Novamente as águas rolarão rio abaixo e desta feita permitirão que uma hidrovia na Argentina continue funcionando a todo vapor. Mais uma vez, pelo andar da carruagem, os mineiros, em especial os lindeiros de Furnas, Peixoto e de outras plagas entrecortadas pelo Rio Grande, sentirão na pele o desprazer de assistirem o nosso mar virar sertão!
Se o governo estadual até então não foi capaz de divulgar nada que de concreto houvesse feito em defesa da manutenção de uma cota mínima (762) para garantir o multiuso das nossas águas, imaginamos que agora, envolvido até o pescoço com as questões da Covid-19 e o consequente rombo que ela produz no caixa estadual, é de se concluir que agora então, nada em prol desta justa reivindicação tenha origem lá no palácio mineiro.
Há exatos dez anos, conforme relembra uma matéria publicada num diário que circula nesta cidade, Formiga assistiu e abrigou com todas as honras, ilustres representantes dos governos de então (municipal, estadual e federal), promovendo o lançamento oficial de um importante plano que culminaria com o funcionamento, em menos de um ano de prazo, da sonhada Hidrovia de Furnas que, percorrendo algo em torno de 250 kms ligaria a cidade de Formiga a Alfenas.
Cálculos dos “artistas” ali presentes nos informavam o quanto economizaríamos em diesel, pneus, manutenção de estradas, e vidas não ceifadas em acidentes, pelo simples fato de podermos escoar nossas produções de riquezas (calcário, produtos agrícolas e outros), que abastecem o sul mineiro e norte de São Paulo, já que em apenas uma barcaça seria possível transportar a carga equivalente a 30 ou 40 carretas.
Ao longo do percurso, pequenos portos e centenas de outros empreendimentos estariam criando emprego e renda, com o fluxo de turistas que a hidrovia também permitiria viesse a ser ali incrementado.
E estranhamente, todo o sonho virou pó, se é que da lâmina d’água possa escapar poeira. Acreditem, pode sim! Para atender os interesses de São Paulo, ou melhor, da iniciativa privada que explora a hidrovia Parará-Tietê, tudo é possível, inclusive se promovendo o esvaziamento de nosso lago a ponto de transformar enormes regiões, primeiramente em pântano fétido e propício à proliferação de dengue; dizimando assim, criminosamente, a vida vegetal e animal que ali subsistia, para com a vinda do sol causticante, transformar o solo antes inundado, numa colcha de retalhos marcada por fissuras, nos trazendo a triste impressão de que o nosso mar, realmente, se transformou em sertão.
E lá sucumbiram centenas de pequenas e médias empresas dos mais diversos ramos que o multiuso das águas durante algumas décadas permitiu surgirem, propiciando então perda de renda e desempregos.
Esta é a nossa saga. Os inconfidentes mineiros que após perderem suas terras mais férteis para que se garantisse a este país a geração de energia e que acreditaram no sonho de JK, e por suas gerações futuras deram a volta por cima e fizeram no entorno do novo Mar de Minas, ressurgir a esperança de novos e promissores tempos, mais uma vez mostraram que tal e qual os inconfidentes, sabiam como lutar em favor deste Estado.
Mas, como explicado, o golpe foi muito bem armado por São Paulo e Paraná, com a conivência do governo federal e a displicência do mineiro que, ao que tudo indica, sem querer citar nomes, não foi, ou melhor, não foram capazes de defender a riqueza que este estado tem de mais abundante, resultou na m**** que perdura por mais de 10 anos.
A chamada caixa d`água do Brasil acabou sendo esvaziada ao longo da última década e agora, mais uma vez, acreditamos que contando com a ajuda de São Pedro, voltou a restabelecer em nossos corações a impressão de que ainda nos resta a esperança de ver aprovada a PEC de autoria do deputado Professor Cleiton e um projeto do Senador Rodrigo Pacheco, instrumentos capazes de restabelecer o status quo programado por JK.
Mas, infelizmente, quando pensávamos que a caixa d`água do Brasil voltaria aos níveis de onde nunca deveria ter saído, assistimos estupefatos numa reunião presidida pela ANA – Agência Nacional de Águas, composta por representantes de exploradores da Hidrovia, por inúmeros representantes do Estado de São Paulo, da ONS e de dezenas de secretarias e de defensores do interesse deles, menos do de Minas, todos pertencentes ao tal Comitê de crise, a declaração que, para nós, resume assim a história: A caixa d’agua de Minas, mais uma vez corre o risco de esvaziar-se e, o que é pior, desta feita para atender os interesses da Argentina. Perder para São Paulo, Paraná e para a iniciativa privada é muito ruim, mas perder pra Argentina, convenhamos meus caros, é phoda!