Agravada pela dor da perda de um ente querido, a falta de informação sobre a morte encefálica foi, durante muito tempo, uma barreira para a doação de órgãos no Brasil. Os mitos sobre essa fatalidade, porém, estão chegando ao fim. É o que afirma Ben-Hur Ferraz Neto, presidente da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO).
Pessoas deixavam de doar por pensarem que a morte encefálica poderia ser reversível. Mas ela é uma morte como outra qualquer. Nos últimos anos, as famílias têm sido bem receptivas à doação, disse o presidente.
De acordo com o último balanço da ABTO, referente ao primeiro trimestre, foram realizadas no Brasil, durante o período, 372 captações de múltiplos órgãos, possíveis apenas em casos de morte encefálica – a projeção é de 1.488 até o final do ano, contra 1.237 em 2009.
Segundo Charles Simão Filho, coordenador do MG Transplantes, a situação se reflete em Minas. O Estado alcançou uma marca histórica em abril deste ano, quando foram realizadas 22 doações de múltiplos órgãos, o recorde para um único mês.
É claro que nós não desejamos isso a ninguém, pois sabemos que é um momento de dor para a família. Mas temos uma população bastante generosa e isso emociona muito, declara.
Aumentar ainda mais essa estatística é um dos passos fundamentais para reduzir as filas de espera por um transplante no país, que chega à casa dos 60 mil pacientes. A doação de múltiplos órgãos beneficia, em média, até nove pessoas. Na maioria dos casos, são aproveitados pulmões, rins, pâncreas, fígado, coração e córneas.
A morte encefálica é caracterizada pela ausência de reflexos, fluxo sanguíneo e atividades elétricas e metabólicas do tronco cerebral. Ela pode gerar desconfianças por parte de alguns familiares pelo fato de o corpo continuar respirando e com o coração batendo.
O médico Walter Pereira, coordenador do núcleo de transplante da Santa Casa e conselheiro da ABTO, conta que, nesses casos, alguns reflexos elétricos e nervosos mantêm o coração batendo mesmo após a morte. Isso pode durar poucas horas, a depender da pessoa. A respiração é mantida por aparelhos, exatamente para que os órgãos daquele doador em otencial sejam mantidos em condições para o transplante, explica.

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