Após encarar sua primeira final na temporada –  perdeu para o Atlético por 3 a 1 na disputa do título Mineiro -, o Cruzeiro tem nesta segunda-feira (4) uma decisão fora de campo ainda mais importante para o seu futuro: em reunião extraordinária no parque esportivo do Barro Preto, conselheiros do clube votam as solicitações de mudança apresentadas por Ronaldo no contrato de intenção de compra de 90% das ações da Sociedade Anônima de Futebol (SAF Cruzeiro). O Fenômeno já adiantou que caso as alterações não sejam aprovadas, “fica inviável” dar sequência ao negócio, mas disse estar confiante com a aprovação das mudanças.

Entre outras alterações, Ronaldo solicita que a associação repasse para o controle da SAF as Tocas da Raposa I e II como contrapartida para que possa assumir a dívida tributária do clube, calculada em cerca de R$ 200 milhões, com parcelas mensais acima de R$ 1 milhão até 2032.

Ronaldo também colocou como condição para permanecer no clube a entrada de um pedido de recuperação judicial ou extrajudicial da Associação Cruzeiro.  De acordo com o Fenômeno e sua equipe, esta seria a única alternativa para solucionar a gigantesca dívida do clube, que ultrapassa a marca de R$ 1 bilhão.

Entre os conselheiros há uma ala que se opõe às mudanças solicitadas por Ronaldo. Eles também questionam o fato de o ex-jogador, agora empresário, não ter necessariamente que investir ‘do próprio bolso’ os R$ 400 milhões citados inicialmente. De acordo com o contrato preliminar, que acabou vazado à imprensa, o Fenômeno aplicaria inicialmente R$ 50 milhões e poderia abater do restante do valor as chamadas “receitas incrementais” que a SAF conseguir trazer para o clube.

Na reunião desta segunda-feira, não há diferenciação no ‘peso’ do voto dos conselheiros. Ao todo, seriam 280 conselheiros natos, 220 conselheiros efetivos, além dos beneméritos (como ex-presidentes do clube e/ou do Conselho Deliberativo).  Os conselheiros suplentes não têm direito a voto, que é realizada de forma aberta.

Entretanto, como vários dos conselheiros natos já faleceram e muitos dos conselheiros efetivos tiveram seus direitos suspensos (seja por inadimplência ou envolvimento em denúncia de práticas irregulares), apenas 420 estariam aptos a votar.

E quantos votos afinal são necessários para aprovar as alterações propostas por Ronaldo?

Até neste ponto existe certa dúvida. Em especial no que diz respeito ao repasse das Tocas da Raposa I e II, o Estatuto cita que seria preciso 90% dos votos: “Autorizar a alienação de bem imóvel do Cruzeiro Esporte Clube, excluídas as unidades que compõem o Parque Esportivo do Barro Preto, o Centro Administrativo, as sedes Campestres, a Toca da Raposa I e II, imóveis somente alienáveis em situação altamente vantajosa para o Cruzeiro Esporte Clube, mediante proposta aprovada por 9/10 (nove décimos) dos Conselheiros”.

Se forem mesmo 420 os conselheiros com direito a voto, Ronaldo precisará contar com 378 votos a favor.  Sendo assim, na prática, precisa que praticamente todos eles compareçam a votação nesta segunda (4). Também não podem existir muitas abstenções.

Conselheiros que acreditam não haver alternativa a não ser acatar as solicitações de Ronaldo chegaram a afirmar que os 90% dos votos se referiam apenas aos presentes na reunião e não ao número total de conselheiros. Entretanto, o clube não confirma essa informação. A Raposa comunicou que a votação será transmitida pelo YouTube do Cruzeiro.

Ronaldo assinou a carta de ‘intenção de compra’ de 90% das ações da SAF Cruzeiro no dia 18 de dezembro de 2021. Ficou acordado que ele teria 120 dias para o período de transição antes de efetuar a compra em si. Esse prazo vence no dia 18 de abril.

Caso o Conselho não aprove as mudanças, a ‘Era Ronaldo’ terá praticamente terminado antes mesmo de ter sido de fato iniciada.  E o que virá pela frente ninguém pode dizer com certeza. Como o próprio Ronaldo afirmou, “as cartas estão na mesa”.  O problema é que a ‘aposta’, nas mãos de poucos conselheiros, selará o destino do gigante Cruzeiro.

Fonte: O Tempo

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