Uma “bomba relógio”. Um paciente diagnosticado com a síndrome da imunodeficiência humana (Aids, em inglês) recebeu essa descrição de um médico que o atendeu no hospital São Francisco, na Região Nordeste de Belo Horizonte. Mesmo com um quadro grave da doença, ele não desistiu e superou os sintomas.

O homem preferiu não revelar a identidade porque muitas pessoas da família dele não sabem dessa condição. Contou que precisou lidar com o preconceito pela orientação sexual – ele é homossexual – e abrir o jogo sobre a infecção pelo vírus HIV seria mais um tabu a ser quebrado. E ele ainda não se sente preparado.

Atualmente, vive bem. Leva a vida como qualquer ser humano saudável. A história dele com a Aids começou há mais de quatro anos. Foi quando veio do Rio de Janeiro, com o companheiro, para encontrar a família na capital mineira. Debilitado, correu para o hospital, onde fez exames e foi diagnosticado. Esse dia, ele não esquece. A data sai da ponta da língua: 30 de outubro de 2017.

Aos 34 anos, quase 1,80m e porte atlético, com 75 kg – tinha o hábito de frequentar a academia – os parentes se assustaram ao vê-lo com 30 quilos a menos. Sinal claro de que havia algo errado com a saúde do paciente. Foi só ver a balança, que ele decidiu reagir. “Virei uma caveira ambulante”, descreveu.

‘Vida que segue’

“Naquele momento, óbvio, houve o baque. Mas eu não entrei em desespero. O erro foi meu, eu que não me preservei. Tenho que assumir as minhas responsabilidades e essa foi a mais forte responsabilidade que tive até hoje”, desabafou.

Ao contar para o companheiro sobre o diagnóstico, o parceiro dele admitiu, só naquele momento, que já tinha o vírus HIV. O relacionamento deles durou dois anos, mas nunca tinham conversado sobre o assunto. Um trauma para ele.

“Lá no Rio, a gente tem o costume de falar: ‘vida que segue’. Então, vamos encarar”, contou.

A doutora Laila Gonçalves Machado foi a médica infectologista responsável pelo tratamento contra a Aids. Hoje, ela e o paciente se tornaram amigos. Essa relação de confiança entre os dois faz parte de uma nova abordagem sobre a doença, que contou com os avanços da ciência e permitiu que as pessoas que têm o vírus consigam viver uma vida comum e saudável.

São dela as explicações que você vai acompanhar a seguir. Etapas que ela seguiu com o paciente e que o levaram a viver com tranquilidade, atualmente.

Aids x HIV: qual a diferença?

O vírus HIV causa uma infecção crônica, que provoca a destruição das células da imunidade. Uma queda que pode ser lenta e silenciosa e, por isso, a importância em fazer o exame com regularidade.

Quando a imunidade fica muito comprometida, há o desenvolvimento para a Aids, que deixa o organismo suscetível a outras infecções chamadas de “oportunistas”. Geralmente, isso não ocorre em pessoas com imunidade em níveis normais.

Diagnóstico: como vencer o preconceito?

“Sempre tento esclarecer para meus pacientes que há um grande temor sobre o HIV e Aids por falta de informação sobre a doença”, explicou Laila.

Ela conta que, apesar do diagnóstico ser sigiloso, aconselha aos pacientes para que contem aos parentes e pessoas próximas para que sejam acolhidos. “O apoio de quem amamos é importante”, contou.

Há tratamentos eficazes que permitem que os pacientes tenham uma excelente qualidade de vida. O vírus fica indetectável no sangue. Quando isso acontece, ele para de transmitir o HIV e sua imunidade se normaliza. “Mas, como toda doença crônica (como diabetes e hipertensão) é necessário tomar os medicamentos e fazer o acompanhamento adequado”, aconselhou a doutora.

PEP x PrEP: tratamento ou prevenção

Os tratamentos são feitos por medicação via oral. A Profilaxia Pós Exposição (PEP) é utilizada até 72 horas depois de uma relação sexual considerada de risco. É preciso tomar o remédio por 28 dias e diminui drasticamente o risco de infecção por HIV. Quanto mais rápido iniciar o tratamento, menor a chance de contaminação.

A Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) é aconselhada para pessoas que fazem uso recorrente da PEP ou que tenham múltiplos parceiros e relações frequentemente desprotegidas. É uma medicação utilizada diariamente e impede a infecção pelo HIV. Sua eficácia é superior a 90% quando tomada corretamente. “Seria como um anticoncepcional, mas em vez de evitar a gravidez, impede a infecção pelo HIV”, explicou a infectologista.

Quais são as medicações?

Segundo a doutora Laila, desde 2017, o tratamento é o mesmo para homens e mulheres e feito com três antirretrovirais – tenofovir, lamivudina e o dolutegravir. São componentes de duas pílulas que devem ser ingeridas uma vez por dia.

“São muito bem toleradas, com pouquíssimos efeitos colaterais”, disse.

A medicação é distribuída gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Até mesmo para quem faz a consulta com o infectologista de modo particular.

Serviço

Em BH, a população pode fazer o teste rápido de detecção para o HIV nos 152 centros de saúde e também no:

  • Centro de Testagem e Aconselhamento UAI (CTA UAI)
  • CTA Leste
  • Unidade de Referência Secundária (URS) Centro-Sul e
  • Centro de Treinamento e Referência em Doenças Infecciosas Orestes Diniz (CTR DIP).

A PrEP é ofertada no Hospital Eduardo de Menezes, CTR DIP, CTA Leste e URS Centro-Sul, por meio de agendamento.

Já os medicamentos de Profilaxia Pós-Exposição ao HIV (PEP) são ofertados, em dias úteis, nos Serviços de Infectologia e, aos finais de semana, feriados e durante a noite, nas UPAs.

O HIV e a Aids em Minas Gerais

De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde (SES-MG), o maior número de casos da doença ocorre em pacientes de 20 a 34 anos, do sexo masculino. A maior incidência é em pessoas pardas, com nível médio de escolaridade.

Os dados apresentados pela SES-MG, mostram que o número de casos da doença caiu nos últimos quatro anos. Mas há uma tendência de estabilidade entre 2021 e 2020. Veja a tabela:

Incidência de HIV/Aids por adulto em Minas Gerais

Ano do diagnósticoNúmero de casos
20175.311
20185.383
20195.168
20203.969
20213.961
Total23.792

Fonte: Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais

Ainda segundo a secretaria, a principal forma de contágio é pela relação sexual desprotegida, subdividida nos seguintes grupos:

  • Sexo vaginal sem camisinha;
  • Sexo anal sem camisinha;
  • Sexo oral sem camisinha;

Entre as demais formas de contaminação, ainda existem:

  • Uso de seringa por mais de uma pessoa;
  • Da mãe infectada para seu filho durante a gravidez, no parto e na amamentação;
  • Instrumentos que furam ou cortam não esterilizados.
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Fonte: G1

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