É comum se deparar, entre os meses de maio e outubro, de Norte a Sul do Brasil, com ruas enfeitadas e aglomeradas de pessoas dançantes e cantantes, vestidas com trajes únicos e coloridos. Se você vive em Formiga, provavelmente já se deparou com uma Congada.

Este ano, as festividades se iniciaram em maio, no bairro São Judas Tadeu; e no Nossa Senhora de Lourdes, em junho. Inúmeros festeiros saíram às ruas para expor sua cultura e sua fé após dois anos sem festividades devido à pandemia.

Desta vez, a festa ocorrerá no bairro do Rosário nesta sexta, sábado e domingo (19, 20 e 21). Posteriormente, em setembro, no bairro Nossa Senhora Aparecida (Água Vermelha).

A comunidade receberá grupos de diversas cidades mineiras, além dos formiguenses. Estão confirmados ternos dos mais variados estilos como Catupé, Congo, Vilão, Moçambique e Marinheiro. Em ambos os dias, às 18h30, o cortejo dos ternos participantes sairá do “Convento”, que foi montado no início da Rua José Francino, em frente ao “Cruzeiro Iluminado” e seguirá até a Igreja do Rosário.

O público presente ainda poderá conferir um show da Banda Congadar que acontecerá nesta sexta-feira, após a Missa Conga, marcada para as 19h30.

 

Sobre o Congado

Mas afinal, o que é Congada – ou Congado? De onde surgiu essa festa que atrai foliões do país todo?

Para compreender melhor essa manifestação cultural e religiosa, de origem afro-brasileira, é necessária retornar anos atrás na história, mais especificamente no século XIIV, na época colonial, no período da escravatura.

Os africanos arrancados de suas terras e trazidos à força para o Brasil em navios negreiros em meados de 1.500, possuíam sua própria cultura, costumes e história. Com o tempo, e sendo submetidos aos abusos e exigências dos portugueses, não só esses citados acima como também as religiões começaram a se misturar.

Originalmente, a Congada era uma manifestação puramente africana, utilizada para saudar e agradecer aos Reis Congos.

Entretanto, diz a lenda que, Chico Rei, comprado como escravo e levado à atual Ouro Preto (MG), se pôs a trabalhar dia após dia em minas com o intuito acumular metais suficientes para comprar sua alforria e a de mais de 200 escravos. Libertos, os mesmos passaram a trata-lo como rei, ao mesmo tempo em que erguiam a Igreja de Santa Efigênia. Todos os anos, antes da missa dedicada à Nossa Senhora do Rosário na cidade, eles realizavam o cortejo, onde se cantava, dançava e honrava Chico Rei.

A Congada sofreu alterações com o passar dos anos e dos acontecimentos. Por exemplo, hoje, a festa é realizada como uma homenagem a Nossa Senhora do Rosário, Santa Efigênia e São Benedito – santos com os quais os escravos se identificaram em sua chegada ao Brasil. Além disso, a princesa Isabel, com sua participação na libertação dos escravos, ganhou um lugar especial na comemoração, sendo representada como uma das principais figuras da festa.

Finalmente, o festejo consiste em caminhar pelas ruas enfeitadas da cidade, tocando, dançando, cantando e atuando, representando a coroação do Rei do Congo e cultuando os santos. As letras das músicas cantadas falam sobre o sofrimento da escravidão, dos lamentos de um povo arrancado de sua terra. Contudo, são também cantos de esperança, redenção e da espera de uma vida melhor.

Embora a festa do Congo esteja longe de ser uniforme – uma vez que cada região foi acrescentando suas tradições e vivências -, ela conta basicamente com 50 a 200 – ou mais – participantes, onde os grupos são divididos em dois: Congada de Cima e Congada de Baixo. Na Congada de Cima, temos Rei, Rainha, Princesas, Príncipes, Fidalgos ou Vassalos e crianças que são chamados de “conguinhos”, todos eles liderados pelo “Capitão”.

Wanderlane Aparecido da Silva, um dos organizadores do evento no bairro do Rosário, contou ao portal UN um pouco da história da folia na cidade.

A festa acontece desde 1818, quando Formiga ainda era um município de Itapecerica. A finalidade é divulgar a cultura, folclore, e também a luta dos nossos ancestrais pela igualdade racial. Foi uma luta entre os negros e os senhores de engenho, e até mesmo a Igreja Católica. Quando a Igreja do Rosário foi demolida, nossos ancestrais passaram a festa para o Cruzeiro. Através da Congregação Mariana, a igreja, que este ano comemora 50 anos de existência, foi reerguida, e a festa voltou a acontecer lá.

A festa é registrada como Bem Imaterial do Município de Formiga e, por isso, conta com o apoio da Administração Municipal com a compra de gêneros alimentícios que são utilizados para alimentação que é servida gratuitamente aos congadeiros que participam do evento. Além disso, os recursos do Fundo Municipal do Patrimônio Cultural – FUMPAC são também disponibilizados para locação de estrutura de palco, tendas, banheiros químicos, equipamentos de sonorização e iluminação. Já a contratação da Banda Congadar foi realizada com recurso do FUMCULT – Fundo Municipal de Cultura. É importante ressaltar que a realização destas despesas tem aprovação dos respectivos Conselhos (COMPAC e COMCULT).

 

Créditos: Decom

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Com informações de Decom e Toda Matéria

 

 

 

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