Três funcionários de um supermercado, entre eles seguranças, são suspeitos de agredir, em um cômodo escondido, um rapaz de 28 anos que estaria sob suspeita de furto no comércio – de acordo com relato à Polícia Militar, a sessão de espancamento só foi interrompida quando o trio concluiu que a vítima não tinha cometido crime.

As agressões, seguidas de injúria racial, segundo declarou o rapaz em sua denúncia, aconteceram no município de Várzea da Palma, na região Norte de Minas Gerais, no último domingo (6).

Uma mulher chegou a filmar o momento em que o homem é agarrado pelos funcionários, mas a gravação é interrompida por um outro contratado do comércio. Por meio das imagens, é possível ouvir quando ela diz: “matou (sic) o cara no Carrefour desse jeito” – as agressões denunciadas ocorreram apenas 19 dias após João Alberto Silveira Freitas, 40, ser espancado até a morte por seguranças de um supermercado da rede em Porto Alegre.

A Polícia Militar (PM) de Várzea da Palma foi acionada quando a vítima recebia os primeiros atendimentos médicos no pronto-socorro da cidade. O rapaz relatou que realizava suas compras no supermercado local quando um funcionário, já no caixa, o abordou e mandou que ele levantasse o pé para provar que a bota por ele usada não pertencia ao supermercado – neste momento, foi levantada a suspeita de que ele teria furtado o calçado.

O homem, então, alegou que não levantaria o pé, uma vez que teria comprado o sapato em um outro supermercado do município. De acordo com a ocorrência da polícia, logo em seguida à recusa, três homens, funcionários do mercado, o agarraram e o arrastaram para um quarto nos fundos onde começaram a agredi-lo com socos na cabeça, no rosto e na barriga – de acordo com prontuário médico, a vítima sofreu uma lesão no olho esquerdo, e tinha inúmeros hematomas pelo corpo.

Ainda de acordo com o rapaz, um dos suspeitos chegou a chamá-lo de “negro ladrão”. Ele relata também que permaneceu por cerca de uma hora no quarto onde as agressões teriam acontecido, enquanto um dos suspeitos ia até o outro supermercado para confirmar se a bota havia sido comprada lá. Segundo o histórico policial, após descobrirem que a bota não era furtada, os suspeitos teriam liberado a vítima e a gerente do supermercado pedido desculpas, dando a ele – como “recompensa” – as compras que ele pretendia fazer no instante em que foi abordado no caixa.

Também de acordo com o que consta no boletim de ocorrência, a polícia descobriu que um dos seguranças suspeitos recebeu atendimento médico no hospital para onde o rapaz agredido foi levado, e lá a equipe informou que o homem em questão apresentava uma fratura na mão esquerda. Militares não conseguiram encontrá-lo em seu endereço de residência. A gerente do supermercado relatou à PM que apenas houve luta corporal entre este segurança e a vítima.

Filmagem com menos de um minuto, feita por uma frequentadora do supermercado, mostra o instante em que o homem estaria sendo arrastado por outros funcionários do comércio. Apesar de não ser possível perceber com detalhes o que acontece na cena, a gravação permite ouvir a mulher dizer: “Hoje em dia, a gente tem que filmar tudo. Mata a pessoa fácil, fácil. Matou o cara no Carrefour desse jeito”, relata.

Em alguns segundos também dá para notar que alguém tenta impedir que ela filme, e a gravação é interrompida no instante em que uma criança a chorar – antes disso, a mulher diz: “Você não tem direito disso (para alguém que tenta retirar o celular dela). Você não ‘tá’ agredindo o rapaz? Eu não ‘tô’ fazendo nada demais”. Alguém chega a ameaçar chamar a polícia para ela.

Em uma outra gravação, publicada na página do Facebook “Acontece em Várzea e Região”, a vítima aparece deitada sobre uma maca hospitalar e narra em poucos segundos: “Eu ‘tô’ aqui no pronto-socorro, me recuperando das lesões causadas devido um tratamento com racismo que puseram com a minha pessoa, me chamando de “negro ladrão”, e ao fato de me arrastar e ter feito isso comigo. Espero que não fique sequela nenhuma, a situação ‘tá’ um pouco triste”.

Procurada, a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) declarou na tarde desta terça-feira (8) que um procedimento investigatório irá apurar as circunstâncias do fato, e que nenhuma envolvido foi conduzido à delegacia. “A vítima será intimada a comparecer à unidade policial para as devidas providências”, afirmou a corporação em nota.

Fonte: O Tempo Online

COMPATILHAR: