Se tudo sair como o programado, o impeachment de Dilma será confirmado em 31 de agosto e Temer será efetivado na Presidência. Haverá, porém, pouquíssimo tempo para comemorações. A partir daí, a paciência dos investidores em relação ao novo governo se esgotará com uma rapidez olímpica.

“Temer terá 30 dias, no máximo, para aprovar as primeiras medidas relevantes”, afirma Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset Management. Até porque, segundo ele, os investidores já estão escaldados com promessas não cumpridas do Brasil. “Não tem mais bobo no mercado”, diz.

Confira os principais trechos da entrevista a O Financista:

O Financista: A perspectiva de que vai demorar um pouco mais para os juros subirem nos EUA deveria tornar o Brasil mais interessante para os investidores, mas eles estão cautelosos. Por quê?

Jason Vieira: Esse é o problema: os fundamentos do Brasil ainda estão ruins. O que houve, até agora, foi uma mudança de perspectiva, e não de contexto efetivo. O mercado de trabalho é um exemplo. É sempre o primeiro a sentir a crise e o último a reagir. Mesmo a melhora do contexto vai fomentar um pouco mais de desemprego, porque as pessoas que estavam desanimadas vão se motivar a buscar novamente uma vaga.

O Financista: Que medidas efetivas Temer deverá mostrar ao mercado, para provar que não mudamos apenas da boca pra fora?

Vieira: No curto prazo, a mais fulcral é evitar que a PEC do teto de gastos seja ainda mais desidratada na negociação com o Congresso. Seria um bom sinal, mas há outros. A reforma da Previdência deveria chegar ao Congresso com o máximo de medidas rigorosas para reverter a situação. Ela não pode ser enviada com propostas tímidas, enxutas. Já que se trata de um tema impopular, que vai desgastar o governo de qualquer jeito, que seja a necessária. Até porque, como sabemos, para negociar com os parlamentares no Brasil, é preciso propor mais do que se deseja, para ceder e sair com o que se quer mesmo.

O Financista: Há mais alguma medida que Temer tem que adotar?

Vieira: Já que estamos falando de medidas impopulares, é melhor tratar logo da reforma tributária. Ela é extremamente popular entre os cidadãos e os empresários, mas é polêmica entre os governadores e os parlamentares. Muitos acreditam que, sem a guerra fiscal, não terão o que oferecer para atrair investimentos para seus Estados.

O Financista: Alguns afirmam que o mercado está se autoenganando em relação a Temer. Você concorda?

Vieira: Não diria que é um autoengano. Veja o caso dos investidores estrangeiros. Há uma demanda efetiva por ativos brasileiros, porque as perspectivas estão mudando, mas eles já sabem que este é o Brasil. Ou seja: tudo pode acontecer. E, se tudo pode acontecer, é melhor esperar um pouco, até o impeachment ser efetivado. Eles já sabem que não se pode contar com ovo dentro da galinha aqui.

O Financista: Na prática, uma vez confirmado o impeachment, quanto tempo Temer terá para apresentar resultados concretos e provar ao mercado que a confiança é justificada?

Vieira: Eu diria que, após a confirmação do impeachment, a paciência do mercado será expressivamente mais curta. Eu diria que, no máximo, Temer terá 30 dias para aprovar as primeiras medidas que mostrem que o Brasil vai mesmo mudar. Não tem mais bobo no mercado, em se tratando de Brasil.

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