O leite deve tomar, em breve, o lugar do tomate como vilão da inflação. O produto nem chegou na entressafra – o período de escassez começa em maio – e já subiu 1,76% em março, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No acumulado dos últimos 12 meses, a alta é bem menor, de 0,93%, o que indica que a tendência de alta é mesmo recente e deve continuar, afirma o diretor-executivo do Sindicato da Indústria de Laticínios do Estado de Minas Gerais (Silemg), Celso Moreira.

A tendência natural é que o preço suba na entressafra e, neste ano, teremos outras influências além da entressafra, diz ele, para explicar que a alta do produto em 2013 será maior do que em anos anteriores. De acordo com Moreira, ?desde 2012 os custos de produção estão subindo muito e a indústria vem absorvendo parte desses aumentos, o que não será mais possível. O que está represado vai ser repassado ao consumidor, alerta.

No ano passado, o preço dos grãos foi o principal fator de alta no custo de produção. Com quebra de safra nos centros produtores, a mercadoria – que serve de matéria prima para a ração animal – ficou mais cara. Ao mesmo tempo, o período seco mais intenso tornou os pastos mais escassos e obrigou o produtor a usar mais suplementos na alimentação do rebanho.

Antecipação
O coordenador da assessoria técnica da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Pierre Vilela, ressalta que os preços já começaram a ficar mais caros. Em janeiro, o preço do litro pago ao produtor em Minas era de R$ 0,89, em fevereiro R$ 0,91, em março R$ 0,93 e, agora, tenho notícia de que já superou R$ 1 em algumas regiões, diz.

Ele explica que como a produção é reduzida na entressafra, a indústria busca garantir sua cota de mercadoria pagando mais ao produtor. E esse medo de ficar sem leite suficiente tem feito a indústria antecipar o aumento do produto na ponta. Segundo Vilela, a oferta ainda não começou a cair, o que deve acontecer a partir do mês que vem, quando começa a entressafra.

Entretanto, ele explica que, para garantir a entrega da matéria-prima, as empresas já estão remunerando melhor os produtores desde já. Vai acontecer um repique de preços agora, mas não se sustentará em longo prazo, avalia Vilela.

O diretor-sócio da MB Agro, consultoria especializada em agronegócio, José Carlos Hausknecht, afirma que o leite vai pressionar os índices da inflação, mas a alta não chegará a ser tão assustadora quando a do tomate, que subiu 122,13% no acumulado de 12 meses até março.

Não será nada que se compare ao tomate, que foi uma alta mais pontual. No caso do leite, o aumento vai ser menor, mas deve durar mais tempo, destaca.

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