Um estudante de 11 anos foi criticado no grupo de WhatsApp da Escola Estadual Aníbal de Freitas, em Campinas (SP), após ter sugerido um trabalho com tema LGBT. Assim que mandou a mensagem, o garoto foi atacado por pais de alunos e funcionários da escola que disseram que a ideia era “absurda”. A família do jovem registrou um boletim de ocorrência para denunciar “preconceito e intimidação”. A Secretaria Estadual de Educação informou que vai enviar um supervisor de ensino à unidade para “tomar as medidas cabíveis”.

Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP-SP), o boletim, registrado pela internet, será direcionado ao 7º Distrito Policial, que ficará responsável por abrir ou não o inquérito. O caso aconteceu na sexta-feira (11) e ocorrência foi registrada no sábado (12).

A irmã do menino foi quem registrou o boletim de ocorrência e também fez um relato no Facebook para denunciar o episódio. Por telefone, a autônoma contou ao G1que o estudante mandou uma mensagem no grupo da sala, do 6º ano do Ensino Fundamental, com uma proposta de estudo sobre o mês do Orgulho LGBT, celebrado em junho.

Capturas de tela e áudios enviados por ela ao G1 mostram que, após a sugestão, houve uma sequência de mensagens nas quais pais de alunos e pessoas que se identificaram como sendo da “direção” afirmaram que a ideia do garoto era, além de “absurda”, “desnecessária”, e solicitaram que ele apagasse a mensagem.

Chorando ao telefone

A irmã da criança ainda afirmou que chegou em casa na sexta-feira, quando viu o irmão chorando, falando ao telefone com alguém que disse ser a coordenadora da escola.

“Ela ligou para o meu irmão e disse para ele que a sugestão era um absurdo e inadequada para a idade dele. Ela ainda disse que se ele não apagasse a mensagem, iria tirá-lo do grupo. Justo agora que, com as aulas online, os grupos são tão importantes. Nunca pensei que uma coordenadora pudesse falar desse jeito com um aluno”, afirmou.

A irmã do estudante também contou que chegou a discutir com a mulher e afirmou que foi questionada se ela também não achava inadequado uma criança sugerir um trabalho com tema LGBT. A autônoma, que também está no grupo da sala, disse que mandou áudios criticando a postura dos pais e da escola. No entanto, segundo ela, logo depois o grupo foi bloqueado e só funcionários da unidade ficaram aptos a enviar mensagens.

Trecho do relato escrito pela irmã do garoto no Facebook, após a denúncia de preconceito em Campinas — Foto: Reprodução/Facebook

“Eu não vou permitir que façam isso com meu irmão. A gente tem uma ótima relação com a minha mãe, mas ele mora comigo e com meu marido, porque ele prefere assim. Então eu sou responsável por ele. Aqui a gente fala sobre tudo, não temos preconceito”, afirmou.

Isso não deveria existir nem no passado, mas, nos dias de hoje, uma instituição de ensino, que deveria ensinar a não ter preconceito, promover o preconceito dessa forma, é inaceitável”, completou.

De acordo a irmã do estudante, até no domingo (13), não houve nenhum contato da direção da escola com a família sobre o episódio. Além disso, a autônoma afirmou que o irmão ficou muito abalado, chorou muito e ficou até sem comer. “Eu estou revoltada com o estado que as pessoas deixaram meu irmão”, explicou.

O que diz o estado

A Secretaria Estadual de Educação informou, em nota oficial, que repudia qualquer tipo de preconceito “dentro ou fora do ambiente escolar”. Além do supervisor, a pasta também enviará à escola uma equipe do Programa de Melhoria da Convivência e Proteção Escolar (Conviva SP) para “apoiar o estudante, sua família e a comunidade escolar. Veja a nota da pasta na íntegra:

“A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Seduc-SP) repudia qualquer tipo de preconceito, dentro ou fora do ambiente escolar. Um supervisor de ensino será enviado amanhã à escola para apurar o caso e todas as medidas administrativas cabíveis serão tomadas. Equipe do Programa de Melhoria da Convivência e Proteção Escolar (Conviva SP) também será enviada para apoiar o estudante, sua família e a comunidade escolar. A Seduc-SP também conta com psicólogos profissionais no programa Psicólogos na Educação, que está presente em todas as escolas estaduais, e já foi disponibilizado o atendimento para o estudante, que será orientado a fazer o agendamento na escola.

O respeito à diversidade faz parte do Currículo em Ação para que seja ensinado e aprendido nas escolas estaduais. Sempre dentro do contexto dos conteúdos escolares previstos para cada série e cada componente curricular. As escolas têm autonomia, dentro do seu projeto pedagógico, para organizar quando e de que forma essa temática será abordada.

Recentemente aconteceu uma formação com educadores de toda a rede durante as Aulas de Trabalho Pedagógico Coletivo (ATPCs), que acontecem toda semana, onde foram discutidos a discriminação e o preconceito e como abordar o tema dentro das escolas com seus alunos e equipe escolar.

Como uma ação, a EE Aníbal de Freitas trabalha temas transversais, em parceria com a PUC Campinas, realizando diversas palestras relacionadas à temática LGBTQIA+, direcionadas à comunidade escolar. A administração regional e a direção da unidade estão à disposição dos pais ou responsáveis para quaisquer esclarecimentos.”

Fonte: G1

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