A ideia de que o colesterol alto é exclusividade de pessoas com sobrepeso ou hábitos alimentares inadequados está sendo desmistificada. Jovens, magros e com estilo de vida saudável também podem apresentar níveis elevados da substância, muitas vezes por fatores genéticos. A hipercolesterolemia familiar, condição hereditária pouco diagnosticada no Brasil, é uma das principais causas do problema.
De acordo com o cardiologista Henrique Patrus Mundim, cooperado da Unimed-BH e membro do Comitê de Departamentos Especializados da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), o colesterol presente no sangue é resultado de processos metabólicos determinados, em grande parte, pela genética de cada indivíduo. “Isso significa que mesmo pessoas magras e jovens podem ter colesterol alto, independentemente da dieta ou do estilo de vida”, explica.
Dados da SBC apontam que 40% da população adulta brasileira apresenta colesterol elevado. A Organização Mundial da Saúde (OMS) relaciona a dislipidemia alteração nos níveis de gorduras como colesterol e triglicerídeos no sangue a mais de 2,6 milhões de mortes por ano no mundo. Embora muitas vezes associada à obesidade e ao consumo de alimentos gordurosos, a herança genética é um componente fundamental, afetando inclusive quem segue um estilo de vida saudável.
A hipercolesterolemia familiar, por exemplo, é uma doença genética que compromete a remoção do colesterol LDL (conhecido como “colesterol ruim”) do sangue. Estima-se que cerca de 1% da população brasileira conviva com essa condição, um índice superior ao de países como Estados Unidos e China. Um estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), publicado na revista Scientific Reports, da Nature, revelou que a doença pode aumentar em até 20 vezes o risco de eventos cardíacos, como infarto e AVC. Apesar da gravidade, a condição é amplamente subdiagnosticada no Brasil.
Mundim destaca que o colesterol alto é uma condição silenciosa, e muitas vezes não apresenta sintomas. “É preciso estar atento ao histórico familiar e realizar exames periódicos, mesmo em jovens aparentemente saudáveis, já que pessoas com essa condição podem sofrer infartos ou derrames já na juventude. O risco é cumulativo: quanto mais cedo o colesterol alto se instala, maior a probabilidade de complicações cardiovasculares”, alerta o especialista.
Em casos mais raros, a doença pode apresentar sinais visíveis, como xantomas (depósitos de gordura na pele) e xantelasmas (manchas amareladas nas pálpebras). Ainda assim, o Ministério da Saúde recomenda que a avaliação do colesterol seja baseada no risco cardiovascular global, considerando fatores como hipertensão, diabetes e tabagismo. Crianças e adolescentes com histórico familiar ou antecedentes de colesterol elevado também devem ser acompanhados, especialmente diante do aumento da dislipidemia nessa faixa etária no Brasil.
Apesar da forte influência genética, o estilo de vida saudável é fundamental tanto na prevenção quanto no controle do colesterol alto. As diretrizes da SBC e do Ministério da Saúde indicam alimentação equilibrada, prática regular de atividade física e controle de outros fatores de risco como hipertensão, diabetes e tabagismo como medidas eficazes.
“O estilo de vida não saudável, com consumo frequente de ultraprocessados e bebidas açucaradas, pode agravar a situação de quem já tem predisposição genética. Por outro lado, hábitos saudáveis ajudam a controlar não apenas o colesterol, mas também outras condições como hipertensão, obesidade e diabetes”, ressalta Mundim.
Nos casos em que as mudanças no estilo de vida não são suficientes, o tratamento medicamentoso, com destaque para as estatinas, é indicado. Em situações mais graves, novas terapias, como medicamentos injetáveis, também têm mostrado bons resultados.
Para o cardiologista, a melhor estratégia é o diagnóstico precoce aliado à informação de qualidade. “Precisamos reforçar a importância do rastreamento e do cuidado contínuo. Só com acompanhamento adequado conseguiremos reduzir o impacto dessa doença silenciosa e prevenir infartos e AVCs que poderiam ser evitados”, finaliza.
Com informações do Hoje em Dia