Um dos principais articuladores do governo federal é Luiz Inácio Lula da Silva. E ele anda preocupado. Na semana passada, o petista procurou o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para solicitar que o deputado ‘segure’ os pedidos de impeachment que ainda assombram o mandato de Dilma Rousseff. A estratégia é clara: em meio ao debate público sobre o polêmico ajuste fiscal para 2016, qualquer ameaça pode virar uma incontrolável bola de neve.

Lula é matreiro e sabe que a instauração de um processo de impeachment pode não resultar em nada na materialidade, mas será que a situação conseguirá conter o tsunami proveniente da imprensa e do povo? Cunha, rompido com o PT, tem todas as condições de repetir o inferno que impôs ao governo federal nos primeiros meses deste ano. Entretanto, na última terça-feira (22.09), o deputado anunciou que, de fato, vai adiar a apreciação dos pedidos da oposição. A verborragia de Lula, pelo visto, surtiu efeito.

Até onde se sabe, não há nada contra Dilma. A ausência de um fator jurídico enfraqueceria o movimento pela saída da presidente. Entretanto, é praxe da política que a oposição se fortaleça e conquiste corações em favor do impeachment. A bem da verdade, para o povo, um fator jurídico pouco representa quando os preços disparam no supermercado. Não significa nada perante um pacote econômico que fez o que os mandatários sempre fazem sazonalmente: aumenta impostos. Em síntese, sem guarida popular, não há quem resista.

A situação de tensão política e econômica no Brasil pode virar um processo que carregará Dilma para longe de sua privilegiada cadeira. Isso por que a oposição está disposta a ir até as últimas consequências para ver a cadeira vazia. Algo que a presidente chama de “golpe”. Desse modo, Lula age nos bastidores, buscando reavivar uma convivência pacífica com o PMDB e pavimentando uma vindoura candidatura em 2018. No PT, não sobrou ninguém que possa garantir mais quatro anos de presidência. A despeito de sua imagem debilitada, Lula é o único que tem condições de expressar alguma representatividade nas intenções de voto.

Destarte, Dilma é culpada sim. Gastou mal o dinheiro público e não percebeu, bem debaixo de seu nariz, a existência do maior esquema de corrupção da história do Brasil. Mas criminosa, até que se prove o contrário, ela não é. O impeachment, sem um argumento cabal, será uma mancha na democracia do país, um precedente perigosíssimo. Ainda assim, como dito, a oposição pretende fazer de tudo para derrubar o PT do poder. Aguardemos os próximos episódios.

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