Dos diários aos blogs, escrever sobre si é, para muitas pessoas, uma forma de tornar o dia a dia mais leve. Em busca de alívio e desabafo, a escrita tem função terapêutica para quem resolve derramar emoções, dificuldades e atitudes cotidianas na página ou na tela em branco. Organizar melhor o pensamento, refletir com mais profundidade sobre fatos passados ou simplesmente se libertar de sensações ruins são algumas das possibilidades que o registro descompromissado da rotina abre para quem se aventura em busca de mais bem-estar.
Única estudante deficiente em uma turma do curso de artes cênicas da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, Júlia Maia se sentia incomodada por saber que não conseguia expressar muitas questões sobre as dificuldades que enfrentava. Se, de um lado, os colegas não tinham coragem para perguntar o que gostariam de saber; Júlia, de outro, tinha vergonha de se abrir e revelar, pela fala, as singularidades da sua condição. A jovem de 28 anos sofre de ataxia congênita, síndrome caracterizada pela perda da força muscular. ?Assim como as pessoas têm vergonha de perguntar, eu tenho de falar?, explica. Em 2009, a estudante resolveu criar um blog para contar e desmitificar por meio da escrita a rotina que leva e mostrar as próprias impressões sobre a vida.
A estudante começou anotando sobre pequenas provocações que recebia ou mesmo sobre indagações que tinha. ?Eu quis me expressar, ter minha voz. Muitas vezes, não conseguia contar minhas angústias falando. Escrever foi uma forma de dizer o que gostaria?, lembra. A criação do blog expandiu o alcance das anotações de Júlia e possibilitou que outras pessoas tivessem contato com as reflexões da estudante. Ela acredita que compartilhar a vivência contribui para expandir novas ideias. ?Todos podem transmitir conhecimento e aprender com a experiência que o outro tem?, afirma.
?Escrever me traz um bem-estar incrível. Tenho seguidores, pessoas que me acompanham?, diz a estudante. Além de relatar no blog as dificuldades, a estudante deseja mostrar, por meio dos textos, que, apesar da deficiência, pode realizar muitas atividades. ?Como muitas pessoas não têm coragem de perguntar, acredito que a gente deve, sim, esclarecer.?
Presidente da International Stress Management Association no Brasil (Isma-BR), a psicóloga Ana Maria Rossi defende que as boas sensações que a escrita proporciona são reais e têm uma fundamentação fisiológica. ?Não é meramente uma fantasia, algo banal. Quando a pessoa escreve, uma área do cérebro importante, o córtex pré-frontal, é ativada. Ela é a responsável por esses benefícios?, explica. Uma pesquisa realizada pelo ISMA-BR com 1000 pessoas de São Paulo e Porto Alegre investigou como elas lidavam com situações importantes e buscou compreender que atividades eram negativas ou positivas nesse contexto. Vinte e três por cento dos entrevistados, segundo a especialista, afirmaram que o ato de escrever era um aspecto positivo e que ajudava a aliviar o estresse causado pelos problemas cotidianos.

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