Uma caixinha negra de 12,5 x 7,5 x 1 cm vendida por R$ 200 carrega R$ 25 mil em jogos ilegais. Trata-se de um disco rígido (HD na sigla em inglês) externo, facilmente encontrado nas lojas da região da Santa Ifigênia, tradicional reduto de venda de material eletrônico da região central de São Paulo.
Um disco vendido por R$ 150 a R$ 250 pode conter até 140 jogos, que no mercado formal custariam cerca de R$ 25 mil – o valor de carro Fiat Mille Fire quatro portas zero quilômetro.
Os comerciantes que oferecem esse produto geralmente ocupam os fundos das galerias. Sem nenhum pudor, eles colam cartazes em meio a prateleiras cheias de discos piratas. Quem não vende sabe onde tem e indica. Em duas galerias, a reportagem achou quatro pontos de venda desse produto.
Com uma câmera escondida, o R7 flagrou os vendedores falando sobre o produto sem nenhum tipo de constrangimento, em meio a centenas de CDs e DVDs ilegais:
Um dos vendedores chegou a oferecer suporte técnico à reportagem, que não se identificou. Meu HD é um pouco mais caro, mas eu dou suporte técnico. Se você quiser, troco até dez jogos para você em um ano.
A Abes qualificou a pirataria em HDs como preocupante.
Quem perde mais
Entre os consoles da atual geração, o mais afetado é o Wii, da Nintendo, cujos jogos são mais leves. O custo unitário de cada jogo de Wii fica abaixo de R$ 1. O Playstation 3, da Sony, que tem jogos em Blu-ray em alta definição, tem jogos mais pesados e o custo chega a quase R$ 4 por jogo. Em Blu-ray pirata, o jogo custa em média R$ 10. Tudo muito distante do preço médio de R$ 230 praticados no mercado formal, segundo cálculos da Associação Comercial e Industrial das Empresas de Jogos Eletrônicos de Uso Doméstico do Brasil (Acigames).
A reportagem do R7 não encontrou HDs externos com jogos de Xbox 360, console da Microsoft. No entanto, Moacyr Alves Jr., presidente da Acigames, diz que na Internet é possível encontrar facilmente HDs com uma programação especial que engana o sistema de segurança da Microsoft.
Contatadas, Nintendo, Sony e Microsoft não quiseram comentar o assunto.
A reportagem também tentou obter uma resposta do poder público sobre a venda indiscriminada de material ilegal. A Guarda Civil Metropolitana, que realizou diversas ações de apreensão de objetos piratas e contrabandeados neste ano, disse que a fiscalização da área é de responsabilidade da Polícia Militar.
A PM, por sua vez, disse que essa é uma questão que diz mais respeito à Polícia Civil, mas que, mesmo assim, iria mandar um pronunciamento oficial. Até o momento em que a matéria foi publicada, o posicionamento não havia chegado.
A assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo afirmou que só o Departamento de Investigações sobre Crime Organizado (Deic) poderia se pronunciar sobre o tema. O R7 ligou e enviou e-mail para o responsável pelo relacionamento com a imprensa do órgão, mas não obteve resposta.
Jogo Justo
Moacyr Alves Jr. aponta o alto preço do game na prateleira normal do mercado como a razão para o surgimento desse novo tipo de pirataria. Segundo a Acigames, os impostos que incidem sobre cada jogo eletrônico fazem o preço ao consumidor subir 124%, ou seja, sem essas taxas, os games seriam vendidos por menos da metade do atual preço.
A Acigames defende que os jogos no Brasil devem ser vendidos por média de R$ 100. Segundo Alves, há impostos anacrônicos, como um que garantiu no final dos ano 90 reserva de mercado para empresas brasileiras de videogames. ?Empresas? que na verdade pode se resumir a uma: a Tectoy, que antes fabricava o Master System e atualmente fechou seu setor de jogos eletrônicos.

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