Nada contra o samba ou o axé, mas tudo a favor do rock, diz o jornalista Lúcio Ribeiro

A cultura urbana se manifesta de múltiplas formas e em variadas ocasiões. Do rock ao rap, das intervenções de stencil ao graffiti, do skate ao basquete de rua. Muitas são as manifestações que evidenciam a dinâmica cultural estabelecida na contemporaneidade, seja nos festivais independentes ou mesmos em festividades populares tão tradicionais neste país de dimensões continentais como as comemorações do carnaval.
Neste ano, pela segunda vez, as tradicionais marchinhas carnavalescas deram lugar aos riffs das guitarras do Oiapoque ao Chuí.
O evento foi o Grito Rock Festival, que aconteceu entre os dias 1º e 5 de fevereiro, simultaneamente em 50 cidades brasileiras, promovendo a comemoração da cultura urbana durante cinco dias de muito rock, fazendo circular cerca de 500 bandas e mais de 100 produtores em todo o país. O festival também aconteceu nas cidades de Montevidéu (Uruguai) e Buenos Aires (Argentina).
O festival Grito Rock nasceu em 2003 na região centro-oeste do país e vem a cada ano promovendo o estimulo à circulação de bandas, produtores, selos, a distribuição de produtos culturais e a produção de conteúdo para todas as mídias. Dezenas de Festivais, selos, coletivos, produtoras, sites, blogs, casas de shows e bandas, já fazem parte da rede.
Conforme o coordenador de planejamento do Espaço Cubo, Pablo Capilé, um dos articuladores da iniciativa, a ação integrada é um marco na cena independente nacional pelo nível de profissionalismo, organização e articulação dos produtores do Circuito Fora do Eixo. Um festival que antes era realizado exclusivamente em Cuiabá, nos dois últimos anos (2007 e 2008) foi uma ação simultânea que integrou cidades de diferentes estados, e que promoveu a troca de know-how e o fortalecimento desta rede de trabalho que se mostra cada vez mais consistente, avaliou.
Já para o jornalista Lúcio Ribeiro, do portal IG e jornal Folha de São Paulo, o sentido rebelde do rock ajuda a quebrar o monopólio sonoro de samba e axé que toma conta do país nos primeiros meses do ano. Nada contra o samba ou o axé, mas tudo a favor do rock, diz.
O grupo formiguense Anarkaos foi uma das atrações da edição do festival sediada em São João Del Rei. A banda tocou no Retrô Cine Bar ao lado de nomes independentes como Ímpar, Churrus e Tênis. ?Eu conheço o Túlio, da banda Churrus e ele havia indicado a Anarkaos para tocar no local. Aí apareceu a oportunidade e a organização do evento nos convidou?, relata Branco, baixista do grupo de rock formiguense.
Jucielle Leal, vocalista-free-lancer da Anarkaos, destacou a organização bem feita do evento. ?Nunca me diverti tanto. O Grito Rock foi um sucesso e o show foi demais. Ninguém ficou parado. Fiquei impressionada com a simplicidade e a educação das pessoas que organizaram a festa. Até o proprietário e os garçons do bar foram assistir ao show e dançaram o tempo todo?, disse.
Branco ressaltou o fato da invasão rock em uma cidade tradicionalista como São João Del Rei. ?O evento foi surpreendente principalmente pelo fato do comparecimento em massa do público em uma cidade tipicamente carnavalesca?. Para o baixista da banda, a iniciativa poderia se estender à outras cidades, inclusive Formiga. ?Seria legal se todas as cidades fomentassem a produção de músicas novas com eventos assim, que prestigiem as bandas independentes. Em Formiga acho que tem de haver mais investimento em festivais de rock, pois é esse estilo que movimenta a música no mundo, querendo ou não é a musica mais ouvida no planeta?, completou.

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