A democracia atual ocorre tanto nas formas de governo República ou Monarquia e é caracterizada pela participação popular nas decisões, seja de forma direta ou indireta, através de representantes eleitos. Todos os cidadãos, por consenso, podem colaborar na construção das leis para reger a sociedade, têm liberdade de expressão, coexistem pessoas de ideias políticas diferentes, convivem os ocupantes de cargos no atual governo e a oposição, e temos periodicamente eleições para garantir a alternância de ideias no governo.

O desrespeito ao modo de pensar diferente e a crença de uma superioridade de ideias para resolver todos os problemas da sociedade tem se mostrado um grande erro. A implementação de formas de governo autoritárias, seja de direita ou de esquerda, não se justifica por implicar na eliminação ou tortura de pessoas somente por pensarem diferente.

O governo de Hitler, na Alemanha, teve uma certa aceitação inicial por ter ideias contrárias ao socialismo e comunismo. O mundo percebeu tarde, Hitler ter como seus inimigos, não só os socialistas e os comunistas, mas também os judeus e todos os países vencedores da 1ª. Guerra Mundial. Neste instante, a máquina de guerra nazista já gozava do maior poder de destruição da época. Ao final da 2ª. Guerra Mundial morreram cerca de 50 milhões de pessoas e 6 milhões pelo simples fato de serem judeus.

Já o governo soviético a partir de 1920, Stalin pregou a não exportação da revolução, fortalecimento interno do governo, coletivização da propriedade rural. Para fazer as mudanças eliminou toda a oposição. Por se ter o cerceamento da divulgação de informações e o controle da imprensa, não se tem um valor exato do número de mortos e estima-se em 20 milhões de pessoas mortas. A perseguição aos inimigos ia além de suas fronteiras e o caso mais conhecido é o de Leon Trótski, o qual, mesmo refugiado no México, foi assassinado por um agente da polícia soviética, que ao fingir ser seu amigo, o matou de forma traiçoeira. Trótski foi alvejado na cabeça por um objeto pontiagudo.

No Chile, em 11 de setembro de 1973, foi instaurado golpe militar contra o governo constitucionalmente eleito em 1970, de Salvador Allende. Allende procedeu a nacionalização de grandes empresas multinacionais, com prejuízo para as empresas americanas. Os Estados Unidos determinou o bloqueio econômico e também deu apoio para a realização do golpe. O golpe foi liderado por Augusto Pinochet, até então tido como amigo do presidente e o seu chefe das Forças Armadas. Pinochet presidiu a ditadura de direita no Chile, no período de 1973 a 1990, com o saldo negativo de 3 mil mortos ou desaparecidos, além de milhares de prisioneiros torturados. Um exemplo da brutalidade do seu regime se deu no início do golpe, quando Allende com sua guarda e assessores no Palácio La Moneda estavam sendo atacados e resolveram se entregar, na ocasião, Pinochet deu a ordem para os prisioneiros serem mandados para fora do país, lugar de livre escolha, e, no meio do caminho deveriam ser jogados para fora do avião, conforme relata Heraldo Muñoz, em seu livro (A sombra do ditador: memórias políticas do Chile sob Pinochet, tradução Renato Aguiar, Rio de Janeiro: Zahar, 2010, p. 29-30).

Os exemplos são muitos, como o da China e o de Cuba, que mantêm presos políticos. Também a maior democracia do mundo, Estados Unidos, respeita todos os direitos dos seus cidadãos, mas quando estrangeiros ofendem a sua segurança, em qualquer nível, são brutalmente agredidos, inclusive com tortura.

Não se enganem. A mesma força ditatorial de direita a lhe proteger pode ser a mesma de esquerda a lhe perseguir, ou vice-versa, dependendo das forças reinantes no governo. As pessoas que viveram sob um regime ditatorial valorizam os ganhos proporcionados por uma democracia. Logo, quem não sofreu ou viveu uma ditadura deve procurar se informar do que venha a ser este regime.

O Brasil viveu os sofrimentos da ditadura militar, no período de 1964 a 1985. Há quem tente negar o ocorrido, contudo, foram graves os acontecimentos, com a justificativa de livrar o Brasil do comunismo. Foram tempos de censura à imprensa, de restrição aos direitos políticos, de perseguição policial, de tortura dos opositores e, oficialmente, quase 400 mortos e desaparecidos.

Também, em parte, a insensibilidade de alguns brasileiros é o fato dos terrores da ditadura ter atingido um pequeno número de pessoas, relativamente à sua população, e, por isto, muitas famílias não sentiram os reflexos, mas na verdade vidas foram perdidas pelo simples fato de serem oposição. Já, as ditaduras do Chile e da Argentina tiveram número de mortos e desaparecidos muito maior e, com isto, grande parte de suas famílias têm parentes ou conhecidos que sofreram com os excessos.

Agora, as práticas desumanas das ditaduras atingem toda a sociedade e esta deve se preocupar em manter suas liberdades individuais intactas. Proteger os direitos de outrem é preservar também os seus, uma injustiça aceita hoje poderá gerar a sua recorrência.

É visível em uma ditadura existir uma “aparente” normalidade na sociedade, devido as pessoas não poderem protestar, não fazerem greves, não criticarem o governo, etc., mas isto não significa que as pessoas não tenham problemas no atendimento de necessidades básicas (educação, saúde, segurança, infraestrutura, salários e condições de trabalho dignas, etc.) ou que inexistam desigualdades, injustiças e instabilidades. Elas não reivindicam unicamente por esta pratica ser vedada, sob pena de sofrerem fortes represálias fortes.

Assim, o lado positivo de uma democracia é as pessoas poderem reivindicar os seus direitos, reclamar de infortúnios e gozarem de suas liberdades individuais e coletivas, respondendo por eventuais excessos que cometerem. Também a democracia procura aprimorar continuamente os mecanismos de coexistência e os meios de reivindicação, porque por mais perfeita que uma sociedade seja ela sempre terá novos desafios a suplantar.

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