Se 2012 foi o ano em que o Brasil lembrou de Elis Regina por conta de suas três décadas de morte, o mesmo já está acontecendo em relação a Clara Nunes. A cantora, que faleceu em 2 de abril de 1983, após passar 28 dias em coma decorrente de um choque anafilático, quando fazia uma cirurgia de varizes, será homenageada através de tributos de outras intérpretes, relançamento de sua discografia e documentário.
É uma boa oportunidade para lembrar o legado da Guerreira, responsável pelo renascimento do samba nos anos 1970 e consequentemente por seu sucesso comercial.
Clara Francisca nasceu em 1942 em Cedro (distrito de Paraopeba, hoje Caetanópolis, a cerca de 100 quilômetros de Belo Horizonte) e adotou o Nunes da mãe nos anos 1950, quando cantava em bailes e boates da capital. Entre 1966 e 1969 gravou três álbuns que transitavam entre o samba-canção e o bolero. A partir de 1971, com a ajuda do produtor Adelzon Alves, é que ela se tornou expoente do samba de raiz, sem deixar de se debruçar sobre outras sonoridades brasileiras, como o forró e o maracatu.
?A Clara foi uma pioneira em muitos sentidos. O principal deles foi dar visibilidade a um estilo e mostrar seu valor para o grande público. Era uma época em que havia grande resistência ao samba e ela conseguiu passar por essa barreira?, considera Vagner Fernandes, biógrafo da cantora. Ele lembra que a Guerreira, como era conhecida, foi a primeira mulher a vender 400 mil cópias de um álbum – ?Alvorecer?, lançado em 1974 -, no Brasil; abraçou a cultura afro-brasileira sem medo de sofrer preconceitos e, por tabela, reconfigurou o mercado fonográfico, com Beth Carvalho e Alcione deixando, respectivamente, de cantar canções de protesto e jazz para aderir ao samba, que se tornou lucrativo para as gravadoras.
Clara também permanece na memória coletiva pelo seu vestuário. A cantora usava colares de contas, pulseiras e símbolos da umbanda, além das roupas de baiana, que se tornaram sua marca registrada. ?Ela tinha consigo uma religiosidade que estava em todos os aspectos do seu trabalho. E, à época, isso não era muito bem-visto. Mas o público ficou encantado com aquelas roupas, as pessoas sentiram uma verdade naquilo que a Clara apresentava?. O biógrafo lembra que, talvez por conta da indumentária, ela foi a artista que mais gravou clipes para o ?Fantástico?, da TV Globo.
Shows
Calixto e a paulista Fabiana Cozza, além da baiana Mariene de Castro – que lançou há poucas semanas o CD e DVD ?Ser de Luz – Uma Homenagem a Clara Nunes? -, têm apresentado o repertório de Clara em shows pelo país desde 2012, quando Clara completaria 70 anos. Ambas contam que a iniciativa partiu da simples vontade de fazer uma homenagem. ?O samba deve muito a ela. Por isso ela merece ser reconhecida?, salienta Calixto, sem medo de comparações, assim como Cozza. ?O bacana é que o espetáculo não busca imitá-la ou utilizar-se de signos ou dos adereços que ela usava. Não se trata de levar a Clara para o palco, mas mostrar suas músicas e sua brasilidade?. Ambas escolheram equilibrar grandes sucessos com músicas pouco lembradas.

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