No livro Memorial do Convento, de José Saramago (Obras Completas, 1, São Paulo: Companhia das Letras, 2014), na página 382, consta a afirmação: “Tudo no mundo está dando respostas, o que demora é o tempo das perguntas”.

É, se o mundo nos dá as respostas, o que temos feito de errado para acontecer uma pandemia nas proporções da atual? A pandemia do coronavírus, de repente, alterou todo quadro social e econômico do mundo. As autoridades sanitárias determinaram medidas para amenizar o efeito do vírus e evitar a saturação dos sistemas de saúde, como o isolamento social (parcial ou total), proibição de aglomerações, o distanciamento em público, uso de máscaras.

Com o isolamento, as empresas pararam e toda a logística de produção, distribuição e de serviços foi afetada. Somente foi autorizado o funcionamento dos negócios essenciais (supermercados, drogarias, etc.), mas com regras de higiene e de limitações para evitar acúmulo de pessoas.

Os restaurantes e bares fechados foram autorizados a trabalhar com entrega ou retirada no balcão, com isso tiveram de utilizar o comércio eletrônico (redes sociais para receber pedidos).

A alternativa eletrônica da telemedicina suplantou as resistências corporativas e ganhou impulso para atender a consultas básicas, dispensar o deslocamento das pessoas e atender a locais remotos. O isolamento gerou necessidade das pessoas se cuidarem, física e psicologicamente, e passou a contar com formas eletrônicas de orientação profissional às pessoas em suas casas, por psicólogos, fisioterapeutas, personal, etc.

O trabalho remoto (home office) foi adotado, nas funções onde foi possível. Todo esse quadro, demonstra a agilização de transformações digitais na sociedade. Diante das consequências econômicas, os técnicos da economia adotaram ações para liberar dinheiro para garantir a sobrevivência das empresas e das pessoas, com a liberação de empréstimos e rendas para as pessoas. Por que estamos a sofrer tanto? Sinceramente, não é pelos nossos acertos e cuidados.

Verdade, cometemos excessos, privilegiamos objetivos econômicos insustentáveis, com prejuízos para o meio ambiente e para nós mesmos. Para piorar a situação, não conseguimos a união das pessoas. Após a grande recessão mundial de 2008, as pessoas e países estão desunidos, sem consenso para atingirem os objetivos para recuperarem a economia e enfrentarem uma nova recessão.

Não é possível continuarmos dessa forma. Também era esperado estarmos unidos para enfrentar o coronavírus. Vemos, assustados, atitudes individuais, com países a interceptar compras de suprimentos médicos para o combate do vírus, disparada do preço de bens essenciais, politização de soluções médicas.

Temos perguntas a serem respondidas, contamos com suposições (da origem do vírus, da cura, da vacina, etc.) e com poucas certezas (seremos mais digitais). Somente a história, no futuro, terá explicações coerentes para o atual momento caótico.

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