As consequências da manutenção dos chamados “governos de coalizão”, introduzidos nas relações do Executivo com o Legislativo nos últimos anos, gerou um quadro sem volta, de dimensões inimagináveis, sobretudo se focarmos o andamento das relações do governo Temer com sua bancada de apoio. Claramente, não há uma construção de ideias, de programas, de políticas; há uma profusão de puxadinhos.

Fundado na implementação de uma agenda de reformas que vendeu a uma parte da sociedade como essencial e que tem na perspectiva de equacionamento do Orçamento público a única saída de que o Brasil dispõe para se reencontrar viável, o presidente Michel Temer ficou nas intenções.

No comando de um governo claudicante, Temer administra, desde sua posse, um quadro de insegurança, sempre dependente do fato do dia. Primeiro, o julgamento pelo TSE de um processo iniciado pela chapa que perdera a eleição presidencial em 2014; o PSDB e seu candidato, o senador Aécio Neves, não se conformaram com sua derrota e levaram em farta denúncia à Justiça Eleitoral um acervo de manobras praticadas pela chapa Dilma-Temer, as mais contundentes, eivadas de toda espécie de crimes eleitorais. Nada que nas eleições brasileiras pudesse significar novidade; essas, com raríssimas exceções, são o resultado de um jogo com todo tipo de vícios e mazelas.

Temer venceu a batalha, mas logo se viu novamente colocado no canto da parede. Dessa vez, sem o compadrio de Eduardo Cunha, abriu com deputados um bem-sortido balcão de trocas, nutrido com recursos que ao Orçamento fiscal foram um peso extemporâneo. Estamos encurtando a coberta no cumprimento de obrigações genuínas e inadiáveis para com a sociedade, mas jogando de grila, em troca de votos, cargos em comissão, obras não prioritárias e favores fora de hora, em forma de decretos e de Medidas Provisórias, pagos à linha.

O governo Temer grita que resistirá em sua luta para permanecer no comando da nação, em nome do compromisso que assumira de reinserir o Brasil num cenário de desenvolvimento econômico, de inflação controlada, de juros compatíveis com as necessidades de fomento e a capacidade de pagamento dos tomadores de tais créditos. Afinal, foi para andar nesse caminho que as forças, hoje se sabe, estimuladas por PMDB e Temer, desalojaram da Presidência o PT e Dilma Roussef. Até o momento, com mais de um ano de governo, pouco ou nada se viu realizar.

Continuamos com uma taxa de desemprego monumental e irreversível, apenas arranhada por quase imperceptíveis movimentos de queda; a prestação de serviços públicos, obrigações constitucionais, como segurança, saúde, habitação e educação, perde qualidade em sua oferta, quando essa quase milagrosamente ocorre. Déficit público sem controle, majorado à conveniência da burla dos operadores das finanças públicas.

O Brasil precisa de estadistas; onde eles estão ninguém sabe. Mas certamente não são esses que estão nas prateleiras do poder. Com essa trupe que temos hoje, iremos a lugar nenhum.

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