A presidente Dilma Rousseff afirmou nesta quarta (16), em solenidade no Palácio do Planalto, que a instalação da Comissão da Verdade não é motivada por ódio, revanchismo ou desejo de reescrever a história.
Acompanhada dos ex-presidentes da República Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Henrique Cardoso, Fernando Collor e José Sarney, Dilma deu posse aos sete membros escolhidos por ela para compor a comissão, que irá apurar as violações aos direitos humanos cometidos entre 1946 e 1988, período que inclui a ditadura militar.
Ao instalar a Comissão da Verdade, não nos move o revanchismo, o ódio ou o desejo de reescrever a história de uma forma diferente do que aconteceu, afirmou a presidente em discurso. Nos move a necessidade imperiosa de conhecê-la [a verdade] em sua plenitude, sem ocultamento, declarou.
No discurso, a presidente se emocionou – e, em seguida, foi aplaudida de pé – ao se referir a vítimas de violência durante o regime militar. Militante política de esquerda, a presidente foi torturada no combate à ditadura.
O Brasil merece a verdade, as novas gerações merecem a verdade e, sobretudo, merecem a verdade factual aqueles que perderam amigos e parentes e que continuam sofrendo como se eles morressem de novo e sempre a cada dia, afirmou, antes de, emocionada, interromper o discurso.
Em sua fala, Dilma fez referência ao deputado Ulysses Guimarães (PMDB-SP), presidente da Câmara morto há 20 anos, segundo o qual a verdade não morre por ter sido escondida,
Com a instalação da comissão, os sete integrantes terão dois anos para apresentar um relatório com a narrativa e as conclusões sobre os crimes cometidos.
Ao convidar os sete brasileiros que aqui estão que integrarão a Comissão da Verdade, não fui movida por critérios pessoais ou por avaliações subjetivas. Escolhi um grupo plural de cidadãos de reconhecida competência, sensatos e ponderados, declarou a presidente.
Na solenidade, Dilma também assinou termo pelo qual entrou em vigor, nesta quarta, a Lei de Acesso à Informação. Fiscalização controle e avaliação são a base de uma ação pública ética e honesta, disse, em referência à lei.
ONU
A cerimônia se iniciou com um pronunciamento de Américo Incalcaterra, representante regional do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, que leu carta da alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navi Pillay, de apoio à instalação da comissão.
[A instalação da comissão é um] passo necessário e muito aguardado no processo de prestação contas que irá ajudar toda sociedade brasileira a entender melhor seu passado, dizia o texto. Segundo a comissária da ONU, o compromisso do Brasil com os direitos humanos é essencial para apurar as mazelas do passado.
Em seguida, Dilma deu posse aos sete integrantes da Comissão da Verdade: Gilson Dipp, ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ); José Carlos Dias, advogado e ex-ministro da Justiça; Rosa Maria Cardoso da Cunha, advogada; Cláudio Fonteles, ex-procurador-geral da República; Paulo Sérgio Pinheiro, sociólogo; Maria Rita Kehl, psicanalista; e José Paulo Cavalcanti Filho, advogado.
Segundo a presidente, eles são capazes de entender a dimensão do trabalho que vão executar com toda a liberdade, sem qualquer interferência do governo mas com todo apoio de que necessitarem.
O advogado José Carlos Dias, ministro da Justiça no governo Fernando Henrique Cardoso, discursou em nome dos demais conselheiros.
A instalação desta comissão significa passo relevante para a consolidação da sociedade democrática brasileira, virando página dolorosa de nossa história, em que os direitospúblicos foram suprimidos […] quando se ousava se opor a quem detinha o poder, afirmou Dias.
O ex-ministro destacou as ações para a instalação da comissão realizadas nos governos FHC e Lula e afirmou que Dilma marca seu governo com a coragem de assumir um definitivo compromisso com a verdade desse capítulo sombrio de nossa história.
Segundo ele, este é um momento que objetiva a conciliação nacional sem caráter derevanchismo ou apedrejamento. É preciso revelar a história para mostrar o que dela foi escondido.

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