Um interessante estudo sobre Miriam de Mercedes L. García Bachmann, doutora em Teologia pela Escola Luterana de Teologia de Chicago e Pastora da Igreja Evangélica Luterana Unida, foi divulgado pelo Observatório do Vaticano.

A autora convida a fazer um exercício de interpretação crítica e uma leitura global da figura de Miriam. Miriam ou Maria é uma das figuras mais interessantes da Bíblia, mencionada em seis textos, sendo cinco do Pentateuco. Ela é associada à salvação de Moisés quando criança (Êxodo 2) e tomando a palavra, diferentemente das muitas mulheres hebreias desses textos.

Ela é colocada no mesmo nível dos seus irmãos Moisés e Aarão. Ela é mencionada em duas genealogias, uma em Números (26, 59), que menciona também a mãe e a avó de Miriam, um dado extraordinário. De ambos os lados (como os seus irmãos) Miriam é levita (estirpe sacerdotal) autêntica. A segunda genealogia (1 Crónicas 5,29) é sacerdotal (observe- se como continua no versículo 30) e inclui novamente Miriam como irmã e não como esposa ou mãe de alguém.

Em Êxodo 15,20-21 encontramos um cântico de louvor a Deus, depois que Israel atravessou o mar, é o primeiro cântico em liberdade. Os versículos de 1 a 19 são geralmente atribuídos a Moisés, e o refrão (versículos 20 e 21) a Miriam, mas existem elementos que permitem atribuir a ela o cântico inteiro (entre outros, o testemunho bíblico segundo o qual receber os guerreiros vitoriosos com cantos e danças era tarefa que competia às mulheres: cf. Juízes 11,34 e 21,21, 2 Crônicas 35,25 e Eclesiastes 2,8). De qualquer modo, Êxodo 15,20 é o primeiro texto que menciona “Maria, a profetisa, irmã de Aarão”.

É muito estranho falar de profecia tão cedo na história de Israel. A questão é de datação dos textos, segundo a opinião mais comum, os textos poéticos são mais antigos que os textos em prosa, como os cânticos de Débora, em Juízes 5 (outro canto de louvor de uma mulher a Javé) e de Miriam. Nota-se a profecia na interpretação da vontade divina para a situação que eles devem viver, especialmente na exortação à fidelidade ao único Deus de Israel vista no texto de Êxodo (15, 20-21), ainda mais quando se nota no final do Êxodo 14 (versículo 31): o povo temeu o Senhor e confiou nele e em seu servo Moisés. Miriam, como profetisa, convida ao louvor divino, a não idolatrar nenhum ser humano, nem sequer Moisés, que fala face a face com Deus.

Um fato muito importante, encontramos no capítulo 20 de Números, que logo no primeiro versículo dedica umas poucas palavras à morte de Miriam, o que é surpreendente, já que não temos notícia da morte de quase nenhuma outra mulher bíblica. E foi uma morte não atribuída a uma punição como serão as mortes de Aarão e Moisés, vista no mesmo capítulo.

Finalmente, o único texto na literatura profética que a menciona e fortalece o seu papel de guia encontramos em Miqueias 6, 1-8, um profeta que é um típico exemplo de acusação contra Israel, por ter sido infiel ao seu Deus. Entre as repreensões que Javé dirige a Israel reza assim: Fiz-te sair do Egito, mandei à tua frente Moisés, Aarão e Maria.

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