De um lado, lojas fechadas e pouca movimentação de pedestres. Do outro, pista de caminhada “aberta” na marra e muita gente ignorando as recomendações médicas. O primeiro dia de recuo no funcionamento das atividades não essenciais em Belo Horizonte foi marcado pelo hipercentro esvaziado, mas também por desrespeito de parte da população em outra região da cidade.

Nessa segunda-feira (29), 88% dos leitos de UTI do SUS na cidade estavam ocupados, os casos de Covid-19 chegaram a 5.510 e as mortes, a 130.  Mas, mesmo assim houve flagrantes de pessoas caminhando, correndo e andando de bicicleta na avenida dos Andradas, na região Leste da capital. A prática de atividades físicas ao ar livre preocupa, e muito. Além de favorecer o contágio pelo novo coronavírus, é um exemplo de que, sem mobilização coletiva, todo o esforço feito até aqui para barrar o avanço da Covid-19 na cidade e antecipar o fim da quarentena pode se perder.

De acordo com o portal Hoje em Dia, há exatamente um mês, mostrou os mesmos abusos na via, onde grades foram instaladas para evitar o acesso. Mas, novamente, as pessoas empurram ou pulam a proteção de metal. Ontem, o local estava cheio de jovens, adultos e até idosos. Alguns sequer usavam máscara.

A atitude dos “furões da quarentena” foi criticada. O infectologista Sidnei Rodrigues é categórico ao afirmar que, neste momento, a melhor recomendação é que as pessoas permaneçam confinadas e se exercitem em casa. 

“Façam agachamento, exercício de aquecimento, alongamento e diversos outros para manter a forma e relaxar a cabeça. Mas não é aconselhável sair às ruas, pelo risco de contrair e transmitir o coronavírus aos familiares, principalmente aqueles que são do grupo de risco”. 

O especialista ainda classifica como irresponsável quem insiste em não respeitar as regras sanitárias. “É imprudência e a pessoa coloca não apenas a si mesma em perigo, mas também outros do convívio dela”.

“Não sei mais o que fazer. Talvez essas pessoas tenham que vivenciar o problema de perto para entenderem que não é hora de relaxar, estamos na escalada dos casos”, alerta o também infectologista Unaí Tupinambás, integrante do Comitê de Enfrentamento à Epidemia da Covid-19 em Belo Horizonte.

“A população tem que ser parceira, essas medidas são para proteger todo mundo. Não é o isolamento social que está levando à crise econômica, mas o vírus. Quanto melhor a gente enfrentá-lo, mais rápido a gente vai sair da crise econômica. Conseguimos trazer a curva de BH para agora, não podemos perder tudo nesta altura dos acontecimentos. Estamos no final da partida, se a população continuar respeitando o isolamento social, saindo só para as necessidades básicas, a gente pode achatar essa curva ainda mais”, reforça Tupinambás.

Fiscalização

Em nota, a Guarda Municipal informou que faz patrulhas preventivas diariamente. Mais de 2 mil agentes, divididos em turnos, monitoram o comércio e espaços públicos de BH para garantir as novas regras.

O infectologista Unaí Tupinambás ressalta a importância da fiscalização e do uso da máscara, cujo descumprimento poderá vir a ser alvo de multa na capital em breve. “Na Itália foi feito lockdown (bloqueio total) e as pessoas que saíssem de casa sem terem um visto para isso eram multadas em mais de 500 euros (mais de R$ 3.000)”.

Ocupação dos leitos de UTI na capital mineira chega aos 88%

Dos 990 leitos de terapia intensiva da rede pública da capital, 88% estão ocupados, aponta boletim epidemiológico divulgado ontem pela Prefeitura de Belo Horizonte. Os dados referem-se a domingo (28). Em relação aos 301 leitos de UTI reservados a pacientes com Covid-19, a taxa de ocupação é de 87%. Ou seja, pelo menos 261 pessoas estão internadas em unidades de alta complexidade na capital por causa da doença. Esse número indica que, entre os leitos de terapia intensiva ocupados por pessoas com o novo coronavírus, 47,5% estão na capital. 

Há grande demanda também para outras doenças ou traumas. Entre os 689 leitos de UTI dedicados a pacientes com outras enfermidades, 88% estão ocupados. Já em relação aos leitos de enfermaria, a ocupação geral é de 69%. No último domingo, oito pacientes que deram entrada na UPA Barreiro com suspeita de Covid-19 aguardavam encaminhamento para outros hospitais, de acordo com denúncia feita pelo médico Bruno Pedralva, secretário-geral do Conselho Municipal de Saúde de Belo Horizonte.
A reportagem perguntou à Secretaria Municipal de Saúde o motivo da demora em transferir pacientes da UPA Barreiro, já que pelo menos 40 leitos estariam disponíveis, segundo levantamento apresentado no boletim. A pasta respondeu que os leitos da Rede SUS-BH contemplam UTI e enfermaria adulto, pediátrica e neonatal. 

“A Secretaria Municipal de Saúde mantém uma central de internação que funciona 24 horas por dia, onde todas as solicitações de leitos hospitalares são analisadas por um médico regulador, que encaminha os pedidos para internação, de acordo com necessidade clínica de cada paciente”, afirmou, por nota.

Fonte: Hoje em Dia

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