Seria possível uma unidade de saúde funcionar sem contar com materiais simples como luvas, gaze, papel higiênico, material de limpeza? E sem remédios? E se a estrutura das casas que abrigam os postos de saúde for completamente inadequada para o atendimento médico? Pois essa é a atual condição de trabalho (?) de parte dos profissionais da saúde em Formiga e onde milhares de pessoas são atendidas. Isto é o que afirmam alguns médicos que atendem em postos do Programa Saúde da Família da cidade; decididos a suspenderem suas atividades até que os problemas sejam sanados pela administração.
Em documento enviado por alguns destes profissionais ao Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRM/MG) no início do mês de janeiro, é informada a imediata suspensão das atividades profissionais dos mesmos, por falta de condições adequadas de trabalho, o que compromete a saúde dos usuários e dos profissionais de saúde.
Como se não fossem suficientes as informações repassadas pelos médicos, essa semana mais uma denúncia chegou à redação do Nova Imprensa, dando ciência sobre problemas em autoclaves (equipamentos utilizados na esterilização de instrumentos médico-hospitalares) em Postos de Saúde e no Pronto Atendimento Municipal (PAM). Os equipamentos, pelo menos 4 deles, estão sem funcionar há mais de dois meses e vários pedidos foram feitos por funcionários para que os mesmos fossem consertados, mas a resposta da Secretaria de Saúde teria sido de que o período era de contenção de despesas, assim sendo…
A situação é mais grave no PAM devido às centenas de atendimentos diários realizados no local. Atualmente, uma vez por semana, profissionais do Pronto Atendimento pegam ?emprestada? uma autoclave do Centro de Imagens para esterilizar equipamentos.
Reclamações sobre falta de remédios são comuns. Na segunda-feira (3) dona Maria Borges da Cruz, moradora do bairro Novo Horizonte e que é atendida no PSF do bairro Bela Vista procurou ajuda por meio do jornal. Ela apresenta vários problemas de saúde como diabetes e pressão alta e hoje está em estado depressivo e como se as questões de saúde não fossem o bastante, vem encontrando mensalmente, problemas para ter acesso aos medicamentos prescritos. ?Meus remédios são controlados, não posso ficar sem, e toda vez me falam no posto que estão em falta e acabo ficando muitos dias sem a medicação?, contou a idosa. O problema mais recente foi com o antidepressivo. Para consegui-lo dona Maria foi até a farmácia da Prefeitura, ao PSF do bairro e chegou a ir ao prédio da Secretaria, no Edifício Antônio Vieira buscar ajuda, mas nada foi resolvido. ?Os médicos sempre receitavam 60 comprimidos de Diazepam. Agora quando fui renovar a receita, outro médico me receitou apenas 30, mas não me explicou o porquê da diminuição da dosagem. Além disso, não consigo o Diazepam em lugar nenhum, no fim das contas estou sem tomar o remédio?, encerrou dona Maria.
Na quarta-feira (5), nova denúncia. Dessa vez, o problema ocorreu no Posto de Saúde do Centro. Nossa equipe foi convidada por um usuário que não quis se identificar, a comparecer ao PSF onde ele, há mais de uma semana, tentava receber o remédio Sinvastatina (que reduz os níveis de colesterol e lipídios no sangue e é utilizado, dentre outros por hipertensos e diabéticos).
Assim que chegamos, a atendente que neste mesmo dia já havia recebido o usuário e lhe informado sobre a falta da Sinvastatina entrou em contato (por telefone) com a farmácia da Prefeitura e de imediato nos disse que o remédio havia acabado de chegar e que até a quinta-feira (6), no período da tarde, estaria disponível para os atendidos nos PSFs da cidade. Segundo informações apuradas pelo jornal, o remédio de uso contínuo, já estava em falta há pelo menos duas semanas em todos os postos. ?Estou sem o remédio há vários dias, se isso acontece, quando o tomo passo muito mal e dou diarreia, porque o remédio é forte e retira a gordura acumulada nos dias que não fiz uso, de uma vez?, contou o usuário que pensa em adquirir o medicamento caso o novo prazo não seja cumprido, para evitar maiores danos a sua saúde.
Na Prefeitura
Nesse primeiro ano de administração, várias vezes a redação do Nova Imprensa recebeu denúncias sobre a falta desses mesmos materiais e de problemas na estrutura. Atendimentos odontológicos chegaram a ficar suspensos em diversos postos, por quase um mês, o que também foi noticiado pelo semanário. Porém, todas as vezes estas informações foram desmentidas pela atual administração por meio da Secretaria de Comunicação em notas oficiais. Dessa vez não foi diferente, apenas sendo admitidos parcialmente, os problemas com as autoclaves e na estrutura dos postos.
Confira a nota enviada essa semana pela Secretaria de Comunicação após ser, mais uma vez, questionada sobre os problemas:
?Não há qualquer registro de falta de material básico ou remédio nos postos do Bela Vista, Água Vermelha, Engenho de Serra, Alvorada e Souza e Silva. Caso algum posto registre qualquer situação nesse sentido, a Secretaria de Saúde vai providenciar a solução imediatamente, já que há os materiais e remédios em estoque para reposição. A Diretoria de Atenção Básica telefonou nesta terça-feira, dia 4, para diversos postos para conferir a situação e não encontrou nenhuma anormalidade. Tudo indica que essas informações sobre esses problemas específicos nos postos não passem, na verdade, de boatos ou mal-entendidos (grifo nosso).
Em relação ao Diazepan, essa medicação somente é fornecida na Farmácia Municipal, no Pronto-Atendimento e no Caps (Centro de Atenção Psicossocial). Portanto, não há que se falar em distribuição em Postos de Saúde.
Sobre a estrutura dos postos, a Secretaria de Saúde tem consciência dessa situação, que se refere a uma minoria das unidades de saúde e vem de muitos anos atrás, e já está trabalhando para garantir estrutura mais adequada a alguns deles. Em breve, novidades serão divulgadas.
Em relação às autoclaves, o conserto está sendo providenciado. No momento, as peças já foram compradas e o fornecedor fará a entrega nos próximos dias. Apesar desse contratempo, o serviço em momento algum foi prejudicado, uma vez que a esterilização foi devidamente realizada no Centro de Imagens, que é a central de esterilização da Secretaria de Saúde?.
Falta de condições de trabalho nos PSF?s é confirmada por médicos que acionam CRM-MG
Em janeiro, um documento foi enviado por alguns dos profissionais ao Conselho Regional de Medicina, informando a imediata suspensão de suas atividades.