No início de junho, a Agência Nacional de Águas (ANA) declarou situação crítica de escassez hídrica em áreas de cinco estados brasileiros. Para saber se a medida afetaria a região Centro-Oeste de Minas, o G1entrou em contato com a autarquia federal, que informou que apenas as regiões do Triângulo Mineiro e Sul de Minas são abrangidas pela Declaração de Situação Crítica de Escassez Quantitativa de Recursos Hídricos da Região Hidrográfica do Paraná. Ao G1, o climatologista Ruibran dos Reis analisou o cenário atual.

Apesar disso, autarquias responsáveis pelo fornecimento de água e energia estão atentas ao manejo adequado dos recursos hídricos. A Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) e Companhia de Abastecimento de Minas Gerais (Copasa), que atuam nas cidades da região, acompanham a situação de cidades como Itaúna, Divinópolis, Pará de Minas, Oliveira e Carmo do Cajuru.

Em nenhum destes municípios há possibilidade de crise hídrica neste momento, segundo gestores das autarquias. No entanto, diante do cenário, a Cemig chama atenção para o uso consciente e racional de energia elétrica.

Em uma avaliação do atual cenário no país, o climatologista Ruibran dos Reis falou ao G1 sobre a ocorrência de chuvas que está abaixo da média histórica e declarou que a região, neste momento, não se enquadra em uma situação adversa. Contudo, pode sim sofrer com uma crise hídrica se o consumo de água não for poupado.

Chuvas abaixo da média

O último período chuvoso foi o mais seco em 91 anos no Brasil. Em Minas Gerais, a situação não é diferente. Segundo o climatologista Ruibran dos Reis, a região Oeste de Minas tem um período chuvoso bem definido, que vai de outubro a abril, e também um período seco bem definido, que vai de maio a setembro.

Ele explica que a definição do período chuvoso e seco é devido ao movimento de translação da Terra.

“Durante os meses de outono e inverno, a quantidade de radiação que chega até a superfície é baixa, e diminui significativamente a evaporação e, consequentemente, a formação de nuvens”, explicou o climatologista.

O gráfico a seguir mostra a precipitação média durante o período chuvoso na região Oeste. Veja:

Precipitação média durante o período chuvoso na região Oeste  — Foto: INMET
Precipitação média durante o período chuvoso na região Oeste — Foto: INMET

O gráfico acima aponta que os três meses mais chuvosos na região são: novembro, dezembro e janeiro. Ruibran conta que são durante esses meses que ocorrem os maiores volumes de água dos rios que abastecem o lençol freático, responsáveis pelo enchimento dos reservatórios.

O gráfico a seguir mostra a comparação entre a chuva média histórico (as barras vermelhas) e a chuva observada durante a estação chuvoso 2020/2021 (em azul).

Comparação entre a média histórica de chuvas e o período chuvoso de 2020/2021 — Foto: INMET
Comparação entre a média histórica de chuvas e o período chuvoso de 2020/2021 — Foto: INMET

“Pode-se observar que as chuvas ficaram abaixo da média histórica em quase todos os meses do período chuvoso. A chuva só ficou acima da média histórica no mês de fevereiro, entretanto, as chuvas no mês de fevereiro são normalmente na forma de pancadas isoladas de final de tarde”, avaliou.

Ruibran destacou ainda que nos meses mais chuvosos, novembro, dezembro e janeiro ficaram muito abaixo da média histórica, não houve saturação do solo e praticamente não houve abastecimento do lençol freático.

“Portanto, o período chuvoso foi extremante crítico e não se deve esperar chuvas significativas até o final de setembro. A região Oeste poderá passar nesse ano por uma das piores crises hídricas. Daí a necessidade de começar mais cedo a economizar água”, afirmou.

Abastecimento

Ao Jornal Hoje, a presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Christiane Dias, disse que a situação nas regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil é crítica, mas com o uso racional, não faltará água.

“O que estamos vendo é uma situação muito crítica e precisamos preparar os usuários. Não choveu, está chegando menos água nos reservatórios, que já estavam baixos. Então, nós temos que fazer um uso racional. É esse o alerta. Não é um alerta desesperador, de que vai faltar água na torneira. Não é isso”, afirmou.

Monitoramento

Para não se enquadrar no alerta da ANA, algumas cidades do Centro-Oeste têm monitorado o consumo de água e têm feito alertas à população sobre o período de estiagem.

Divinópolis

Em Divinópolis, o Rio Itapecerica, que é responsável pelo abastecimento de 85% da população, está com o nível de 1,37 metro na região da captação de água. Na mesma data do ano passado, o nível era de 1,57 metro.

As duas medições ainda são consideradas normais para o período do ano, mas a estiagem ainda vai durar por mais quatro meses. Segundo a Copasa, abaixo de um metro a situação é considerada crítica já que o período de seca só está começando; por isso, o investimento agora é fundamental. “Estamos tentando colocar mais um reservatório em operação em Divinópolis”, explicou o superintendente de operações da Copasa, João Martins.

“Fizemos a perfuração e equipamos mais três poços que vão operar 24 horas na região dos bairros Padre Eustáquio, Davanuze e Vale Sol. Com certeza essas regiões vão perceber em breve uma melhoria significativa de abastecimento na região”, completou o superintende.

Pará de Minas

A empresa Águas de Pará de Minas, responsável pelos recursos de água na cidade, informou que a captação que ocorre nos ribeirões Paciência e Paivas, e no Rio Pará está, neste momento, satisfatória. Considerando o período de estiagem, todos os mananciais ainda apresentam bons níveis, o que não afasta o monitoramento frequente.

Antes, a captação era feita no Rio Paraopeba, local atingido pela lama da barragem que se rompeu em Brumadinho no ano de 2019.

De acordo com a empresa, a água captada é direcionada para a Estação de Tratamento de Água (ETA) Nossa Senhora da Graças, que tem a capacidade para tratar até 240 litros/segundo. A ETA vem operando com quantidade de água suficiente para abastecer toda população.

Carmo do Cajuru

De acordo com a Cemig, o reservatório da Pequena Central Hidrelétrica (PCH Cajuru), localizado entre os municípios de Carmo do Cajuru e Divinópolis, está com 82,67% de volume útil em um universo de 100%, não tendo nenhuma situação crítica para o momento. Entretanto, a situação não afasta o risco de problemas e, por isso, o monitoramento é constante.

O reservatório em Cajuru apresenta grande importância para a região, sendo utilizado para atendimento à captação para consumo humano em Carmo do Cajuru e contribuindo para o lazer da região, que estão atendidos com o atual volume armazenado.

Entretanto, a companhia reforça que a preocupação, neste primeiro momento, é o equacionamento do uso múltiplo da água, atentando-se para o abastecimento humano, irrigação, navegação e outros.

“Temos diversos usos da água que também dependem desses reservatórios para perenizar os rios na estação seca. Então, devemos ter em mente que vamos enfrentar um período seco severo e vamos ter que articular esses usos da água para atravessar esses meses em que teremos vazões muito baixas dos rios e armazenamentos muito baixos nos reservatórios”, explicou Ivan Sérgio Carneiro, gerente de Planejamento Energético da Cemig.

Já em relação ao suprimento energético, o abastecimento elétrico vem de um sistema que é interligado, o SIN, que garante o suprimento energético como um todo. Desta forma, o abastecimento energético não é uma questão regional, mas de gestão Nacional pelo Operador Nacional do Sistema (ONS).

“Quando temos um déficit de capacidade de geração em determinada região, a energia necessária para o suprimento vem de outras regiões, o que garante o suprimento energético interligado nacional. Então o ONS está fazendo a gestão para que o suprimento energético seja atendido”, concluiu o gerente da Cemig.

Itaúna

Em Itaúna, o Saae é a autarquia responsável pelos recursos hídricos. Na cidade, a captação ocorre por meio da Barragem Benfica que, segundo o diretor do Saae, Arley Cristiano, conta com uma vasta oferta de água. A barragem chegou a transbordar ainda em 2020. Na ocasião, as comportas tiveram que ser abertas.

“Felizmente estamos em uma cidade privilegiada no ponto de vista dos recursos hídricos. Não temos um reservatório onde fazemos a captação de água. Nossa captação se dá por meio da Barragem Benfica, que tem água em abundância. Não corremos o risco de ter uma crise hídrica em função da quantidade de água na barragem”, destacou o diretor.

Segundo ele, a única preocupação é quanto ao abastecimento na zona rural, que é feito por meio de poços artesianos.

“Quando enfrentamos essas crises, normalmente baixa a vazão desses poços artesianos e com isso a oferta de água é menor. Associado ao calor, alto consumo e baixa quantidade de água, poderemos ter problemas, mas estamos trabalhando para que, quando essa crise efetivamente chegar a Itaúna, a gente já esteja melhor amparado. Estamos por exemplo, solicitando a perfuração de mais cinco poços artesianos para as áreas rurais, para aumentar esse volume de água distribuído”, afirmou o diretor do Saae.

Escassez hídrica em áreas de cinco estados

No dia 1º de junho, a Agência Nacional de Águas declarou situação crítica de escassez de recursos hídricos na Região Hidrográfica do Paraná, que abrange parte dos territórios de cinco estados (GO, MG, MS, PR e SP). A medida foi tomada após pedido do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE).

No fim de maio, o comitê emitiu um alerta e abriu caminho para que fossem tomadas medidas que evitassem um racionamento de energia até outubro, período de poucas chuvas e de seca mais severa na região Sudeste e Centro-Oeste.

De acordo com resolução da ANA, o órgão poderá definir condições transitórias para a operação de reservatórios ou sistemas hídricos específicos, inclusive com a possibilidade de alterar temporariamente condições definidas em outorgas de direito de uso de recursos hídricos.

Também em maio, o governo federal criou uma sala de crise e deu início à discussão de um plano de ações para preservar água nos reservatórios das principais hidrelétricas no país.

Conta de luz

Por causa da escassez de recursos hídricos, o nível dos reservatórios das principais hidrelétricas do país está baixo. Para tentar minimizar o problema, o governo precisa acionar mais usinas termelétricas a fim de garantir o fornecimento de energia.

Essa medida permite reduzir a geração hidrelétrica e, consequentemente, poupar água dos reservatórios. Entretanto, a energia termelétrica é mais cara e o aumento do uso pode refletir nas tarifas das contas de luz.

Em Minas Gerais, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) decidiu manter a conta de luz sem reajuste pelo segundo ano consecutivo, mas apesar disso, é importante ficar atento para economizar.

De acordo com o engenheiro de Eficiência Energética da Cemig, Thiago Batista, neste fim de outono, quando as temperaturas estão mais baixas em Minas Gerais, os clientes devem ter uma atenção especial ao chuveiro elétrico.

Em função da elevada potência, esse equipamento pode representar até 30% da fatura de energia.

“O consumo de energia depende de duas variáveis: da potência do equipamento (medida em watts) e do tempo de utilização. Como está mais frio e as pessoas tendem a utilizar o chuveiro na potência máxima, a melhor forma de economizar é reduzindo o tempo de banho. Como o consumo deste equipamento é muito representativo, uma redução no tempo de uso trará uma economia significativa”, ponderou.

Thiago Batista também destacou que os clientes devem avaliar a possibilidade de instalação de um sistema de aquecimento solar, visto que o custo desse tipo de equipamento pode se pagar em pouco tempo com a redução do consumo de energia pelo chuveiro elétrico.

Além disso, outro equipamento que merece atenção é a geladeira. Geralmente, ele é o segundo material que mais consome energia em uma residência.

“É muito importante lembrar que alimentos ainda quentes não devem ser armazenados no eletrodoméstico, pois isso sobrecarrega o aparelho e, consequentemente, aumenta o consumo. Cuidados como esses podem colaborar para a economia no final do mês”, reforçou.

Para as famílias que estão de home office, o cuidado deve ser redobrado. Segundo o especialista, ao se ausentar por curto período de tempo, o monitor deve ser desligado. Outros componentes, como impressoras e caixas de som também devem ficar desligados quando aparelho não estiver sendo utilizado.

Fonte: G1

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