A cerca de um ano e meio das eleições de 2022, o cenário político em Minas Gerais apresenta muitas indefinições, mas algumas possibilidades começam a se desenhar.

Enquanto o governador Romeu Zema (Novo) se prepara para buscar a reeleição, o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), é tido por algumas lideranças como provável candidato ao Palácio Tiradentes.

O Estado de Minas checou com diversos interlocutores, de círculos distintos, que composições envolvendo o pessedista têm sido cogitadas. À reportagem, fontes confirmaram – sob reserva – que uma das possibilidades pensadas é chapa que, além de Kalil, tenha a presença do presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), Agostinho Patrus (PV).
Zema, por seu turno, pode buscar apoios para se fortalecer. Se, em 2018, o filiado ao Novo se apresentou em chapa “puro-sangue”, agora o partido admite construir coligação – possibilidade reconhecida pelo governador nesta semana, em entrevista à “Jovem Pan”. Paralelamente, PT, PSDB e MDB – siglas com larga trajetória em Minas — têm rumos indefinidos. Do PSD de Kalil, há chances de outra figura importante emergir e “embolar” o cenário: o senador Carlos Viana. O EM apurou que o parlamentar considera a hipótese de trocar de partido — movimento que pode alçá-lo à disputa pelo governo. Viana deixou o comando da direção estadual no início deste ano.
Na ALMG, o bloco governista, além do Novo, é composto por deputados de PSC, Solidariedade, Podemos, Avante, PSDB e PP. Esse último partido, aliás, deve, por causa da proximidade entre o governador e o deputado federal Marcelo Aro, caminhar ao lado de Zema. O secretário-geral da atual gestão, Mateus Simões, diz que a ideia é montar um cordão pluripartidário em torno da reeleição.

“Neste momento, estamos acompanhando os movimentos políticos para tentar construir uma rede de apoio ao governador. É desejo de todos nós que ele continue no cargo. Ele parece estar disposto, e vamos concentrar esforços nesse ponto de grupos políticos, partidos, esses agentes que podem caminhar conosco. Tudo isso continuando o trabalho. A reeleição se dá também pelo trabalho, e o nosso está indo bem”, avalia.
Ainda no campo dos apoios, mas de volta ao lado de Kalil, quem deve estar ao lado do prefeito de BH é o PDT. Em fevereiro, o presidente nacional do partido, Carlos Lupi, esteve na capital mineira para conversar com o chefe do poder Executivo municipal. “Somos parceiros do Kalil. Dependendo da vontade do PDT, queremos que ele represente Minas Gerais e que a competência dele seja compartilhada com todo estado”, falou, à época. Os pedetistas trabalham para construir alianças regionais em prol do presidenciável Ciro Gomes.

Kalil tem evitado tocar em temas eleitorais. No fim de maio, em evento virtual promovido pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), afirmou que o momento é de pensar soluções para enfrentar os impactos da pandemia. “É uma indecência pensar em eleição. O povo não está interessado em eleição. Se estivesse interessado, eu não obteria 64% dos votos sem tirar a bunda da poltrona lá de casa”. A reportagem tentou entrar em contato com o diretório estadual pessedista para comentar o assunto, mas não obteve sucesso. Patrus, por seu turno, optou por não se manifestar.

Petistas e tucanos 

No PT, a ideia de lançar candidato próprio passa por dar palanque ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, legalmente apto a disputar o Palácio do Planalto. O arranjo é confirmado pelo presidente estadual do partido, o deputado estadual Cristiano Silveira. “Estamos trabalhando para ter candidatura própria ao governo e ao Senado. Esse entusiasmo tem aumentado à medida que Lula vem melhorando o desempenho nas pesquisas”, diz.
Embora os quadros petistas tenham, neste momento, a candidatura própria como uma das possibilidades, composições não estão descartadas. O partido, porém, quer levar para eventual arranjo as políticas públicas que defende. “Alianças vamos discutir se houver convite. Vamos trabalhar a possibilidade de aceitar — ou não — se houver contrapartidas. E, depois, fazer um amplo debate interno”, explica Silveira.
O PT governou Minas Gerais entre 2015 e 2018. Antes dele, com breves intervalos por causa de eleições que se avizinhavam, o estado teve Aécio Neves e Antonio Anastasia – hoje correligionário de Kalil. Assim como os petistas, o PSDB espera sinais do cenário nacional para definir os rumos em solo mineiro. Se o partido lançar um candidato ao Planalto capaz de unir o centro, a avaliação é de que a sigla precisará de um nome para construir palanque no estado. Se outra agremiação, com o apoio tucano, aglutinar forças centristas a nível nacional, os planos podem mudar.
“Não descartamos candidatura própria, não descartamos um acordo que inclua Minas em um apoio a candidatura própria à presidência. E não seria nada que nos deixa incomodados conversar com o governador Zema sobre a possibilidade de uma aliança”, comenta o deputado federal Paulo Abi Ackel, que preside o diretório estadual. 

Bolsonarismo

 O grupo próximo ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não descarta apoiar Romeu Zema, mas há quem diga que ações do Executivo estadual têm afastado o governador do Novo do Palácio do Planalto. Um dos motivos citados para o desacerto é a adoção da onda roxa, que endureceu restrições para barrar a COVID-19 — o presidente já criticou, por diversas vezes, medidas de isolamento, tidas por ele como rígidas e prejudiciais à economia. “O que a direita, os conservadores e os bolsonaristas precisam ficar atentos, agora, é se esse movimento que ele fez foi uma exceção ou se é uma tendência — continuar nesse mesmo sentido de se afastar. Se ele se afastar, não faz sentido o bolsonarismo apoiá-lo na eleição do ano que vem”, projeta o deputado federal bolsonarista Cabo Junio Amaral (PSL-MG), que vê o grupo do presidente com força suficiente para lançar nomes próprios. “Essa posição dos conservadores para a eleição do ano que vem vai depender muito mais do próprio Zema, tendo em vista que ele é um candidato favorito e que, na maior parte dos pontos, se alinha”, completa. 

MDB cogita terceira via

Oficialmente, o MDB evita tratar de assuntos eleitorais. O presidente da Associação Mineira de Municípios (AMM), Julvan Lacerda, contudo, diz que seu nome tem sido citado por correligionários. “Meu nome também é falado dentro do MDB como uma possibilidade de candidatura. Tem um movimento que surgiu dos prefeitos no meu nome para ser candidato ao Senado. Teve também, um dia, um movimento com meu nome até para compor uma chapa para o governo, com um candidato próprio do MDB, até essa questão de coligação. Mas não tem nada definido ainda. Isso é em 2022”, sustenta ele, que tem contato direto com prefeitos interior afora.
O diretório estadual emedebista está com o deputado federal Newton Cardoso Júnior, que teve seu mandato à frente da sigla prorrogado com vistas ao pleito do próximo ano. Ele admite que Julvan tem força para representar a agremiação, mas evita fazer prognósticos antecipados. “Sem dúvida, nomes como o Julvan (Lacerda) são excelentes. Temos ele como um grande representante do partido, mas entendo que 2022 só em 2022”. “O MDB para o ano que vem, certamente, será o partido mais importante para sucessão do governo do estado, para eleição do governo do estado. É o sentimento que tenho. Essa é a visão que o partido traz”, defende. 

Fonte: Estado de Minas

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