As pessoas se indignam com a pandemia do coronavírus. Consideram nunca terem visto situação parecida, como o isolamento compulsório, o fechamento dos estabelecimentos comerciais e públicos, a proibição de aglomerações.

Entretanto, em 1918 e 1919, tivemos a gripe espanhola, pandemia ceifadora de milhões de vidas. Também naquela época o povo recebeu orientações similares, conforme parte (reproduzida abaixo), do artigo “A influenza hespanhola”, de autoria do Dr. Clemente Ferreira, publicado no Jornal Correio Paulistano, do dia 24 de outubro de 1918:

O isolamento domiciliar espontaneo é uma providencia prophylatica de notoria eficcacia. Não visitar, nem ser visitado, evitar os logares de agglomeração popular, não se expor ao mau tempo, evitando assim os resfriamentos, que preparam o terreno, propício para a invasão da influensa, eis um conjunto de preceitos cuja observancia será meio caminho andado na defesa individual.

Importa não se deixar dominar pelo medo da molestia, pois a inhibição produzida por tal factor acarreta o desfalecimento das defesas organicas e favorece a implantação do agente morbido, qualquer que elle seja. O pavor leva ainda ao abuso de drogas, sempre nocivo.

A boa hygiene, a sã e sufficiente alimentação constituem elementos de resistencia de primeira ordem, infelizmente de difficil e muitas vezes impossivel praticabilidade no momento actual em que a deficiencia de tudo e a inacessibilidade de um sem numero de cousas essenciaes tornam precaria a saude e assás tormentosa a vida

Percebe-se, na gripe espanhola também ter sido vedado o contato entre as pessoas, com objetos e o compartilhamento de utensílios. A diferença é que o coronavírus terá um poder letal muito menor, devido as nossas melhores condições médicas, higiênicas e sanitárias. Todo cuidado é importante.

Infelizmente existe uma luta política no Brasil. Muitos consideram o seu horizonte político mais importante do que a adoção de ações necessárias para combater a doença e mitigar os efeitos para o povo. Assim, autoridades públicas federais, estaduais e municipais divergem, quando deveriam estar unidas. Jair Bolsonaro, ao antecipar a disputa eleitoral da Presidência de 2022, trava embate direto com os seus supostos adversários, como os governadores de São Paulo e Rio de Janeiro.

O governo federal, inerte, vê os governadores adotarem ações locais, como fechamento estabelecimentos e quarentena das pessoas.

Igual o trato do vazamento de óleo no litoral brasileiro, em 2019, o governo federal gasta menos energia para enfrentar os impactos e está mais preocupado em fazer declarações, postagens nas redes sociais e achar culpados (com bravatas como “esse óleo é da Venezuela” ou “esse vírus veio da China”), e, dessa forma, em situações onde se esperava ações do governo, percebemos ser a indiferença a política do atual governo federal (desgoverno) de tratar assuntos de interesse público.

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