Temida no passado, quando ainda não existia o antibiótico Penicilina a escarlatina vem passando despercebida ao longo dos últimos anos. Tanto é que, quando um surto da doença surgiu no Reino Unido, na época da primavera, em março deste ano, foi motivo de estudos que ainda estão em andamento.

Em Belo Horizonte, a enfermidade, que ataca justamente crianças e jovens entre 5 e 15 anos principalmente nesta estação do ano, levou um colégio da capital a emitir um alerta aos pais de alunos da instituição, após alguns estudantes serem diagnosticados com a doença.

Causada pela bactéria estreptococo beta hemolítico, do grupo A, a escarlatina não gera um quadro grave em pacientes. O grande problema, no entanto, é que, se ela não for tratada adequadamente, poderá trazer complicações sérias no futuro, como febre reumática e problemas cardíacos crônicos.

“Parece-me que realmente houve um crescimento zonal da doença. Neste ano, tive alguns pacientes em meu consultório, mas nada muito alarmante. O importante é prestar atenção no filho e nas características da doença e levá-lo ao médico para que se faça o diagnóstico e se evite complicações. O tratamento é bem eficaz”, afirmou o médico membro da Sociedade Mineira de Pediatria, Nelson Lobo Martins.

Entre as características da enfermidade estão manchas vermelhas pelo corpo e pela garganta, febre alta e dores musculares. “Quando vi a mancha vermelha no corpo do meu filho, pensei na hora que era rubéola, que, para mim, era algo mais comum. Depois que o médico me explicou que era a escarlatina. Eu nem me lembrava dela mais”, contou a fisioterapeuta Carla Linhares, 38, que teve seu filho de 8 anos infectado pela doença no início deste mês.

Contágio

Normalmente, a sala de aula é um dos lugares mais comuns para se contrair a enfermidade, conforme o pediatra Nelson Lobo Martins. “A escola é o lugar ideal para adquirir a doença. Quando aparece um caso da doença em uma sala de aula, é de se esperar que aconteçam outros. Não há vacinação. As crianças ficam muito próximas, e o contágio, que é muito fácil, pode ser feito por uma tosse ou pelo compartilhamento de um copo”, explicou.

Segundo o especialista, após o aparecimento de um caso, o certo é fazer como o colégio: emitir um alerta e orientar os pais a procurarem um médico, caso haja sintomas. “O ideal é não ir à escola por pelo menos quatro dias depois do tratamento”, orientou.

Mundo registra surtos na América do Sul, Ásia e Europa

No Reino Unido, onde a evolução da escarlatina está sendo estudada, o número de casos entre 2015 e 2016 (17.586) é o maior desde 1967, quando 19.305 crianças tiveram a doença. Por conta disso, a autoridade de saúde pública da Inglaterra (PHE, na sigla em inglês) chegou a emitir um alerta sobre a enfermidade em abril.

Além do Reino Unido, também ocorreram surtos da doença neste ano em Hong Kong, na China, e em outras grandes cidades da Ásia, conforme o professor Mark Walker, do Centro de Doenças Infecciosas da Austrália, em entrevista à emissora de TV BBC, de Londres.

“Durante os últimos cinco anos, houve mais de 5.000 casos em Hong Kong, algo que representa dez vezes o número médio de casos registrados anteriormente. E foram mais de 100 mil casos na China”, disse ele que realiza um estudo sobre o tema.

Em entrevista à mesma emissora, a pesquisadora Bem Zakour, que também participa dos estudos, informou que há registros de casos em que a doença não foi curada com o tratamento cotidiano. “Temos, agora, uma situação que poderia mudar a natureza da doença e fazê-la resistente a vários tratamentos, que, normalmente, são receitados para essas infecções respiratórias”, disse. Neste mês, Buenos Aires, na Argentina, também emitiu um alerta em relação à enfermidade.

 

Fonte: O Tempo||http://www.otempo.com.br/cidades/escarlatina-volta-a-preocupar-1.1391770

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