O veneno extraído dos animais peçonhentos, como cobras, aranhas e escorpiões, é matéria-prima essencial utilizada na produção de soros, aplicados no tratamento das vítimas de acidentes com animais peçonhentos. A Fundação Ezequiel Dias (Funed) é responsável no Estado pela produção dos soros antiofídicos e antiescorpiônicos distribuídos pelo Ministério da Saúde no país.
A manutenção de um criadouro de serpentes, escorpiões e aranhas na instituição, permite a continuidade dessa produção e a garantia dos soros nos hospitais credenciados.
Uma série de projetos e parcerias estabelecidas pela fundação tem garantido, de forma inovadora, o plantel de animais necessário para manter a produção em níveis elevados para atender o Sistema Único de Saúde (SUS), mantendo também uma reserva técnica de serpentes e escorpiões. Uma das iniciativas que tem proporcionado bons resultados é a parceria estabelecida com as vigilâncias municipais de saúde.
Segundo o chefe do Serviço de Animais Peçonhentos da Funed, Rômulo Righi de Toledo, apesar de não existir nenhuma norma que determine a entrega dos escorpiões e aranhas encontrados nas residências durante as visitas realizadas pelos agentes comunitários de saúde, a Funed tem contado com a colaboração das prefeituras. Somente no primeiro trimestre deste ano, a fundação recebeu cerca de 1.200 escorpiões.
?Apenas no mês de março, em um trabalho conjunto com os agentes de campo das secretarias municipais de saúde de Ituiutaba e Uberlândia, no triângulo mineiro, foram recolhidos cerca de 900 escorpiões. Isso nos permite ter hoje um plantel com 2.100 escorpiões da espécie Tityus serrulatus, a mais comum?, explica.
Em contrapartida, técnicos da Fundação Ezequiel Dias treinam agentes das prefeituras para a captura e identificação dos animais. ?Isso é muito importante para que eles saibam capturar e acondicionar os escorpiões e aranhas de maneira correta, o que garante o destino correto dos animais. A disseminação das informações é ferramenta fundamental para manter a parceria?, afirma a coordenadora do Aracnidário da Funed, Maria Nelman Antunes Pereira.
Outro resultado importante foi a captura de 18 aranhas Phoneutria nigriventer, popularmente conhecida como armadeira e utilizada em diversas pesquisas da Funed para desenvolver novos medicamentos direcionados à saúde pública. Na fundação, o veneno dessa espécie é estudado desde 1983 e várias descobertas importantes já foram feitas, como a presença de uma toxina que tem a função de neuroproteção eficiente em casos de isquemia cerebral (derrame), outra muito eficiente no combate à dor, considerada mais potente que a morfina e também uma terceira toxina, responsável por atuar contra arritmias cardíacas. Esses estudos podem levar ao desenvolvimento de novos medicamentos a serem disponibilizados em toda a rede do Sistema Único de Saúde.
Cuidados
Diante da importância científica desses animais peçonhentos, é importante que toda a comunidade saiba como proceder em casos de aparecimento de cobras, aranhas e escorpiões.
A equipe do Serviço de Animais Peçonhentos da Funed alerta que, ao encontrar um escorpião, jamais deve haver a tentativa de capturá-lo diretamente com as mãos. É preciso usar luvas e uma pinça longa (com cerca de 20 cm). Caso não seja possível, uma pá pode ser a alternativa. Após a captura, é preciso que o animal seja acondicionado vivo dentro de um pote plástico, com furos na tampa em um algodão úmido, para permitir respiração do escorpião.
No caso de captura de cobras é preciso habilidade e alguma noção sobre a maneira correta de se realizar a captura, caso contrário, o indicado é que sejam acionados os bombeiros, policiais ambientais ou um técnico da área.
Os animais capturados podem ser entregues na portaria da Fundação Ezequiel Dias, rua Conde Pereira Carneiro, 80, bairro Gameleira, em Belo Horizonte, inclusive nos finais de semana e feriado.
Em casos de picadas de escorpião ou serpentes, o indicado é procurar atendimento médico mais próximo do local do acidente. Nunca amarrar ou cortar o local da picada, nem fazer torniquetes. Também não se deve medicar o enfermo antes do atendimento e avaliação do médico. Os paliativos não diminuem a ação do veneno, apenas retardam e dificultam o atendimento correto. Em Belo Horizonte, o Hospital João XXIII é referência no atendimento de pessoas picadas por animais peçonhentos.

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