Tenente Said, Cabo Ranier, Sargento Ronnie. Os nomes acompanhados de patentes são policiais e bombeiros que não deixaram de trabalhar um dia sequer durante a pandemia e perderam a vida para a Covid-19.  Para evitar novas perdas e proteger quem protege a população, Minas Gerais deve iniciar esta semana a imunização dos profissionais das forças de segurança, salvamento e Forças Armadas, uma vez que o setor foi incluído na lista dos que devem ser vacinados com as mais de 1 milhão de doses que chegaram ao estado na quinta-feira (1º).

A remessa permitirá a ampliação da vacinação, incluindo idosos entre 65 e 69 anos, e que seja dada prioridade aos policiais federais, militares, civis e rodoviários; bombeiros militares e civis; e guardas municipais. A Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) informou que dentro do grupo haverá ainda outros critérios de prioridade: trabalhadores envolvidos no atendimento e transporte de pacientes, resgates e atendimento pré-hospitalar, ações de vacinação contra Covid-19, ações de vigilância das medidas de distanciamento social, com contato direto e constante com o público independentemente da categoria.

De acordo com a Associação dos Praças Policiais e Bombeiros Militares de Minas Gerais (Aspra-MG), mais de 7 mil militares testaram positivo para a Covid-19, dos quais 155 morreram em decorrência da doença. Como o Ministério da Saúde já previa esses trabalhadores como prioridade na vacinação e as prefeituras têm autonomia para gerir suas campanhas, algumas cidades já vacinaram esse público.

Segundo informações do portal Estado de Minas, o comando-geral do Corpo de Bombeiros fez um levantamento do número de militares vacinados no estado e encaminhou à SES-MG por meio de um processo no Sistema Eletrônico de Informações (Sei). De acordo com os dados do texto, pelo menos 1.043 bombeiros militares já foram vacinados no estado. Outros 2.003 que fazem o trabalho operacional ainda não receberam a imunização.

Esses militares foram imunizados por iniciativa das prefeituras, que têm autonomia para realizar a gestão da Campanha de Vacinação. É o caso de cidades como Arcos, Itaúna, Ituiutaba, Uberlândia e Diamantina. “Foram vacinados os profissionais da corporação que estão envolvidos na resposta pandêmica nos diferentes níveis de complexidade da rede de saúde e possuem atribuições de saúde nos municípios em que atuam, realizando ações como transporte de pacientes tanto em aeronaves quanto em viaturas de Unidade de Resgate”, informou a SES-MG.

Os municípios que adiantaram essa imunização aos bombeiros reconhecem o risco em que eles são expostos, já que, diariamente, os militares atendem ocorrências em que precisam de contato direto com doentes, sejam eles com ou sem diagnósticos de Covid-19. Segundo a corporação, 20,17% (equivalente a 73.741) das ocorrências atendidas pelo Corpo de Bombeiros no ano passado se referem ao atendimento pré-hospitalar. Esta é a segunda atividade mais atendida pela corporação, que só fica atrás das ações de prevenção (20,68%).

Exposição


A vacina é esperada com ansiedade. Um bombeiro que pediu para não ser identificado contou à reportagem do Estado de Minas sobre as dificuldades do trabalho durante a pandemia. Ele lembra que, embora sejam da segurança pública, os bombeiros também atuam na área da saúde. Os militares atendem e transportam pacientes com Covid-19 ou outras doenças, frequentam hospitais e entram nas casas de várias pessoas para atender todo tipo de ocorrência, todos os dias. “Mesmo trabalhando lado a lado com médicos, enfermeiros e o Samu, todos vacinados na primeira fase, não somos considerados prioridade”, reclama.

 O militar faz parte do grupo que se expõe ao novo coronavírus mas ainda não foi imunizado. “Sabemos que todas as pessoas são muito importantes e que a vacinação é um direito de todos, afinal, zelar pela vida do próximo é a essência da nossa profissão. A questão é que somos muito expostos, em algumas unidades ainda usamos máscaras artesanais de TNT, sem nenhuma certificação, por exemplo”, denuncia o bombeiro.

Apesar de toda coragem que a tropa tem para desempenhar as funções de salvamento, muitos soldados trabalham lado a lado com o medo. “Infelizmente perdemos na última semana o sargento Brito e o cabo Ranier para Covid-19. Nós juramos servir com o sacrifício da própria vida, mas todos temos família, além de nos preocuparmos com nós mesmos, temos medo de levar doença pra casa”, lamenta.

“Já fui a ocorrência que entrou como crise convulsiva e, chegando lá, constatamos que se tratava de suspeita de Covid-19. Queria fazer um apelo à sociedade, para que quando ligarem para os bombeiros ou Samu, sejam sinceros ao responder as perguntas da triagem. Havendo recursos disponíveis, o atendimento nunca será negado, estaremos sempre à disposição, independentemente do seu problema, mas precisamos ir preparados, usar o EPI (equipamento de proteção individual) correto, saber com o que estamos lidando. Peço que as pessoas pensem na gente, apesar de nos orgulharmos do título de heróis, também somos humanos”, acrescenta.

 Sobre a denúncia de uso de máscaras supostamente impróprias, o Corpo de Bombeiros informou que “todo o material adquirido pela corporação é certificado, até por exigência dos processos licitatórios que são realizados para as aquisições”. E completou: “Todo o Equipamento de Proteção Individual tem sido adequadamente fornecido, sem problemas de fluxo até o momento e a corporação não teve conhecimento de nenhuma denúncia nesse sentido até o momento.”

Fonte: Estado de Minas

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