local. A hipótese foi levantada nesse domingo (9) pelo major Hilmar Faulhaber, comandante do Grupamento Especial de Policiamento de Estádios (Gepe) da Polícia Militar do Rio de Janeiro.

Segundo ele, as bombas atiradas no gramado durante a confusão dificilmente estariam com os torcedores na entrada ao estádio, já que é feita a revista da torcida. A quantidade de artefatos surpreendeu até mesmo a PM carioca. “As pessoas que trabalham no estádio chegam antes do policiamento e podem ter entrado com as bombas escondidas. Ou até em dias anteriores ao jogo. São cerca de mil pessoas. Quem garante que essas pessoas não têm ou não tiveram relação com as organizadas? Não sei dizer se o clube faz revista em seus funcionários, porque a quantidade de bombas era muito maior do que a de outros jogos. Não foi normal, eram muitas bombas”, disse o comandante da PM em entrevista ao jornal “O Globo”.

“A revista feita por nós e por seguranças privados contratados pelo Vasco não pega tudo, claro. Passa alguma coisa escondida em sapato e roupa íntima, por exemplo. Mas, no sábado, essa quantidade foi enorme. Repito, não foi normal”, completou.

Ainda não se sabe de onde partiu o disparo que acertou Lopes. Foi a segunda morte de torcedor registrada neste ano no Estado do Rio. Em fevereiro, Diego dos Santos, 28, foi assassinado com um espeto de churrasco antes do clássico entre Botafogo e Flamengo, nos arredores do Engenhão.

Após o encerramento da partida, torcedores do Vasco tentaram invadir o gramado e lançaram rojões nos adversários. Os flamenguistas e os árbitros foram obrigados a ficar por quase 20 minutos no campo e tiveram que entrar correndo no vestiário. Dezenas de torcedores foram atendidos no posto médico do estádio. Por causa da confusão, os treinadores dos dois times não deram entrevista coletiva.

O presidente do Vasco, Eurico Miranda, disse que a confusão teria sido orquestrada. “Parece que já estava algo preparado. O estádio é absolutamente seguro para fazer uma partida de futebol. Os que têm interesse em tumultuar acabam contribuindo para esse tipo de coisa”, acrescentou, sem dar detalhes de quem teria incentivado o tumulto.

Na manhã desse domingo , Carlos Henrique Rocha, 35, irmão do torcedor que morreu durante o confronto, disse que a vítima era um cara tranquilo e apaixonado pelo Vasco. Ainda segundo o irmão, Lopes não pertencia a nenhuma torcida organizada. O caso está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital (DH).

Também no sábado, torcedores do Internacional, inconformados com o empate em 1 a 1 com o Criciúma, depredaram parte do Beira-Rio e tentaram invadir o setor onde os jogadores davam entrevistas. A PM teve trabalho para contê-los.

Danos

Na manhã desse domingo , poucas horas após a confusão, o estádio de São Januário ainda apresentava as marcas do confronto. Vidros quebrados, sangue pelo chão, pedras e latas de cerveja espalhadas pelo gramado e pelas arquibancadas. Como o local recebeu neste domingo uma partida do Campeonato Carioca Sub-20, os funcionários do clube tentavam fazer os reparos a tempo de a bola rolar novamente no local.

De novo

Menos de 24 horas após o confronto de sábado, o Rio de Janeiro foi palco de novo confronto entre organizadas que terminou com um ferido e 13 detidos. Antes da partida desse domingo (9) entre Botafogo e Atlético, no Engenhão, pela 12ª rodada do Campeonato Brasileiro, torcedores dos dois alvinegros se envolveram em uma briga generalizada nos arredores do estádio. Testemunhas relataram que durante o confronto entre os torcedores houve disparos de armas de fogo e várias bombas foram lançadas. Segundo o major Hilmar Faulhaber, comandante do Grupamento Especial de Policiamento nos Estádios (Gepe), até o início da noite desse domingo (9) não era possível dizer o que tinha motivado o novo confronto em solo carioca. Os detidos ainda prestavam depoimento.


F
rases

“Queria fazer um pedido de desculpas em nome do Vasco. Realmente, o que aconteceu aqui não tem nenhuma justificativa. Tomamos todas as providências para que corresse tudo bem.”
Eurico Miranda
Presidente do Vasco

“Quem não tem culpa, não pede desculpas. O Vasco lavou as mãos. Não adianta plantar abacaxi e querer colher rosas. O que vimos é uma falha no cumprimento do dever de segurança por parte dos organizadores.”
Rodrigo Terra
Promotor do MP do Rio

Números

220 homens fizeram a segurança interna do estádio no dia da confusão

50 deles ficaram responsáveis pela revista dos torcedores, segundo a PM

113 mortes no país em razão de conflitos entre torcidas entre 2011 e 2016

300 assassinatos entre 1988 e junho de 2016, segundo estudo do jornal ‘O Lance’


País é campeão no número de torcedores mortos por brigas

Dono de grandes feitos e conquistas mundiais, o Brasil também lidera uma triste estatística quando o assunto é violência no futebol. Em 2014, o país foi eleito como a nação em que mais se registrou mortes em razão do esporte.

De acordo com levantamento feito pelo sociólogo Maurício Murad, autor do livro “Para entender a violência no futebol”, entre 2011 e 2016 foram registradas pelo menos 113 mortes relativas a confrontos entre torcidas no país.

Segundo o estudioso, a solução para essa triste realidade é complexa. “O Brasil é o campeão no número de mortes de torcedores por conflitos em torcidas organizadas, e essa situação exige diversas ações. Em primeiro lugar, tem que se aplicar a lei severamente. As torcidas organizadas precisam ser envolvidas, e os clubes não podem ser coniventes com vândalos”, aponta.

Recorrente

12 de fevereiro
Botafogo x Flamengo
Engenhão (RJ)

Diego Silva dos Santos, 28, torcedor do Botafogo, morreu após ser ferido com um espeto de churrasco. Outras sete pessoas ficaram feridas.

12 de março
Brasiliense x Gama
Bezerrão (DF)

A confusão começou depois que Nunes, do Brasiliense, e Dudu Gago, do Gama, se desentenderam em campo. O confronto se estendeu para os demais jogadores, comissões técnicas e as arquibancadas. Com a invasão de torcedores no gramado, um policial ficou ferido com um corte no rosto, e cerca de 30 torcedores precisaram de atendimento médico no posto do estádio.

30 de abril
Atlético x Cruzeiro
Mineirão (MG)

Um torcedor ficou ferido e dez foram presos em uma confusão generalizada no elevado Helena Grecco, no Carlos Prates, antes do primeiro jogo da final do Campeonato Mineiro.

18 de junho
Coritiba x Corinthians
Couto Pereira (PR)

O confronto começou quando dois ônibus com a torcida do time paulista chegaram à região e foram recebidos com hostilidade pelos torcedores do Coxa. Sete pessoas ficaram feridas.

24 de junho
Vila Nova x Goiás
Serra Dourada (GO)

Após o fim da partida, torcedores dos dois times protagonizaram cenas lamentáveis nas arquibancadas. Com pedaços de madeira nas mãos, muitos partiram para cima dos policiais, que revidaram com bombas de efeito moral e spray de pimenta. Um homem recebeu atendimento médico no local.

8 de julho
Internacional x Criciúma
Beira-Rio (RS)

Inconformados com mais um resultado ruim do Colorado na Série B, torcedores do Inter tentaram invadir a sala de coletivas e depredaram parte do estádio Beira-Rio. Uma semana antes, outra tentativa de agressão por parte da torcida gaúcha já havia sido registrada.

 

Fonte: O Tempo||

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