A médica Lucienne Vianna vem de uma família pequena. Ela tem apenas um irmão, perdeu o pai quando ainda era criança e, se depender dela, a carga genética da família não vai continuar sendo passada para outras gerações. Aos 48 anos, a ginecologista que já pôs criança demais neste mundo não tem filhos e nem quer tê-los. Nunca quis ficar presa a um filho. O que me incomodaria seria ter uma pessoa com que eu tivesse que me preocupar o resto da minha vida. Isso me afeta, não queria ter esse tipo de ligação porque o mundo está muito louco, a responsabilidade é muito grande.
Casada e com a vida profissional estável em Belo Horizonte, Lucienne afirma que quem quer ter um bebê precisa se dedicar a isso. Não devemos delegar funções para a avó, a professora ou a babá. A estrutura que a pessoa precisa ter é complicada, explica. Ela também sabe que a dupla jornada da mulher não é uma tarefa fácil. A medicina me exigia muito, sou perfeccionista. Ou abria mão da profissão ou de ter filho, diz.
Do outro lado do Atlântico, a espanhola Montserrat Zotes, 62, compartilha a mesma opção. A agente comercial de seguros, que vive em Barcelona, não tem filhos e, desde pequena, já estava certa de sua decisão. Sou uma pessoa muito independente. Se eu tivesse escolhido ter crianças, seguramente, estaria cheia de obrigações que nunca quis ter, conta.
Lucienne e Montserrat são apenas dois exemplos de mulheres que, mesmo sem ter algum problema de fertilidade, decidiram não engravidar e contribuem para a queda de fecundidade, uma tendência que já preocupa a população mundial.
Um estudo de perspectivas da população mundial divulgado pela revista britânica The Economist, com base em dados da Organização das Nações Unidas (ONU), indica que 83 países não terão o número de filhas o suficiente para garantir a existência da população, a menos que as taxas de fecundidade aumentem. Ainda segundo a pesquisa, com o ritmo da natalidade no Brasil, a população brasileira sobreviverá por aproximadamente mais três milênios. Não chegará, no entanto, ao ano 5000.
Os dados divulgados pela revista mostram ainda que, em alguns lugares espalhados pelo mundo, a população deve desaparecer antes do ano 3000, como é o caso de Bósnia e Herzegovina, Macau, Malta e Hong Kong. Na capital da China, por exemplo, estima-se que um grupo de mil mulheres seja capaz de dar à luz 547 filhas, o que representa uma taxa líquida de reprodução de apenas 0,547. Se nada mudar, essas 547 filhas teriam outras 299 filhas de seus próprios ventres. Nesse ritmo, de acordo com os cálculos da Economist, a população feminina de Hong Kong levaria apenas 25 gerações para chegar ao fim.
Brasileiros sobreviverão por mais três milênios, diz estudo
Se fecundidade seguir em queda, última mulher do país irá nascer antes de 5 mil.
Comentários