Lorene Pedrosa – Redação Últimas Notícias

Dentre os milhares de inscritos no tão esperado Concurso Público da Prefeitura de Formiga, que caminha para a conclusão dos trâmites para a efetivação dos aprovados, estava a jovem fomiguense Priscilla Nogueira Castro, de 28 anos.

Além do conhecido esforço de concurseiros em busca do sonhado cargo no serviço público, que demanda dedicação exclusiva e exaustivas horas de estudo, Priscilla precisou lidar com dificuldades inimagináveis para a maior parte dos estudantes. Desafios que vieram antes ainda da publicação do edital do certame.

Após crises severas de ansiedade durante a faculdade, a estudante foi diagnosticada, em 2016, como portadora da síndrome de Asperger, um estado do espectro autista. A partir do laudo médico, a então estudante de administração passou a entender e lidar de frente com os resultados da síndrome, que são prejuízos cognitivos e dificuldades sociais e sensoriais que a haviam afetado por toda a vida. Mas o que para muitos poderia ser um atestado de impossibilidade de prosseguir rumo aos projetos de futuro, para Priscilla foi motivação para não apenas superar, mas para influenciar pessoas.

A trajetória até a conclusão, em janeiro deste ano, do curso superior pelo Instituto de Ciências Agrárias pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), campus Montes Claros, foi dolorosa, com muitas crises de ansiedade e problemas de saúde, principalmente devido aos altos índices de desemprego na área escolhida pela universitária – administração.

Diante deste cenário, antes do fim do curso, Priscilla já havia se decidido pela carreira no serviço público e viu no Concurso da Prefeitura de Formiga a sua chance de ouro de voltar para a terra natal e fazendo o que gostaria. “Eu não achava correto omitir que tinha autismo, que não era neurotípica e não teria como corresponder às expectativas dos empregadores. Por isso entendi qual seria o lugar em que eu poderia contribuir com o meu trabalho, valorizar a minha qualidade de hiperfoco e ser transparente com respeito às minhas limitações”, explicou Priscilla em entrevista ao Últimas Notícias.

Conciliar a conclusão do curso superior e os estudos para o concurso testaram o psicológico da estudante à exaustão, provocando inclusive internações hospitalares. Mas o resultado veio, superando toda a expectativa da estudante que se inscreveu no concurso para três cargos (oficial administrativo, assistente de educação infantil e agente social). Nos três cargos Priscilla foi aprovada em 1º lugar dentre as vagas para deficientes, com laudos para autismo devidamente aceitos. Porém, sua colocação foi excelente, fazendo com que ela fosse aprovada em dois cargos de livre concorrência (fora das cotas) para oficial administrativo e assistente de educação infantil.

“Não me arrependo de nenhuma das dificuldades que enfrentei nesse caminho, nem mesmo de muitas vezes ter sacrificado a minha saúde mental para continuar estudando. Meu objetivo foi alcançado e isso me traz um contentamento imenso”, disse Priscilla.

Mulheres Asperger

Antes diagnosticado majoritariamente em homens, ainda na infância, a identificação do TEA em mulheres tem aumentado substancialmente nos últimos anos, mas não o suficiente para que haja material para que essas pacientes se informem e não sejam levadas pelo estigma do transtorno.

Pensando nisso e sempre em busca de mais informações, Priscilla criou um site e uma página na rede social Facebook. Um espaço que também serve para a troca de experiências e discussões sobre assuntos importantes, como o desenvolvimento de políticas públicas voltadas para esse público específico. “É um lugar para mulheres autistas se sentirem em casa. Onde podemos apoiar umas às outras. Não é fácil lidar com esse diagnóstico. Eu tive muita dificuldade para aceita-lo e nesse caminho de encontrar mais mulheres com o TEA, me deparei inclusive com casos de pessoas que pensaram em autoextermínio por dificuldade em se inserir no mercado de trabalho. Por isso, iniciativas que nos abracem, acolham e abram nossos olhos para um mundo de possibilidades são tão importantes”, finalizou Priscilla.

Conheça as páginas

Autismo e Neurociência – site

Mulheres Asperger – Facebook

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