A Polícia Civil do Rio Grande do Sul investiga um motorista parceiro da Uber por suspeita de tentativa de estupro contra uma passageira, de 20 anos, em Canoas. A vítima, Eduarda Bassani, relatou o caso nas redes sociais e disse desejar que ninguém passe pelo o que ela passou. 

“Graças a Deus eu sobrevivi a isso que aconteceu e deu tudo certo. Eu tive coragem pra ir lá e denunciar, mas quantas pessoas vivem isso e não conseguem denunciar ou vivem coisas piores e nem têm a oportunidade de denunciar. O que aconteceu foi que peguei um motorista de aplicativo para sair do trabalho, estava indo para a casa, estava tudo ok. De repente ele falou que tinha um produto que era desengordurante para tela de celular e óculos, pediu que eu experimentasse na tela do meu celular. Não dei muita bola, ele pingou um negócio no pano, passei no meu celular e tudo ok”, relatou. 

Depois, o motorista teria perguntado à passageira se ela sentiu o “cheirinho muito bom” do desengordurante. Ela disse que não sentiu. Ele, então, despejou uma quantidade maior do líquido em um pano e passou para ela cheirar. “Eu não cheguei a levar o pano até o nariz, mas quando o pano chegou até aqui – mostra ela com a mão a uma certa distância do nariz – eu comecei a tontear, começou a ficar tudo preto e ele pediu pra tirar a máscara e cheirar de perto”, contou. 

A estudante de biologia disse que colocou a mão na porta, mas o motorista travou. A porta tinha o dispositivo de destrave, ela o acionou e saiu do carro, que estava começando a arrancar. Ela chegou em casa com a ajuda de caminhoneiros. Depois, foi até a delegacia. Lá, com os advogados, a estudante disse que a empresa se negou a dar o nome completo do motorista. “A investigação está correndo, mas a empresa negou, como é isso? Empresa que levanta bandeira de proteger, de segurança à mulher, mas quando têm oportunidade de fazer alguma coisa, não fazem nada. Falam que não podem dar o nome das pessoas”, disse.

Até a tarde desta sexta-feira, o vídeo tinha sido visualizado mais de 520 mil vezes. 

Em entrevista a O TEMPO, o advogado Dailson dos Santos, que representa Eduarda, afirmou que o motorista seguiu a cliente até a porta da casa dela, mesmo após a estudante pedir ajuda de caminhoneiros. “Se ele não fosse até o endereço final, a Uber ia registrar que ele não concluiu a corrida. Minha suspeita é de que ele faria isso (dopar a vítima) perto da casa dela porque aí terminaria a corrida com ela já desmaiada, e seguiria (para outro lugar) com ela desmaiada. Se ele fizesse isso muito tempo antes de chegar (à casa da jovem), ela podia voltar a si. Nas redondezas tem vários motéis. Essa é a minha desconfiança”, afirmou. 

Negativa de informações

Santos reafirmou que a Uber se negou a prestar informações sobre o motorista. “Já na delegacia, o delegado Pablo Queiroz Rocha fez esse primeiro atendimento que a Eduarda teve e foi de excelência. O Pablo é um delegado especialista no direito da criança e adolescente e por essa sutileza de conduzir com rapidez as coisas ajudou muito. A Uber fez uma ligação de volta, já durante o registro da ocorrência, e exigiu nome, telefone e residência da Eduarda. Quando ela disse que precisava do nome do motorista, a Uber se negou. O Pablo se identificou como delegado para a Uber e pediu (o nome do motorista). Uma senhora que não quis se identificar também, de modo grosseiro com o delegado, disse que não ia passar. Inclusive, isso foi gravado e a negativa permaneceu, uma ligação de 25 minutos tentando. (A Uber) Se negou a dar apoio, poderia ter prisão em flagrante se tivesse revelado, e não quis”, disse o advogado.

O delegado Pablo Rocha confirmou que pediu as informações à empresa durante a ligação, mas que não foi atendido. Ele pontua que se identificou como autoridade policial, passou os dados pessoais, mas foi informado de que a empresa não forneceria as informações devido ao Marco Civil. “(Saber) o nome é um direito do consumidor. Eu estava exigindo como autoridade policial. Aí falei que a atendente poderia cometer crime de desobediência. Ela voltou a falar que não estava ao alcance dela resolver e que não haveria outro canal de contato. Achei bastante estranho e os fatos constaram na ocorrência”, alegou. O delegado ressaltou que a postura da empresa por meio da atendente pode configurar crime de desobediência e obstrução à Justiça. 

O Outro lado

A empresa emitiu nota sobre o caso. Confira:

A Uber repudia qualquer tipo de comportamento abusivo contra mulheres e já está em contato com as autoridades para colaborar com a investigação, nos termos da lei. A empresa acredita na importância de combater, coibir e denunciar casos de assédio e violência. Este tipo de comportamento configura violação ao Código de Conduta da Comunidade Uber e a conta do motorista foi desativada da plataforma assim que a empresa tomou conhecimento do episódio.

Vale ressaltar que a Uber está sempre à disposição para colaborar com as autoridades e possui um portal exclusivo para solicitação de dados, que está disponível 24 horas por dia, 7 dias por semana para processar as demandas, permitindo que informações importantes sejam repassadas com segurança e rapidez, isso tudo respeitando as leis de privacidade exigidas no País, em especial o Marco Civil da Internet.

Segurança é uma prioridade para a Uber e inúmeras ferramentas atuam antes, durante e depois das viagens  para torná-las mais tranquilas, como, por exemplo: o compartilhamento de localização, gravação de áudio, detecção de linguagem imprópria no chat, botão de ligar para a polícia, entre outros.

Desde 2018, a empresa se comprometeu a participar ativamente do enfrentamento da violência contra a mulher e possui diversos projetos voltados para isso, que incluem campanhas contra o assédio, podcast educativo para motoristas parceiros sobre violência de gênero e, recentemente, em parceria com o MeToo, anunciamos um canal de suporte psicológico para apoiar vítimas de violência de gênero na plataforma.

Fonte: O Tempo

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