Aumentou o número de famílias que estão receosas em permitir que um parente seja doador de órgãos, e isso tem prejudicado os transplantes em Minas Gerais, já que a realização do procedimento depende desse consentimento.

A média mensal de doações caiu 39% neste ano em comparação a 2019 – de 207 para 126 – o que fez aumentar a fila de espera por um órgão. Atualmente, 5.235 pessoas aguardam por um doador. No fim de 2020, eram 4.618; e, no ano anterior, cerca de 4.100 estavam nessa situação. Os dados são do MG Transplantes, sistema coordenado pela Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig).

Para a coordenadora da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes do Hospital Municipal de Contagem, Renata Graziela Soares, as autoridades de saúde ainda tentam entender uma situação até então inédita: o aumento de famílias que não autorizam o procedimento. “Antes, essa recusa era de quase 30%, mas, durante o período de pandemia, essa média se aproximou dos 50%. E nós ainda não sabemos explicar o porquê”, aponta.

Os protocolos sanitários necessários neste momento de pandemia podem ter contribuído para o aumento das recusas, de acordo com a psicóloga Eliane Gonçalves Silva, do MG Transplantes. “Todo o processo acaba levando mais tempo, porque temos que seguir o manejo estabelecido pelas autoridades de saúde. Isso também prolonga a angústia da família, que, muitas vezes, acaba desistindo”, pondera. 

Também pesou na conta a redução das mortes por acidentes, tipo de óbito que facilita a doação. “O fluxo de veículos nas estradas e nas ruas reduziu-se bastante no último ano, especialmente durante o período mais duro da quarentena (com restrições de circulação mais rígidas)”, aponta Renata, acrescentando que a maioria dos doadores de órgãos são vítimas desse tipo de acidente.

Outro fator, ainda segundo a coordenadora do setor no Hospital Municipal de Contagem, é a limitação causada pela pandemia, já que vítimas da Covid-19 não podem ser doares de órgãos. “A vítima do coronavírus não pode ser doadora, e isso cria uma limitação, pois foram muitas mortes provocadas pela doença”, aponta.

Campanha

Na tentativa de tentar retomar o número de doadores, acontece neste mês a campanha Setembro Verde, que é realizada com o intuito de sensibilizar para a importância da doação de órgãos e a conscientização sobre o assunto. Em Minas Gerais, as ações são coordenadas pela Fhemig. A iniciativa ocorre anualmente e também tem como objetivo principal incentivar as pessoas a manifestarem para seus familiares a intenção de doar e esclarecer como são feitos os procedimentos. 

De acordo com a legislação brasileira atual, a autorização para doação de órgãos deve ser realizada por um parente de primeiro ou segundo grau, pai ou mãe, filhos, avós, netos. Cônjuges também podem dar permissão para o procedimento.

O que fazer

Não há burocracia para ser um doador de órgãos, não há burocracia. “Não é necessário nenhum papel. As pessoas precisam única e exclusivamente comunicar para a família o desejo de doar, pois eles (os parentes e cônjuges) são os únicos autorizados a tomar a decisão”, disse a médica.

DOAÇÃO EM NÚMEROS 

Dados sobre transplantes de órgãos em Minas Gerais 

ÓRGÃOS CAPTADOS / MÉDIA MENSAL 

2019: 2.458 / 207 

2020: 1.573 / 131 

2021 (até agosto): 1.013 / 126 

Queda na média mensal (2021 x 2019): 39% 

COMO ESTÁ A FILA: 

Há 5.235 pessoas na espera por órgãos para a realização de transplantes 

Órgãos mais aguardados:  

Rim: 2.789 

Córnea: 2.237 

Fígado: 78 

Medula: 45 

Rim/pâncreas: 44 

Coração: 38 

Pâncreas: 3 

Fonte: O Tempo

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