Em busca de padrões de beleza muitas vezes inatingíveis, as mulheres são as que mais sofrem de transtornos alimentares. Mas os homens estão cada vez mais presentes nessa preocupante estatística. Se antes a proporção de registros de anorexia e bulimia nervosas era de apenas um homem para nove a dez mulheres, hoje os especialistas já consideram um relato entre os pacientes do sexo masculino para cada quatro mulheres, ou seja, 20% dos pacientes. O alerta é do médico da Associação Brasileira de Psiquiatria, Celso Alves.
Em pouco mais de sete anos, somente em São Paulo, os atendimentos no Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares (Ambulim) do Hospital das Clínicas saltaram de três para 15 casos de homens por mês, chegando a atingir um recorde de 25 pacientes mensais em 2007.
O aumento dos registros levou a instituição paulista a abrir um ambulatório específico para o sexo masculino.
?A gente não sabe se, na verdade, os transtornos estão aumentando ou se as pessoas estão procurando mais ajuda. Apesar de existir a ideia de que o homem anoréxico é mais comum, se vê mais bulímicos?, afirma Henrique Oswaldo da Gama, coordenador do Núcleo de Investigação em Anorexia e Bulimia (Niab) do Hospital da Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que registra, em média, apenas dois casos masculinos por mês, em um universo de 140 pacientes.
Mas o medo e a vergonha de serem taxados de afeminados são apenas dois dos fatores que têm contribuído para esconder a real quantidade de homens e, consequentemente, vêm prejudicando a busca pelo tratamento precoce.
?A demora na busca por ajuda pode ter graves consequências como o retardo no crescimento, maior chance de desenvolver osteoporose, baixa libido e dificuldades cognitivas (de atenção e concentração)?, afirma a psicóloga e terapeuta familiar do Ambulim, Ester Schomer.

Motivação
A anorexia masculina tem chamado tanto a atenção que um estudante de medicina britânico de 22 anos está fazendo sucesso na internet, divulgando uma série de vídeos com relatos sobre como superou a doença. Ele ainda responde às dúvidas das pessoas sobre os transtornos alimentares.
Aos 15 anos, Simon Metin pesava 25 kg. ?A terapia me ajudou muito. Ocupar a mente, tocar violão e o desejo de me tornar médicos foram fundamentais para a minha recuperação?, disse em um dos vídeos.
A psicóloga especialista em transtorno alimentar e obesidade, Fernanda Kalil diz que, enquanto as mulheres buscam uma magreza inatingível, os homens passaram a se sentir pressionados para apresentar músculos e força física. ?Os transtornos alimentares são patologias de etiologias múltiplas, ou seja, com causas variadas: fatores genéticos, biológicos, socioculturais, psicológicos e familiares. E a nossa cultura contemporânea é caracterizada pela busca do ideal em todos esses âmbitos, o que muitas vezes é ?adquirido? à custa de medicação?, afirma.

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