Um dos estudos mais detalhados já feitos sobre o DNA de gêmeos idênticos conseguiu quantificar as diferenças genéticas que surgem entre eles no começo da gestação, logo depois que eles se transformam em embriões separados.

Em média, calculam os cientistas, tais gêmeos podem ser distinguidos por cerca de cinco mutações (alterações no DNA) ocorridas no início do desenvolvimento embrionário. Trata-se, é claro, de relativamente pouca coisa quando se leva em conta a enorme semelhança genética entre irmãos gerados dessa forma, mas ainda assim o efeito pode ser significativo no que diz respeito a doenças e características presentes em cada gêmeo de maneira diversa, as quais podem ser influenciadas por variações no genoma.

A pesquisa responsável por fazer os chamados gêmeos monozigóticos parecerem menos idênticos do que se imagina acaba de sair na revista especializada Nature Genetics. Coordenado por Hakon Jonsson, da empresa islandesa de CODE genetics (o nome da companhia é escrito em minúsculas mesmo), o estudo analisou o DNA de 381 pares de gêmeos e dois grupos de trigêmeos, vasculhando ainda o material genético dos pais, cônjuges e filhos de cada irmão, já que isso permite rastrear quando e em quem eventuais mutações aconteceram.

Os gêmeos monozigóticos em geral surgem entre quatro e sete dias após a fecundação de um único óvulo pelo espermatozoide, durante as rodadas iniciais de multiplicação de células que formam o embrião. Em determinado momento, por razões que não estão totalmente claras, esse único embrião pode se dividir e formar dois novos embriões separados—em tese, carregando o mesmíssimo DNA.

No entanto, conforme o desenvolvimento progride, o material genético das células dos futuros bebês continua sendo copiado (já que a grande maioria das células humanas precisa carregar seu próprio DNA).
E isso leva a erros de cópia, que podem estar presentes nos mais diferentes tipos de célula. Como se trata de um processo que é (em grande medida) aleatório, não há razão para achar que ocorrerão as mesmas mutações em ambos os gêmeos.

A questão é que a maioria dessas mutações será apenas somática (do termo grego “soma”, corpo), ficando restrita ao organismo da pessoa. No entanto, mutações também podem afetar as células germinativas—óvulos e espermatozoides—e, assim, podem ser transmitidas para os descendentes. Se a mesma mutação for somática e germinativa, trata-se de um indício forte de que ela ocorreu quando o organismo da pessoa estava no começo de seu desenvolvimento e se propagou por boa parte dele.

Para entender com que frequência isso acontecia em gêmeos monozigóticos, a equipe obteve amostras de células do sangue e da boca das centenas de voluntários e sequenciou (ou seja, “soletrou”) o DNA deles com o que se chama de uma grande cobertura—na maior parte dos casos, mais de 150 vezes. Grosso modo, seria como reler o mesmo livro repetidamente, para não deixar passar nem uma só vírgula ou letra, e depois fazer a mesma quantidade de leituras numa edição muito semelhante desse livro, para ver se houve algum erro na edição.

Como seria de esperar, a primeira análise revelou dezenas de mutações diferentes entre os membros de cada par, e esse número tendia a ser maior com a idade dos voluntários (porque as mutações somáticas costumam se acumular ao longo da vida).

No entanto, uma parte dessas mutações estava presente na maioria das células da mesma pessoa, o que indica que elas provavelmente eram “descendentes” de uma célula mais antiga que tinha sofrido a mutação original no começo do desenvolvimento—ou seja, ainda no útero.

O que confirmou isso foi a análise comparativa envolvendo também o DNA de pais, filhos e cônjuges dos gêmeos, já que a transmissão de uma mutação para os descendentes mostra que ela é germinativa e sua presença em células não reprodutivas confirma que ela também é somática—mais uma vez indicando que ele ocorreu originalmente no início do desenvolvimento embrionário.

É claro que existe variabilidade—alguns gêmeos ficam realmente muito perto de ser geneticamente idênticos, enquanto outros se diferenciam por um número de mutações maior que a média. Além disso, as alterações podem envolver tanto trocas de uma única “letra” química de DNA quanto inserções ou deleções, ou seja, trechos de DNA que foram inseridos ou apagados no genoma dos irmãos.

Fonte: O Tempo Online

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