O capitalismo está baseado em quatro alicerces básicos: produção de bens e serviços; lucro; consumo e investimento; trabalho assalariado.

A crise mundial do desemprego é causada por diversos fatores e no Brasil não é diferente. Na presente análise, vou me concentrar em um dos ângulos do desemprego, que é a substituição do trabalho humano por máquinas, robôs e processos automatizados de produção de bens e serviços.

O capitalismo periodicamente gera as suas contradições e estas acarretam recessões econômicas, como a atual que o mundo vive.

O dono do capital para efetuar o investimento tem no lucro o seu maior e principal incentivo.

A recente onda de permuta do trabalho por máquinas e robôs e também por processos automatizados gerou, logicamente, a diminuição do número de empregos, da capacidade de consumo das famílias, da arrecadação de impostos, a diminuição da capacidade do Estado de investir e o aumento da capacidade de produzir bens em processo automatizado, mecanizado e robotizado.

No setor de prestação de serviços, nas instituições bancárias temos que, onde hoje, por exemplo, se tem cada caixa eletrônico de atendimento, existia um funcionário para atender os clientes, e o funcionário recebia os seus salários e benefícios, e, assim, era um consumidor efetivo. Não satisfeitos com estes ajustes, os bancos, na onda dos bancos digitais e sem agências, informatizam e digitalizam seus processos de trabalho, ocasionando menor necessidade de pessoas no trabalho, mais lucros e, por consequência, causam menos consumo no mercado. No futuro, os bancos terão grandes departamentos de tecnologia, de atendimento ao cliente e de definição dos negócios.

Em outra frente, na produção de produtos, as indústrias permutam a mão de obra por máquinas e robôs, pois estes têm inicialmente um custo financeiro alto para a sua aquisição e no longo prazo são atraentes por não terem salário, benefícios, não fazerem greves e gerarem produtos com menos defeitos. Assim, a mesma indústria que tem aumentada produtividade e o número de produtos fabricados, não encontra mercado de consumo em tamanho suficiente para absorver a sua própria produção.

Em síntese, o setor privado na busca por maiores lucros e para enfrentar a concorrência, procura a eficiência dos seus processos de trabalho, com maiores lucros, menores custos, menores custos fixos de salários e, por ironia, se mostram abismados com o pequeno e limitado mercado de consumo, passam a criticar o governo sobre o acirramento da diminuição do emprego e do consumo.

E é um ciclo ainda sem solução, onde os empresários substituem os trabalhadores por máquinas, robôs e processos automatizados, cobram do governo soluções para a falta de emprego, o governo, por sua vez, aprova subsídios para o setor produtivo produzir mais emprego, mas o setor produtivo, preocupado com os ganhos de lucros imediatos e pressionado pela concorrência, busca produzir mais com menos empregados. É a lógica capitalista realizando a sua própria contradição, repito, sem solução.

Esta situação causa o desaparecimento de diversas categorias de trabalhadores, sem o correspondente aparecimento de novas profissões na mesma quantidade e no mesmo limiar de tempo.

Por sua vez, os meios de comunicação propalam como uma grande vitória o fato de termos melhoria dos níveis de emprego e da confiança dos consumidores, pois o mercado de consumo necessita destes fatores. A incógnita é como podemos ter um mercado de consumo forte e sustentável sem a existência de um dos tipos de consumidores, que é o trabalhador ocupante de emprego?

Podemos aventar diversas razões para os níveis elevados de desemprego. Uma delas é o sistema capitalista buscar lucros a qualquer custo, e isto é um fracasso social e até mesmo empresarial, por engendrar a sua própria destruição, pois o mesmo trabalhador, com custo fixo para o seu empregador, é também consumidor e reprodutor do modelo capitalista de realização de lucros. Por outro lado, não se pode negar, o fato do capitalismo sobreviver do aparecimento do novo e da destruição de formas antigas de produção, com a necessidade crescente de inovação e procura de novas formas de realização de produção mais eficiente.

Diante de tantas contradições e tantos interesses divergentes, seja o empresário na busca do lucro, seja o trabalhador na busca por emprego, seja o governo na busca de paz social e aumento de impostos, constata-se a necessidade de se estabelecer o diálogo nacional, com a inclusão de todos os agentes econômicos, sociais e políticos, para a discussão de criação de novas formas de emprego, com o objetivo de impulsionar e criar novas formas de emprego formadores de renda, para conceber um novo ciclo positivo de crescimento econômico.

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